Capítulo 40

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Lucien

A multidão de convidados se espalha pelas cadeiras postas na praia à caminho para o altar, onde há um arco cheio de rosas de diferentes cores, é algo simples, mas parece tão bonito e clichê. Uma mesa de madeira está posta ao meio e logo atrás está o padre, as cadeiras são todas brancas com uma rosa presa em cada uma. Lençóis brancos grudados no arco voam com o vento e as ondas do mar alcançam meus ouvidos e como toque final, um galho de azevinho pende acima da cabeça onde o casal ficaria.

Não foram muitas pessoas, Michael e Maddison optaram por chamar somente os amigos mais próximos para que não tenha tumulto. Eu estou aqui somente para fazer a segurança do local como me foi pedido e observar Emily, é claro.

Por anos, eu tenho me impedido de pensar e relembrar sobre as coisas do meu passado para não sentir a dor. Eu guardei tudo no mais profundo de mim e deixei que meu cérebro se encarrega-se de apagar algumas coisas que doíam, que me cortavam por dentro e foi como sofrer uma perda de memória, como uma anestesia temporária.

Mas agora esses fragmentos estavam voltando aos poucos, conforme mais vulnerável eu me deixava ficar, mais eles estavam voltando. Eu já não sentia esse aperto e dor no peito por tanto tempo que agora se tornou sufocante, como se me puxasse de volta para a realidade que eu me escondi, ou melhor, me protegi de encarar e sentir.

Dói menos quando você finge não sentir.

Agora, eu tenho a sombra daquele garotinho nos meus ombros e a única coisa que quero é fugir, me esconder outra vez.

Todos se põe de pé quando a marcha nupcial é tocada por Merlia em seu violino. Susie entra em seu vestido azul da cor das madrinhas espalhando pétalas de rosas por todo o caminho e vejo seus irmãos sorrirem ao vê-la. A educação e respeito que eles tinham pela garotinha era algo bonito de se ver e até mesmo palpável.

Assim que Susie entra, as meninas estão postas em fileiras e entram com seus vestidos azuis de seda longos, cada uma com um buquê pequeno de rosas brancas em suas mãos e caminhando até seu local.

Emily é a última. Seu sorriso é estonteante e quase contagiante, e sei que é um sorriso sincero, ela costuma dá-los quando está no meio de quem ama e se sente confortável. Seu olhar encontra o meu por alguns segundos e logo se desvia para frente, caminhando até seu lugar e pondo-se ao lado das outras.

Michael, o noivo, está parado e com certeza é o homem mais agoniado que eu já vi. Seu semblante só se torna sereno quando sua noiva aparece, os pés descalços pisam na areia e ela caminha até ele. Suspeito a dizer que o mundo não existe para eles dois agora.

Meu olhar corre até Emily outra vez, parece até um ímã, sempre me puxando de volta para ela mesmo quando me recuso a olhar. Porque olhar na direção de Emily é sentir, é perder o ar, porém de um jeito bom.

A forma como ela sutilmente enxuga algumas lágrimas dos seus olhos e sorri durante a cerimônia me pega desprevenido. Eu não estou prestando atenção em nada que o padre diz, e nem em como todos estão emocionados porque não olho para outro lugar que não seja ela.

Tentei empurrá-la, tentei me esconder e fazê-la me odiar, mas ela sempre está lá. No final do túnel eu sempre encontro aquele par de olhos brilhantes que me tiram o fôlego e sempre encontro aquele sorriso estonteante que ela me dá.

É sempre ela, sempre foi ela.

Eu quero mergulhar no brilho dos seus olhos castanhos e nunca mais sair de lá. Estar ao seu lado é sentir, e sentir me machuca e sufoca, menos quando se trata dela.

Desde a primeira vez em que a vi, desde à primeira vez que seus olhos encontraram os meus, Emily transformou a minha vida uma bagunça.

Continuo olhando para ela, o mundo ao redor parece não existir, meus punhos estão cerrados um no outro e me mantenho parado, contendo a vontade de caminhar até ela como uma mariposa segue a luz.

HERDEIROS #3 - TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL Onde histórias criam vida. Descubra agora