Coisas que ficam enroladas
Para a sorte de mamãe, alguns idosos da casa de repouso onde Louisa trabalha gostam de
assistir ao A Pirâmide de 20 Mil Dólares na hora do almoço. Louisa faz anotações a cada
programa e as traz depois do trabalho. Ela sai às 16h, então tenho tempo de escrever as
palavras do dia nos cartões surrupiados antes que mamãe chegue em casa.
Esta noite, mamãe e Richard estão treinando na sala. Eu deveria estar no quarto
fazendo a lição de casa, mas em vez disso estou fazendo nós e pensando.
Foi Richard quem me ensinou a fazer nós. Ele aprendeu na infância, quando velejava, e
até hoje carrega pedaços de corda na maleta. Ele diz que quando está tentando resolver um
problema no trabalho, pega as cordas, faz os nós, desfaz e depois faz novamente. Isso
coloca seus pensamentos nos eixos.
Há dois natais, o primeiro dele conosco, Richard me deu meu próprio conjunto de
cordas e começou a me mostrar os nós. Hoje, consigo fazer todos os que ele sabe, até
mesmo o volta do fiel, que fiz invertido por alguns meses até acertar. Então estou atando e
desatando nós e vendo se isso me ajuda a resolver meu problema, que é você. Não consigo
imaginar o que espera de mim.
Se quisesse apenas saber o que aconteceu naquele dia do inverno passado, seria fácil.
Não seria divertido, mas seria fácil. Mas não é isso que diz seu bilhete. Ali, pede que eu
escreva a história do que aconteceu e tudo o que levou ao acontecimento. E, como mamãe gosta
de dizer, aí já seria uma caca completamente diferente. Só que ela não usa a palavra "caca".
Porque, mesmo que você ainda estivesse aqui, mesmo que eu decidisse escrever a carta,
não saberia por onde começar. Pelo dia em que o homem da gargalhada apareceu na
esquina? Pelo dia em que mamãe e Louisa se conheceram no lobby? Pelo dia em que
encontrei seu primeiro bilhete?
Não há resposta. Mas se alguém me obrigasse a escolher um dia para o início de toda a
história de verdade, eu diria que foi quando Sal apanhou.
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amanhã você vai entender
DiversosPara Sean, Jack e Eli, campeões de risadas em horas impróprias, de amor intenso e de questões extremamente profundas. A experiência mais bela que podemos ter é o misterioso. — Albert Einstein Como vejo o mundo (1931)