° Capítulo 1 °

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─ Tá, então é verdade? ─ a voz me desperta, obrigando-me a ir na direção da porta. ─ Meu menino acabou de casar com o Steven Adler?

Eu deixei um sorriso escapar, ao me deparar visualmente com a cena: meu pai, sentado no grande sofá, com todos os membros da família o rodeando. Seus país, seus irmãos, suas cunhadas e sobrinhos. Todos. Todos tirando Dantan e Steven, que permanecem na festa de seu casamento, que nem deve saber que meu pai "reviveu", que nem devem ter notado que os Bellini sumiram do ambiente.

Até mesmo Slash continua aqui, embora vestido apropriadamente, já não como antes, que vestia só um calção. E eu, ainda agradeço IMENSAMENTE por ele estar trajado com aquela peça - melhor só com uma peça, do que realmente nu.

Sentado em um canto, ainda está meu namorado somente a ouvir, acobertados pela sombras. Não sei se está entediado, não suportando o enorme encontro de família que isso se virou. Sei lá que merda está sentindo, não posso designa-lo através de seu semblante. Sua face coberta por cabelos não me diz nada, mas o nada prossegue me interessando.

Ninguém citou a meu pai que agora eu namoro. E eu não sei se devo explicar isso a ele. Há muitas coisas para explicar, e apesar que ele continua sendo atualizado do que passou dentro de onze anos constantemente, minha vida deve lhe ser diatada apenas por mim.

Não imagino sua reação, e eu não imagino com quais palavras irei dizer "pai, eu namoro". Não são simples frases. Não na nossa situação.

Garanto que a seus olhos eu não passo de um bebê, que precisa de seu cuidado e proteção ao extremo. Que carece de seus carinhos. E realmente necessito disto, ainda há um buraco sendo preenchido por massa corrida em meu coração.

─ Vou levar esse silêncio como um sim. ─ papai responde a si mesmo, tendo o restante se encarando, com expressões estranhas. ─ Diz muito do porque o Slash está aqui. ─ incrementa, e logo todos olham meu namorado. Meu pai descarrega seus olhos nele com desconfiança, um olhar em específico, que jamais vi ser colocada em uma de suas miragens. ─ Só não entendi porque estava sem blusa... Quase pelado.

─ Tio. ─ Luis começa, pousando sua mão no ombro de meu pai, como se fosse lhe consolar, estando com semblante de enterro. ─ É que é tipo assim-

Fernando tapou sua boca. O agarrou e o puxou do sofá. Com força e agilidade, arrasando-o para fora.

Meu pai ainda estampa o mesmo semblante.

─ Esses pias ficaram estranhos. ─ comenta, mirando os pais de cada um dos garotos.

Meus tios apenas se olham de escanteio, terminando por dar de ombros.

Olho Slash. Continua igual, e eu sei que merda Luis iria dizer.

"Tio, a Cris anda saindo com um rockstar ex-drogado".

Se eu te pego Luis... Não sobraria nem o pó da rabiola dos seus cachos raspados.

─ Tá. ─ ele diz, e todos continuam apenas a olha-lo. ─  Vocês venderam meu impala, minha moto, e mais um caraio a quatro que era meu, correto? ─ seguidamente, ao sermos questionados, todos acenamos que sim. ─ É a minha guitarra? A minha Lili?

─ Opa, opa, opa! ─ me meto na cena, avançando para o cômodo qual assistia. ─ Minha Lili! MINHA! ─ reforço, acentuando com frenética a palavra, também, batendo em meu peito, significando a quem o instrumento pertence.

─ Tá maluca, garota? ─ meu pai pede com deboche, me fitando como se isso fosse uma piada. ─ Falei que ela seria sua quando eu morress- ─ ele pensa bem antes de prosseguir, dando uma pausa ao rever a suas palavras. ─ Ah, é... Meio que eu morri.

─ Então. ─ confirmo e cruzo meus braços, começando a bater meu pé contra o chão, sendo um tick nervoso. ─ Você morreu, e a Lili é minha.

─ Agora eu voltei. ─ rebate. ─ A Lili ainda é minha.

─ Nós seus sonhos. ─ rolo os olhos. ─ Quem ficou famosa usando aquele caralho fui eu.

─ Não fala assim dela! ─ exclama, se levantando. ─ A coitadinha tem sentimentos!

─ Ah, pelo amor de Deus! ─ minha avó interfere na situação, puxando meu pai pela blusa, e sentando mais uma vez. ─ É só uma guitarra!

─ É a minha guitarra, vó!

─ Fui eu que paguei!

─ Como eu disse... Eu que fiz sucesso com ela! ─ controverso o que meu pai acabou de falar. ─ E olha que tá sendo um puto de um sucesso, hein!

─ EI! ─ semigrita, revelando-se ofendido. ─ A minha banda também tinha sucesso! Só que não investimos muito nele porque todos éramos casados, e tínhamos filhos para criar e sustentar.

─ Não é só o Rio Grande do Sul que conhece a gente. ─ digo. ─ Chegamos aos ouvidos do Crüe pra você ter uma leve noção.

─ Os olhos de papai esbugalham, e ouvir a notícia, parecia ter acabado de ver um fantasma. ─ Mentira?! ─ pede, com uma voz abobada.

Ergo os ombros, sorrindo de escanteio.

A cena é furtada. Transfigurada para um mero - conquanto não tanto mera - abrir de porta. Sendo tão inesperada quanto um arco-íris dentre um dilúvio.

O mero abrir da porta, foi de zero a cem. O mero abrir da porta, era o mero Mötley Crüe levado a nós por Alice.

O nervosismo desmancha por meu corpo. Ainda não me acostumei com a sensação de te-los tão próximos. Embora, já poderia incrementar que Alice se tornou uma deles. Uma Crüe mirim, é assim que a titularei.

─ E ai, pessoal! ─ ela exclama, cheia de ênfase e animação.

Ela gosta dos Bellini. Os Bellini adoram ela. Ela é minha família, e os outros Bellini também, praticamente, se tornaram uma família para ela.

Ela sempre viveu infiltrada entre nós. Como uma agente ou espiã. Estava em festas, encontros de domingo, jantares ou quaisquer reunião. Podia passar "despercebida", mas fazia falta ao não estar em um deles, e de certo modo, pelos menos a mim, era tedioso estar num destes encontros sem minha melhor amiga.

─ Oi, Alice! ─ todos a cumprimentam, ignorando, ou não percebendo a banda presente no cenário, porém, eu notei alguém a mais, prestes a fechar a porta, ainda de costas.

─ Pera ai. ─ diz meu pai, me encarando, porém, nitidamente eu procuro reconhecer a outra figura. ─ É a Alice? Aquele tareco com quem você brincava?

─ Isso mesmo! ─ ela confirma sorridente, se aproximando, e passando o braço em meus ombros.

Alice olha meu pai. Eu olho o rapaz junto ao Mötley. E simultaneamente, nos tocamos a quem estávamos nos direcionado.

PUTA MERDA! ─ ambas gritamos, olhando uma a outra com espanto.

─ É TEU PAI?! ─ Alice grita, formando uma pergunta de resposta óbvia, contudo confusa a ela.

─ É O RAZZLE?! ─ questiono, algo também taxado como óbvio.

O baterista me mira, sorri, e acena.

E deste modo, outra dose de nervosismo sobrecai em mim.

❛ ANJO CAÍDO 2 ❜ ‣ Slash Onde histórias criam vida. Descubra agora