Capítulo 53

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Emily

Lucien está há exatamente meia hora desde que chegamos em casa calado, parado na mesma posição e chorando em silêncio. Ele não faz o mínimo de barulho se quer.

A chuva respinga contra as portas de vidro da sala de estar e o faço vestir um moletom pelo frio, sentando ao seu lado logo em seguida e entrelaçando nossas mãos. Ele parecia um boneco, deixando-me fazer qualquer coisa com ele.

– Querido? – faço um breve cafuné em seu cabelo e deixo meu queixo descansar em seu ombro – Nós temos que conversar.

– Eu sei.

– Não tenha pressa em contar, estou esperando pacientemente.

– Meu pai abandonou à mim e a mamãe na época em que ela estava grávida de Gregory, meu irmão mais novo. Eles dois brigavam muito por conta dela não se cuidar direito, era uma gravidez de risco e mamãe não queria um segundo filho.

Lucien pega as minhas mãos as retirando de seus braços e se afasta, levantando da cama do nosso quarto. Seu olhar estava triste e doía em mim vê-lo tão atingido.

– Está tudo bem.. – sussurro.

– Ele foi embora depois de se cansar das discussões e da doença que mamãe tinha, e então Gregory e eu viramos seus alvos. Ela criou tanta raiva de papai e queria descontar em alguém, e quem melhor do que as duas crianças que tinham o sangue dele correndo em suas veias?

– Lucien..

– Começou com pequenas coisas, ela nos batia sem motivo algum e às vezes nos deixava passando fome de propósito, só pelo prazer em nos ver fracos e passando mal de fome. Ela havia parado de vez com seus remédios e seus ataques se tornaram mais recentes e um dia eu..

Minha respiração sai dura no ar, meu coração está batendo tão forte que sinto que poderia parar ou sair pelo meu peito se continuasse nesse ritmo. A bile embrulhava meu estômago à medida que minha mente imaginava como foi para Lucien, apenas uma criança, passar por tudo com sua mãe, a mulher que devia dar-lhe amor e proteção, a mulher que o gerou dentro de seu ventre.

Minha vista está embaçada, mas ainda posso notar o vazio em seus olhos. É como se ele não sentisse mais.

– Eu a peguei trancada dentro do banheiro com meu irmão mais novo enquanto ela cortava os pulsos dele. Emily, a minha mãe tentou matar meu irmão mais novo.

O choque me atinge com tanta força que meus pulmões param de trabalhar, o choro se instala em minha garganta e a queima, exigindo saída.

– O-o que você fez?

– Eu a tirei de longe dele e eu mesmo fiz os pontos com um kit que tínhamos em casa. Ou era isso ou ele iria morrer, e eu não podia perdê-lo.

– E foi aí que você assumiu o papel de mãe..

– Sim, eu o protegia dela e nunca a deixava perto dele sem minha supervisão. Doía em mim ter que explicar os porquês daquela louca, ou inventar alguma desculpa para o que ela fez com ele.

Lucien pisca algumas vezes, sua postura está tensa e uma lágrima solitária rola pela sua bochecha, mas era o seu olhar que me fazia desabar. As névoas pretas os cercavam como um pedido de socorro.

– Sinto muito – murmuro, engasgando em meu próprio choro – O que.. aconteceu depois disso?

– Ela não conseguia mais machucá-lo, então focou somente em mim.

– C-como assim?

Ele caminha até mim, pegando minhas duas mãos e as beijando, seus dedos escorrem pelas minhas bochechas úmidas e suspiramos juntos.

HERDEIROS #3 - TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL Onde histórias criam vida. Descubra agora