° Capítulo 7 °

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Ao afastar a porta, minhas narinas detectaram o cheiro maravilhoso de pão assando, já meus ouvidos, a desgraça de reclamações, vindas a partir da cozinha.

O casal "principal", que roubou algumas cenas que não deve ser... Até porque, estes pombinhos já estão de lua de mel, então, foco nas vozes.

─ Fabrício! ─ ouço a vovó. ─ Por que você não vai arranjar algo para fazer, hein?! Fica aqui me incomodado!

─ Eu não estou te incomodando, mãe! ─ ele rebate.

─ Você que acha... ─ a mesma resmunga, totalmente sem paciência.

Avanço para o próximo cômodo, que por ventura, é a sala de estar, e o engraçado, é que o espaço está totalmente inocupado - e pela falta de barulhos, acredito que seja assim também noutros lugares da casa.

Slash, passa para dentro, me seguindo sorrateiramente e então, ele sai correndo, subindo escada a cima como um ratinho amedrontado.

Balanço a cabeça em negação, não crendo no que acabei presenciando.

Continuo avançando, continuando a ouvir as reclamações de minha avó.

Paro na porta da cozinha, observando a situação.

Meu pai, de costas para mim, de braços cruzados, e minha avó, a frente dele, também de braços cruzados.

Vovô, com seus cachinhos esbranquiçados - quais um dia já tiveram coloração de ruivos vibrantes - presos em um coque, e tem alguns fios rebeldes lhe cobrindo a testa. Suas sobrancelhas finas se mantém pressionadas, também acabando por pressionar seus grandes olhos cinzas. Seus lábios avermelhados e um tanto carnudos formam uma linha reta. Por suas bochechas vermelhas, digo que ela está brava, e quando isso acontece, suas sardinhas ficam ainda mais visíveis.

Ela, veste um daqueles de seus vestidos pretos, que tem mínimas bolinhas brancas, que vão até seus joelhos. A cima da peça, há um avental amarelo, que cria contraste em sua pele parda, e qual está um pouco sujo de farinha.

Meu pai, como sempre, naquele seu estilo "largado", independe de onde esteja ou do que esteja fazendo, usando calções largos, uma regata e descalço.

─ Você vai ter que enfiar nessa sua cabeça dura que ela já é maior de idade! ─ vovó fala, sem citar que estou aqui, mas, seu olhar bate em mim de raspão. ─ Ela já é uma mulher! Não vai ficar te pedindo permissão para sair de casa ou te explicando cada passo que der!

─ Mas eu sou pai dela! ─ meu pai rebate, em um tom claro de desespero.

─ Você não ficava me dando explicações só porque sou seu pai. ─ escuto a voz de meu avô, vindo atrás de mim.

Olho-o, vendo seus olhos castanhos refletidos sobre a lente de seus óculos de grau.

Infelizmente ele é míope. Papai tem uma leve miopia também. O que me gerou a ter uma grande miopia. Odeio isso. Genética pode ser uma merda as vezes.

Meu vô é aquele tipo de senhor que usa roupas típicas: camisetas de botões, calças sociais, e geralmente um sapato - também social - , ou em certos casos, chinelos e meias - principalmente dentro de casa.

E para ser exata, sua aparência também é bem típica. Óculos, branco, cabelos brancos sempre aparados, um nariz grande, lábios finos acobertados por um bigode, e linhas de expressões, sendo marcas lindíssimas do tempo; assim como minha avó também as tem, e como todos os outros de mais idade, que também carregam estas marcas.

Ao notar os pés de vovô calçados em sapatos, o bigode branco feito, e uma boina posta em sua cabeça, tive a rápida ideia de que ele iria a um bar jogar cartas, e conversar com os amigos.

❛ ANJO CAÍDO 2 ❜ ‣ Slash Onde histórias criam vida. Descubra agora