° Capítulo 25 °

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No destaque da cena anterior, meus bons pensamentos acreditam que eles não a repararam. Assim, Otávio se veste, acabando com o único vestígio.

A cena não me incomoda. Mas é envergonhadora.

─ Não sei como essa menina se mete em tanta merda. ─ Axl rosna as letras literalmente, com a mandíbula apertada. ─ Não sei como você vem arrumar as merdas dela.

Slash para, o que levou o outro, a efetuar a ação também.

─ Porque ela é minha namorada. ─ Slash rebate, com uma expressão mais leve que a de Axl, mas isso não significa que não está irritado.

─ E por que caralhos ela é sua namorada, Slash? ─ outra vez Axl rosna, mal piscando de raiva.

─ Porque a gente se ama. ─ meu namorado rola os olhos. ─ Idiota.

─ E por que você ama ela? ─ Axl continua.

Não sei o que ele quer, o que requer erguendo indubitáveis quesitos; e no fundo isso meramente interessa-me. Mas sua feição amargurada, me indica algo do tipo, onde ele quer que Slash repense suas escolhas.
Não sei a quem fim, só sei que pode ser isso.

Repleta a cena, só assisto acompanhada dos outros garotos - Nikki não tão garoto como ele pensa ser - em meu torno; pois realmente, não há razões para tentar interferir.

Slash cerra as sobrancelhas, mais confuso que todas as vezes passadas, em que alguém lhe pediu algo difícil, ou realmente questionador - feito agora.

As vezes, quero saber porque ele me ama. Me questiono sobre isso durante a madrugada, quando há falta de sono. Também não sei se ele se pede porque o amo, mas acredito que a reposta, para nossa possível dúvida, seja a mesma.

Amor sempre será amor. E indescritível e imbatível. Nunca existirá comentários ou romances o suficiente para dizer o que é, de fato.

É mágica, na minha opinião. E isto me basta. Saber que é mágica.

─ Está com ciúmes da garota, Axl? ─ a voz de Nikki quebra o gelo do cubo que estamos, rompendo a gelada troca de olhares de Slash e Axl.

Sua voz nos lembra que ele continua ali.

Avisto-o. Ele continua nas grades, com os cotovelos apoiados nas barras, com uma sonolência súplica esculpida no rosto.

─ Até aonde sei... ─ Nikki prossegue, entre um bocejo. ─ O Slash não gosta de caras.

O comentário do baixista, leva Axl a rolar os olhos, entre uma bufada persuasiva, e logo, leva-o a sair da delegacia.

─ Obrigado por nada, Axl. ─ Slash resmunga, olhando para trás, antes de começar a se aproximar.

─ Pensei que era brincadeira quando falavam do temperamento dele. ─ diz Otávio, com um leve bico de pato tendo formato em seus lábios, mas eu não podia observar o garoto, minha visão foi grudada em meu namorado no instante em que ele passou pela soleira da porta.

Ao se aproximar, nada de novo. Seu rosto acobertado pela cartola e cabelos, óculos de sol tampando seus olhos.

Eu queria tanto olhar em seus olhos. Os fitar através dos meus. Desifrar suas emoções por eles. Mas tudo é arrebatado por lentes escuras. Sem emoções, sem enigmas, sem seus olhos.

Slash para perto da mesa, caçando algo em seus bolsos.

Ele arremessa na mesa um maço de cédulas, envolvidos por uma borrachinha amarela.

─ Vamos embora, Cristina. ─ meu namorado resmunga, cruzando os braços.

Otávio pega um molho de chaves, abrindo a algema que me acorrentava na janela.

A algema cai de meu pulso, e eu o seguro, esfregando minha mão contra minha pele superficialmente queimada.

Então me levanto, encarando Slash. De repente, aquele barulho estranho de ranger de grades começa, vindo por Sixx, que se agarra nelas, balançando-se.

─ EI! EI! EI! ─ exclama, num tom suplicante de desespero. ─ E EU?!

─ Estou pagando a pensão da minha namorada. ─ Slash rebate. ─ Não a sua.

─ MAS EU SOU SEU AMIGO!

─ Slash bufa a partir do que ouviu. ─ Você vai ficar aí! ─ dizendo, ele vai a frente das grades. ─ Fica levando a minha namorada pro mal caminho!

─ Eu, hein. ─ Nikki ergue as sobrancelhas ao dizer. ─ Quando cheguei lá, ela já estava sentada com uma bacia de pipocas e uma cuia de chimarrão.

Meu namorado vira as costas, e ao decorrer, do início de berros suplicos de Sixx, notando que seria deixado, tenho quase certeza que virou os olhos.

Vou atrás dele, abandonando a delegacia, abandonando Nikki preso; sem remorso algum me correr por dentro.

O que me corrói, me destrói, e não ter algum contato direito com Slash.

Aquela película de plástico escura, barrando contanto visual, ocultando seus olhos, negando uma conexão; e nossa, como odeio isso. Odeio esses óculos. Gostaria de arranca-los de seu rosto, obrga-lo a me olhar.

Nunca odiei tanto um par de óculos escuros. Nunca odiei tanto um momento ao lado dele.

Estávamos na calçada. Ele a minha frente, e eu praticamente correndo atrás dele.

Uma espécie de afiliação sobe pela minha garganta, vindo do meu coração, tocando meu cérebro. E então, toquei sua mão, a agarrei como jamais havia feito.

Ele para, e consigo entrelaçar nossos dedos, achando que tudo já estaria resolvido.

─ Slash. ─ tento, enquanto se vira para mim.

─ Não. ─ ele fórmula, o não mais horrível e duro que tocou meus ouvidos, soltando minha mão no ar. ─ Só não.

─ Porra!

─ Você passou a noite passada com outro cara. ─ Slash se afasta de mim, a medida que fala. ─ Um cara que é meu amigo. ─ Eu não sei aonde estavam, ou como estavam. ─ afasto meus lábios, tentando outra vez e ele eleva o tom de voz. ─ Caralho, eu morri de preocupação!

─ Amor! ─ exclamo, tocando em seus ombros. ─ Foi do nada! O Nikki quis sair e-

─ Você se esqueceu de mim? ─ as sobrancelhas arqueiam. ─ Se esqueceu de avisar? Esqueceu da sua família?

Palavras, todas ditas em ton despreocupado, mas havia raiva. Eu sei que havia. Bem lá no fundo. Escondida e reprimida, do jeito que amaria estar.

Outra vez, meus lábios abriram, mas o som foi tomado por suas palavras.

─ Eu fiquei preocupado! Tentei me reconfortar inúmeras vezes que vocês foram no mercado pegar refrigerante, e acabei dormindo naquela merda de sofá dos seus avós! ─ seu pulmões procuram ar, fazendo seu peito arquejar, e seus lábios exalam uma brisa quentinha, como de verão. ─ Não sabia o que ele poderia fazer com você, no que poderia fazer você se meter, até porque um dia eu já fui como Nikki! ─ Slash faz uma pausa, e podia sentir toda sua ira transpassar as lentes daqueles óculos, enchendo meu coração de buraquinhos. ─ Eu só mudei quando te conheci.

Insisto em me aproximar, e ele me recusa, indo para trás.

─ Você faz tanta pauta sobre diálogo, sobre conversar, e no fim... não faz porra nenhuma.

Ele vira as costas. E eu, me toquei, que nada foi resolvido.

❛ ANJO CAÍDO 2 ❜ ‣ Slash Onde histórias criam vida. Descubra agora