° Capítulo 16 °

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─ Puta... ─ meus lábios formam o xingamento, dando uma pausa para assistir a loucura da festa. ─ Merda...

Meu olhar estava fundo no terreno da minha residência, e meu cérebro recaptulava as imagens de festas antigas de papai. Eu juro que o cenário é idêntico. Destruição, rock, drogas, álcool, punks e este tipo de pessoas específicas... E até, sexo?

Cheira a sexo. Isso mudou. Os caras nunca dariam uma festa abordando esse tema com seus filhos nela. Da banda, o único que não tinha crianças era o baterista, um moreno bonitão, mas o que importa agora? Quem era criança já tem lá seu vinte e poucos anos.

Drogas nunca deixaram de ter. Papai nunca usou, e as abomina como os outros da família. Mas ele sempre me deixou longe desse tipo de situação. Toda festa eu estava enfiada abaixo de seu braço. Ele não bebia, e não se divertia como os outros, ele cuidava de mim, como os outros pais também faziam.

Havia uma mesa, especial para quem tinha filhos. Os caretas - e o baterista gostosão - diziam ser a mesa dos papais. É realmente era a mesa dos papais.
Eu quase não brincava com as outras crianças, e na maioria das vezes, eu não gostava de ficar muito longe de meu pai numa situação dessas.

─ Eu sentia tanta falta disso... ─ comento a mim mesma, largando a mão do meu namorado, para que pudesse dar alguns passos a frente.

Eu continuava imersa a visão da minha casa, imergida em uma nostalgia marcante.

As messas distribuídas, luzes, risos, gritos, a casa e o terreno inundados de pessoas.
Parecia uma perfeita miragem. Uma pintura de minhas memórias.

─ Do que? ─ a voz dele aparece ao meu ouvido, ele aparece ao meu lado.

Slash não mostra-se feliz. Nem triste. Nem preocupado. Nem quaisquer semblante demonstrativo oucupa sua face. Só o nada. Um nada maçante e chateante.

─ Disso. ─ me refiro a festa, realizando um gesto grande com as mãos, como se segurasse uma bandeja em cada uma delas.

─ Ah tá. ─ ele resmunga, e imaginei que ele se conteu para não rolar os olhos.

Ele gosta de festas. Todos gostam. Ou penso que noventa e nove por cento de porcentagem mundial, goste. Festas são legais.

Me volto a meu namorado, aproximando-me. Pouso meus lábios em sua bochecha, marcando a região através de um beijo avermelhado de batom, e os braços de Slash se enlaçam a mim, querendo me manter perto de si. Mas não foram o bastante para me segurar. Eu escapei e corri, meio que me jogando na multidão.

Eu comecei andar, procurando meu pai. Mas só encontrei um nada mais resistente que o semblante de Slash. E só continuei, caminhando.

Ao passar por mesas, eu ouvia meu nome, então prava, e alguém me cumprimentava, e em seguida descarregava uma chuva de elogios em mim. Você ficou linda. Você é a cara do seu pai. Sempre soube que você chegaria longe, parabéns. Você toca e canta muito bem, parece seu pai, não na aparência. Foi o que mais acariciou meus ouvidos.

A cada menção citando que pareço com papai eu me sentia digna, mais orgulhosa de ser sua filha, de ter um legado semelhante ao seu.

Ouvir isso me deixa feliz. Ouvir que me parece com ele. Que não carrego algo de Ester - as vezes cheguei a matutar o oposto, pois o que tem de ruim nela, é o que tem de ruim em mim.
Não herdei isso de meu pai, ou do vovó ou da vovô. Isso vem só dela, só me custa a acreditar isso.

Eu caminhei mais, procurei e perguntei por meu pai. Sempre obtinha o nada. A única luz surge a minha mente, a luz de dentro de casa, e a sigo, pelas portas do fundo.

❛ ANJO CAÍDO 2 ❜ ‣ Slash Onde histórias criam vida. Descubra agora