Capítulo 33

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Lucien

Após passar uma noite em claro pensando em tudo que aconteceu ontem no encontro de casais - que não foi um encontro. Minha mente se tornou um turbilhão, como se Emily tivesse, pela primeira vez, conseguido apertar um botão dentro de mim e mexido com alguma coisa em meu peito.

Eu jamais chorei depois de tudo que passei, eu não podia chorar antes e depois me acostumei com isso. Depois de anos, mesmo com o que aconteceu comigo na missão, eu não derramei uma só lágrima. Parece... errado e confuso chorar quando ela não me permitia chorar na penumbra da noite. Quando tudo que eu queria fazer é fugir e ajudar meu irmão de alguma forma.

Ao ver Emily chorar por algo que ela nem faz ideia do que aconteceu comigo, eu consegui manter minhas aparências e não mostrar a confusão que se passava na minha cabeça. Mas agora, agora estou entregue à esses pensamentos confusos que ela causou em mim ontem, esse sentimento que fazia-se anos que não sentia, a voz de socorro daquele menininho.

e a prova disso é o meu punho se fechando na cara de um dos soldados da empresa.

Não estamos brigando, não tecnicamente. Apenas treinando, mas ele precisava descarregar e eu também. Então, uma mão leva a outra e aqui estamos.

Seu rosto está ensanguentado e os olhos inchados, ele é resistente, mas conseguiu acertar apenas um soco em minha boca, que causou o mínimo corte. Bom, talvez apenas eu esteja descarregando aqui, afinal.

- Martínez - uma das muitas secretárias de Christopher nos interrompe e a olho, as gotas de suor escorrem pelo meu peito nu e seus olhos vagam em meu corpo, para depois suas bochechas atingirem um tom de rosa bonito.

- Sim?

- Christopher precisa de você na sala dele, é urgente.

- Subo daqui alguns minutos - aviso, dando-lhe as costas e tomando um banho gelado e rápido.

Aos poucos, as muitas vozes na minha cabeça e o choramingo daquela criança frustrada vai se dissipando. Mas a sombra dela ainda está lá, na espreita. Esperando o momento exato para atacar e estou me odiando por deixar isso emergir depois de anos controlando.

Eu visto minhas roupas comuns de sempre - calça, camisa e sapatos sociais pretos - coloco meus anéis em meus dedos calejados pela luta e o relógio no pulso, caminhando até a sala de Christopher.

Passo pela porta, surpresa e um leve tom de satisfação me atingem quando vejo Christopher encostado em sua mesa de braços cruzados, observando Hawk enfaixando o pé de Dylan, que agora está sagrando e fazendo-lhe um curativo.

Eu corro meus olhos de volta para Christopher e caminho até ele.

- O que diabos você fez? - pergunto, ignorando o drama de Dylan logo atrás e as risadas de Hawk.

- Eu não fiz absolutamente nada.

- VOCÊ ME DEU UM TIRO NO PÉ! - Dylan grita.

- Não foi exatamente assim.

- Foi exatamente assim.

- Não, não foi - Hawk nega - O idiota aqui quis brincar com a arma do capitão quando ele virou de costas e acabou puxando o gatilho, a bala ricocheteou e pegou de raspão em seu pé.

- Isso é bom - digo e Dylan abre a boca, chocado - Você não deveria pegar em uma arma se não sabe usar.

- Ela tinha que estar travada!

Christopher ri - Acordei meio esquecido essa manhã, desculpe, loirinha do tchan.

Eu olho de volta para ele com meus olhos semicerrados. O mal de Christopher é que nunca dá para saber se ele está blefando mesmo ou não, nem mesmo depois de anos eu consigo diferenciar isso.

HERDEIROS #3 - TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL Onde histórias criam vida. Descubra agora