° Capítulo 9 °

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Descemos as escadas, no enquanto, eu obrigava na mara meu namorado carregar tudo o que ele precisaria para uma noite tranquila de sono, totalmente sozinho.

Ele reclamava, e reclamava mais a cada degrau, por ter que carregar uma montueira de tralhas.

─ Para de reclamar, macho vei fedido! ─ semigrito, farta.

Slash larga tudo no tapete da sala, erguendo as sobrancelhas, e encarando-me com discriminação.

─ Eu? ─ diz, com serenidade, mas total razão carregada em sua voz, apontando para si. ─ Fedido? ─ meu namorado desloca as mãos para os quadris. ─ Por um acaso, você tomou banho hoje, dona Cristina Bellini?

─ Não. ─ respondo, com o sorriso mais iluminado do mundo.

─ Ainda bem que eu não vou dormir com você. ─ agradece, balançando a cabeça.

─ Eu que agradeço. ─ retruco, selecionado minhas palavras ao dizer, por notar movimentação na cozinha, e pela luz estar ligada. ─ Você ronca pra caralho.

Avanço no sentindo da cozinha, indo conferir quem a ocupa, por pura curiosidade, e por cautela - de certo modo.

Calço meus pés no solado da porta, ficando meio escondida atrás da abertura da parede, enquanto espio no sentindo da mesa.

Somente avisto meu pai, usando seu par de óculos; com um coque frouxo, feito e finalizando a partir de seu próprio cabelo.

Pilhas de porcarias estão sobre a mesa, bem a sua frente.

Pelo menos, ao meu ver são porcarias, mas a ele, é uma maneira de ver com seus olhos, o que decorreu certeiramente dentro destes onze anos.

Há álbuns fotográficos e fitas. Quinquilharias e mais quinquilharias.

Caminhando minha visão pelas tralhas postas na mesa, escuto seu típico limpar de garganta, seu agudo pigarrear.

Olho meu pai, engolindo tão a seco que ouvi minha tentativa de engolir a saliva há quilômetros daqui.

Papai me mira, sobre as lentes estreitas de seus óculos, com a testa formada em uma ruguinha.

Então, mergulho numa piscina de nervosismo.

Eu não sei mesmo. Não sei o que dizer, nem como agir diante tudo que pensei.

E a piscina que acabei de mergulhar, provavelmente, é de óleo diesel, já que está começando a pegar fogo.

Sua expressão decai, tornando-se agradável, formando-se naquela em específico, que trás seu olhar zeloso e sorriso meigo estampado em sua face - embora nem isto, apagou minha chama interna, nomeada por nervosismo.

─ Quer ver comigo, mia bambina? ─ ele pede, erguendo um dos álbuns que continua fechado, com sua mão direita.

Aceno em confirmação e me aprochego, entrando no cômodo.

Pouso minha mão numa cadeira qualquer, indo a levar para o lado de meu pai, mas, cometi o equívoco de por meus olhos nele, mesmo que de escanteio, eu o assisti apreensivo, escondendo os lábios um contra o outro.

─ Tina... ─ meu pai coxixa, hesitando, tentando se conter, mas no fim, não evita de falar: ─ Tem problema, se eu quiser te pegar no colo?

Meu sorriso escapou. Um dos quais são enormes, um dos poucos que revelo meus dentes.

─ Claro que não, pai. ─ respondo, indo a ele no automático.

Meus braços se enlaçam em seus ombros, enquanto os seus rodeiam meu tronco. Repouso em sua coxa direita - que é enorme devido a sua proporção muscular - ajeitando as minhas pernas, no resto de espaço que sobra em seu colo.
Pendo meu corpo na direção do seu, deixando minha cabeça em seu ombro.

❛ ANJO CAÍDO 2 ❜ ‣ Slash Onde histórias criam vida. Descubra agora