Capítulo 52 - Bônus

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Ana Clara

Sentada no banco ao lado de fora de casa, observo as nuvens se formando com a possível chuva, mas não é isso que quero dizer. E sim sobre a chuva que cai internamente em meu coração e, principalmente, no de Miguel.

Ele se manteve trancado em seu escritório desde que Emily foi embora, não pude consolá-lo, ele está fechado e nada aberto para conversas. Há batalhas nas quais você não deve lutar e sim, abaixar sua guarda e esperar.

Me levanto do banco caminhando pelas tantas plantas que Emily cuidava do nosso jardim, sentindo o pesar em meu peito por mais uma filha minha passar por isso, mais uma na qual não pude evitar sofrer dessa forma.

– Hum.. – a Sr. Greenwich, nossa empregada, pigarreia logo atrás de mim chamando a minha atenção e viro para encará-la.

– Pois não, Green?

– O Sr. Díaz.. eu não acho que ele esteja bem, senhora. Seria bom se você pudesse.. dar uma olhada, alguns empregados disseram ouvir barulhos de algo se quebrando dentro do escritório.

Aceno com a cabeça apenas uma vez em retirada – Obrigada, Greenwich, dê folga para o restante dos outros funcionários pelo resto do dia, e para você também.

– Você tem certeza, Sra. Díaz?

– Sim, não se preocupe. Eu posso lidar com a ira do meu marido, Greenwich, tenha um bom dia.

Caminho de volta pelos corredores da mansão, minha respiração está escassa e meu peito está saltando para fora em ritmo acelerado à cada passo que estou mais perto do escritório.

Minhas mãos tocam a maçaneta fria e a abro de forma sutil, o ranger da porta de madeira faz com que as costas de Miguel fiquem rígidas. Ele está de costas, olhando para a janela e de frente para o jardim, provavelmente ele estava me vendo daqui de cima. Uma garrafa de whisky está em sua mão e na outra, um copo com gelo, há móveis espalhados pelo chão e alguns livros também.

A última vez que o vi beber assim, dessa forma, foi anos atrás após descobrir a morte de Logan. Ele jamais o esqueceu, há dias que o pego pensativo e olhando uma caixa com fotos da época da sua faculdade, a época em que viveu com Logan e que ele estava vivo. Miguel jamais o tiraria do seu coração, Logan sempre estará vivo dentro dele.

– O que você quer, Ana?

– Eu vim vê-lo – digo, juntando minhas mãos frente ao corpo e adentrando o cômodo em passos calmos.

– Eu quero ficar sozinho, me deixe em paz.

– Miguel..

– Ana, por favor. Vá embora daqui antes de nós dois brigarmos.

Eu me sento no sofá branco e grande, cruzando minhas pernas uma na outra e folheio um jornal qualquer, um dos muitos que ele passou a ler conforme os anos se passaram.

– Você está me ouvindo, Ana? – ele pergunta, levemente alterado e encaro o par de olhos castanhos completamente perdidos.

– Sim, mas estou ignorando você.

– Por que diabos você é tão teimosa!?

– Vim aperfeiçoando com o passar do tempo, você sabe, eu tenho um marido persistente.

– Por favor, Ana..

– Então é assim que vai ser? nós dois?

– Do que você está falando? – ele põe a garrafa perto do batente da janela e me olha.

– Sobre você me afastar quando está machucado – eu me levanto, sentindo meus olhos arderem – Somos casados há anos, Miguel. E essa é a segunda vez que você está me empurrando para longe, eu não preciso lembrá-lo da última porque ela está vivida em sua cabeça até hoje.

Sua postura fica tensa e seu olhar vacila, analisando todas as minhas feições.

– Eu estou machucado.

– Mais uma vez cometendo o mesmo erro, adivinha só, Miguel? eu também estou. São as nossas filhas!

– Você não me entende – seus dedos passeiam em seus fios castanhos e ele levanta, ofegante como eu – Eu me sinto a porra de um pai de merda!

– E como você acha que eu estou me sentindo? hum?

– Eu não sou como você, Ana, eu não sei ficar perto quando estou machucado!

As lágrimas rolam em minha bochecha e minha vista embaça, mas rapidamente as enxugo, sentindo a raiva subir em minhas veias.

– Pois então eu vou embora! – grito, exasperada – Se for para viver um casamento onde não posso compartilhar a minha dor com você, com o homem que dorme ao meu lado todas as noites, então eu não quero! você estava se saindo bem demais nisso para ser verdad...

Em um minuto, estou cuspindo todas as palavras. No outro, estou sendo pressionada contra a porta quando tento sair do escritório. O hálito quente de Miguel sopra em minhas bochechas e eu estremeço.

– Você não vê que eu só quero cuidar de vocês? que eu faço de tudo para manter vocês bem porque não quero vê-las sentindo a mesma dor que eu senti, porra?! – seu punho bate na porta, ele se aproxima mais, as lágrimas descem pelos seus olhos e engulo o choro na minha garganta, empinando meu queixo.

– Não podemos evitar a maldade do mundo, Miguel. Você sabe disso mais do que qualquer um de nós, só está deixando sua raiva falar mais alto porque quer vingança!

– Sim, eu quero machucar eles! – ele grita contra o meu rosto, mas não perco minha postura, continuo encarando-o dentro dos olhos.

– A vingança cega você, Emily está bem e viva, nós podemos salvá-la ainda. Você não vê isso?

– Ana.

– Claro que não, mais uma vez sua raiva falando mais alto que você! não basta você ter quase me perdido uma vez por causa disso, não é?

– Você não se atreva a dizer aquelas palavras de novo.

– Que eu vou embora? pois bem, eu v...

Suas mãos agarram meu rosto puxando-o para ele, colando minha boca na sua e agarro seus braços, deixando que ele me beijasse. Sentindo o gosto de menta e whisky misturados, mas não me importo com isso. Ele interrompe o beijo sem se afastar, estamos sem fôlego.

– Nunca mais diga que vai embora da minha vida, porra Ana! você quer me enlouquecer de vez? eu não sou nada sem você.

– Então pare de me empurrar, nós combinamos que iríamos enfrentar tudo juntos. Se você me expulsar, eu vou embora para nunca mais voltar.

– Eu amo você Ana, amo você com cada maldita batida do meu coração. E não quero pensar em uma vida onde você não esteja nela porque se for para ser assim, eu prefiro que me matem!

toco seu rosto com a palma da minha mão e suspiro, colando nossas testas.

– Eu amo você, Miguel – sussurro.

– Não acredito que estamos passando por tudo isso de novo..

– Estamos juntos – entrelaço seus dedos aos meus, recebendo um beijo no dorso da minha mão – Nós podemos fazer isso, é o que fazemos de melhor..

– Nós superamos – ele completa e aceno, recebendo outro beijo em seguida.

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Boa leitura! ❤

HERDEIROS #3 - TENTAÇÃO IRRESISTÍVEL Onde histórias criam vida. Descubra agora