° Capítulo 24 °

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─ Da pra me tirarem daqui? ─ pede Nikki uma vez a mais, no interior da sala, agarrado nas grades.

O ignoramos mais uma vez.

─ Precisa mesmo de algema? ─ questiono, movimento meu pulso envolvido numa algema, presa a janela, próxima a cadeira que estou sentanda.

─ Desculpe. ─ diz o garoto, ainda meio tímido. ─ São as ordens do delegado. Eu ainda tenho que seguir elas.

Suspiro um pouco cansada.

Na verdade, exageradamente, mais que um pouco cansada ou exausta.

─ Por que ela pode ficar aí fora e eu não? ─ Nikki volta com seus questionamentos, igualzinho a uma criança imperativa.

─ Porque eu sou mais fã dela do que de você. ─ Otávio rebate, rindo, e o olhando de relance.

─ Nikki faz uma careta. ─ Isso é machismo! ─ ele rebate, sacudindo as grades da sua cela.

─ Machismo só rola com mulheres, Nikki. ─ rebato, continuado plena diante de seus papos furados.

─ Isso é pior então! ─ ele continua, fazendo o guri entre nós rir somente mais vezes seguidas. ─ É machismo entre homens!

─ Nikki. ─ miro-o severamente. ─ Só cala a boca que é melhor.

─ EU QUERO MEU ADVOGADO! ─ Sixx continua berrando, e nos, o ignorando.

─ Quer uma cuia de chimarrão? ─ Otávio oferece, então se virando para trás, alcançando a mesma e seus apetrechos.

─ Pode ser. ─ respondo, assitinto ele encher a cuia nas suas mãos.

Com uma mão, Otávio me estica a mesma, e tendo uma única mão livre, pego-a a partir da mesma.

─ Continua a me contar sobre sua coleção de discos e não sei mais o que... ─ sigo o assunto, não tão convencida a me render ao tédio.

─ Ah, sim! ─ ele confirma, elevando as sobrancelhas de modo ligeiro. ─ Havia me esquecido! ─ Otávio da uma coçada na barba rala de seu queixo. ─ Eu tenho uma colação de pôster também... Alguns do Elvis, Cazuza, da Rosa Tattoada... E até seus! ─ suas finas e pálidas bochechas coram. ─ Digo, da banda... E admito, que você é muito mais linda pessoalmente... ─ com mais força, Otávio volta ficar vermelho, se enrolando nas suas próprias palavras. ─ Não que em fotos você não seja bonita!

─ Rio de sua ingenuidade, mas não em deboche, e sim porque o torna meigo. ─ Obrigada. ─ resmungo, e volto a ingerir o mate através da bomba, ouvindo o rapaz.

─ Eu adoro as músicas da Abaddon!

Faço uma pausa para sorrir, e agradecer outra vez.

─ Que bom. ─ respondo, percebendo quantos elogios recebi da boca de Otávio.

Foram para as músicas, para os solos de guitarra, para a banda ao todo, e para mim. Achei comovente, embora diferenciado esse encontro repentino com um fã.

─ Eu quero sair daqui! ─ escuto Nikki a resmungar de novo, com uma voz de desespero; tal coisa que me fez pular sentada, assustando-me e me fazendo engasgar com o chimarrão que descia por minha garganta.

Afasto a bomba de meus lábios, e passo a mão em meu pescoço, em uma leve massagem, ao fim de aliviar a pressão que minha própria garganta fez ao entalar aquele líquido.

Não ligamos para isso também, até porque, é só Nikki fazendo drama. Não tem muita razão para dar corda.

Otávio continua falando. Falando tanto, que praticamente me obriga a me perder entre suas palavras. Só aceno, concordando, fingindo prestar atenção até tomar por completo a cuia que havia me oferecido.

❛ ANJO CAÍDO 2 ❜ ‣ Slash Onde histórias criam vida. Descubra agora