O primeiro bilhete
Seu primeiro bilhete estava escrito em letras miúdas, em um pequeno quadrado de papel
cartão que parecia ter sido molhado. Eu estava arrumando a mochila para a escola quando
percebi algo saindo do livro que eu pegara na biblioteca e não me dera o trabalho de ler —
sobre uma vila de esquilos, ou talvez ratos.
M:
Isso é dicil. Mais dicil do que imaginei, mesmo com sua ajuda. Mas tenho
treinado, e a preparação vai bem. Estou vindo para salvar a vida de seu amigo, e a
minha.
Peço dois favores.
Primeiro, você precisa me escrever uma carta.
Segundo, por favor, lembre-se de mencionar onde fica a chave de sua casa.
Essa é uma viagem difícil. Não serei eu mesmo quando encontrar você.
Fiquei assustada. Mamãe ficou assustada. Ela tirou a manhã de folga e trocou as
fechaduras, mesmo dizendo que "M" poderia ser qualquer pessoa, que aquilo não tinha
nada a ver com o desaparecimento da chave e que o bilhete poderia ter sido colocado no
livro por qualquer um, provavelmente anos antes, e nunca saberíamos por quê.
— Mas não é estranho? — perguntei. — Nossa chave foi roubada na sexta, e agora, na
segunda-feira, achamos um bilhete perguntando onde ela está?
— É estranho — disse mamãe. Ela colocou as mãos na cintura. — Mas, se você pensar
bem, uma coisa não pode estar relacionada com a outra. Alguém com a chave não teria que
perguntar onde ela está. Não faz sentido.
* * *
Ela estava certa, é claro. A ordem das coisas estava invertida. Mas em algum lugar da
minha cabeça começou a soar um sininho. Nem notei a princípio.
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amanhã você vai entender
AcakPara Sean, Jack e Eli, campeões de risadas em horas impróprias, de amor intenso e de questões extremamente profundas. A experiência mais bela que podemos ter é o misterioso. — Albert Einstein Como vejo o mundo (1931)