Untitled Part 35

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A primeira prova

— Eu não falei? — disse Jimmy no almoço, naquele mesmo dia, batendo alegremente no

balcão com as duas mãos. — Eles não acham que as pessoas contam mesmo os pães. Nem

em um milhão de anos achariam que alguém os conta!

A encomenda de pães viera com dois a menos. Contei duas vezes para ter certeza.

Jimmy foi até o telefone com um grande sorriso no rosto.

— Você fez o dia dele — sussurrou Colin. — Talvez a semana.

Ele estava dobrando fatias de presunto e arrumando-as sobre pequenos quadrados de

papel celofane.

Observei os dedos de Colin enquanto pegava cada pedaço de presunto. Ele não os

dobrava simplesmente ao meio como vi Jimmy fazer. Colin dobrava cada fatia quase na

forma de um belo leque. Quando comecei a olhar, não consegui mais parar. Era, de

alguma forma, hipnotizante.

— Falei com Annemarie ontem à noite — comentei. — Acho que amanhã ela volta para

a escola.

Colin fez um gesto positivo com a cabeça.

— Legal.

Era difícil imaginá-lo se escondendo para deixar uma rosa na porta de alguém, mas

acho que às vezes os garotos podem nos surpreender.

— Ei — disse ele de repente —, sabe de uma coisa? Estou cheio de comer sanduíches de

queijo com alface. — Ele olhou, culpado, para Jimmy, que ainda estava ao telefone falando

sobre os pãezinhos que faltavam. — Quer sair para comer um pedaço de pizza?

Agimos como se estivesse tudo normal, fizemos nossos sanduíches e os embrulhamos

como se planejássemos comê-los na escola. E então corremos para a pizzaria da rua de

baixo. Parece loucura, mas foi como se estivéssemos fazendo algo errado. Voltamos para a

escola enfiando pizza na boca e nos abaixamos ao passarmos pela janela de Jimmy, para

que ele não pudesse nos ver. Não sei por quê, mas ficamos tão empolgados que ainda

tínhamos o que mamãe chama de ataques de riso quando chegamos à escola.

Acho que entramos com tudo na sala de aula, porque todos interromperam a leitura

silenciosa para nos olhar. Julia revirou os olhos.

— Vocês estão atrasados de novo — disse o Sr. Tompkin, e então toda a nossa histeria

se esvaiu e fomos pegar os livros.

* * *

Sentei com o livro aberto sobre a mesa, pensando no bilhete no bolso do meu casaco: Hoje,

às 15h: Mochila do Colin. Sua primeira "prova". Eu tinha que olhar dentro da mochila dele

para descobrir o que estaria, ou não, esperando por mim.

Às 15h em ponto fui ao armário de casacos e peguei minha mochila para ir para casa. A

de Colin estava a apenas alguns cabides de distância. Dava para ouvir que ele conversava

com Jay Stringer no fundo da sala, perto da maquete da Rua Principal. Julia estava lá com

eles, tentando novamente convencer Jay do estúpido óvni de papel alumínio e de como ele

sobrevoaria a rua preso a um estúpido fio de náilon. O projeto dela ainda não havia sido

aprovado.

Alcancei a mochila de Colin e abri o zíper. Dentro, estava o fichário dele, forrado com

jeans e cheio de papéis que saltavam para fora, um livro e o sanduíche de queijo que não

comemos no almoço — enfiado entre os papéis e cheirando a picles. Nada fora do normal.

Senti o fundo da mochila e toquei algumas chaves em uma argola e um monte de

sujeira, talvez folhas esmagadas. Virei-a para a luz e vi que não era sujeira: eram migalhas.

Migalhas de pão.

Apalpei atrás da bolsa e percebi um calombo, enfiei a mão nas costas do fichário e tirei

dois dos pãezinhos de Jimmy. Estavam se esmigalhando por todo lado. Colin devia tê-los

tirado do saco quando ninguém estava olhando.

amanhã você vai entenderOnde histórias criam vida. Descubra agora