Capítulo 6

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Lucien

As vezes o preço que você paga por ter um chefe bundão custa caro.

Anos atrás, eu viajava para lugares perigosos, enfrentando homens que seriam capazes de arrancar a minha cabeça fora sem nenhum remorso e me torturar até a morte ou vice-versa.

e agora...

Bom, agora eu tenho que ficar aqui, parado e olhando Emily em uma crise de choro durante horas conversando com o Clodovaldo.

- Emily, chamar alguém de mocoronga e cafona nem é de fato um xingamento - falo, a vendo chorar ainda mais alto.

- EU FUI MÁ, LUCIEN! - esperneia.

Para ser sincero, até que era um pouco divertido porque era a primeira vez que eu via um caso de uma pessoa que se sentia mal por "xingar" alguém.

- Você não foi tão má assim..

- Você acha mesmo? - me olha com esperança, os olhos grandes e castanhos focados em mim e olho para o teto.

- Bom, talvez ela esteja chorando no banho agora pelas coisas que você disse..

- AI MEU DEUS! - choraminga, Emily se levanta saindo da sala e volta minutos depois com um espelho enorme, sentando-se na frente dele.

- O que é isso agora, menina?

- Você disse que eu choro feio - ela responde e começa a chorar de novo, só que agora se olhando no espelho.

Eu realmente tô começando a acreditar na hipótese dessa garota ser de alguma espécie de ser humano diferente, alguma que deu errado.

- Oh céus! Lucien - ela sussurrou - Parece que você tem razão! - e volta a chorar - Eu sou terrível! choro feio e xingo as pessoas!

- Eu estava apenas brincando naquele dia, Emily..

- Mesmo?

pondero por alguns segundos, me perguntando se quero acabar com a minha diversão agora ou não, Emily ainda me olha esperando pela sua resposta e seguro a risada para mim.

- Bom, tem muita gente no mundo que chora feio também - digo, para vê-la voltar a chorar e se olhar.

- Você é cruel, Lucien! eu te odeio!

- Nossa, Emily! você está xingando outra vez? que menininha malcriada... - ela abre a boca e leva as mãos até os cabelos os puxando.

- Ai! Deus me desculpa.. foi culpa dele!

- Minha culpa o caralho! você é má.

- VOCÊ QUEM ME ENSINOU A PALAVRA MOCORONGA, LUCIEN!

- Mas você falou porque quis, assuma seus erros como uma adulta - falo.

Emily chora em silêncio e se joga no chão, eu não conseguia acreditar que ela estava mesmo triste por ter xingado Laila, mas pareceu sério, então, respirei fundo e me levantei da poltrona me agachando atrás dela que chorava se olhando no espelho, deixando minha cicatriz bastante exposta e olhando em seus olhos através dele.

- Emily - a chamo.

- Sim?

- Você não é má por ter chamado a Laila de mocoronga, ela tratava você como se fosse bicho.

- Você não me trata muito diferente, Lucien - diz.

- Isso não é tão verdade assim..

- Você me olha como se eu fosse um bicho em extinção.

- Hum, vamos voltar ao foco da coisa - digo, tentando não me sentir culpado - A Laila mereceu, e tem motivos piores para se chorar.

- Mas me sinto culpada quando insulto alguém..

- Não deveria, seu coração é bom demais, garota.. aquela mulher não merece nem que você se gaste assim por causa dela.

Ela suspira e se senta, virando-se de uma vez e ficando próxima à mim, nossos rostos ficando perto demais um do outro, eu podia sentir sua respiração quente tocar a minha pele e fazer meu sangue rugir, deixando os pelos da minha nuca arrepiados.

Os olhos de Emily caíram em meus lábios e travei o maxilar a olhando dentro dos olhos, sua pupila dilatando à medida que os segundos passavam e a sensação de estar sendo atropelado que sempre me perseguia estava mais forte, cada vez mais intensa.

eu me sentia preso em um encanto.

Ela abriu os lábios levemente, apenas uma brecha como se não estivesse conseguindo respirar, mas eu também não estava, não com ela tão perto de mim assim, uma absurda vontade de tocá-la tomando conta de mim.

O mundo lá fora não existia mais, apenas a mulher na minha frente e seus lindos olhos.

- Você não chora feio - sussurro, tentando recuperar a minha voz - Você é linda, Emily.

ela pisca várias vezes se afastando para longe e então, eu caio em si, o que diabos eu estava fazendo?

- E-eu.. - gagueja - Vou tomar um copo d'água.

A vejo sair da sala às pressas, provavelmente deve ter caído em si e agora estava arrumando uma forma de fugir do constrangimento que havíamos ficado.

Aperto meus punhos e fecho os olhos, os dentes cerrados para conter o que eu estava sentindo agora, eu sabia bem o que era, desejo.

eu queria beijar a esquisitinha.

Meu celular toca me arrancando desse transe sem fim e agradeço, vendo a mensagem de Christopher pedindo que nos encontrássemos no bar daqui à alguns minutos.

Estico os lábios pensando em algo que eu possa fazer para não deixar Emily triste e sozinha e disco o número da sua irmã, pedindo que ela e as outras meninas viessem para consolá-la e fazer companhia.

Tomo um banho rápido para esfriar minha cabeça e visto as roupas básicas de sempre - calça jeans surrada, uma camisa de manga curta e uma jaqueta de couro preta - coloco meus anéis em meus dedos e saio para fora, encontrando Emily sentada na sala conversando com a planta.

Ela me olha de cima à baixo lentamente e engole em seco, mudando seu olhar para outro canto e confirmando minhas suspeitas, Emily estava com vergonha do que ia acontecer mais cedo.

- Você vai sair é? - murmurou baixo.

- Vou, chamei as meninas para ficarem com você.

- Está bem, se você quiser tirar a noite toda de folga, tudo bem..

travo o maxilar com raiva de mim mesmo, parabéns Lucien - penso - ela nem consegue ficar perto de você.

- Eu não vou demorar - aviso e caminho para fora, subindo em minha moto e saindo daqui de uma vez por todas.

Para Christopher ter me chamado assim, tão repentino, só podia ser para se lamentar por causa da esposa, e como um bom amigo, era meu dever escutá-lo sobre o casamento terrível que ele tinha, mesmo sabendo só o superficial de tudo.

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Boa leitura! ❤

HERDEIROS #3 - TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL Onde histórias criam vida. Descubra agora