A embriaguez que não consola

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Comentários pufavo kkkkk
Boa leitura
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Fazia pelo menos cem anos desde que Porto Real estivera tão segura, mas nem todos valorizavam o meu trabalho. Referiam-se a mim como o Rei do Punho de Ferro, e só fiquei sabendo do apelido carinhoso através do Lorde Larys Strong, que para a minha infelicidade, tinha colado em mim como um carrapato.

O motivo daquela magnífica segurança era um tédio infinito que adoecia meu corpo inteiro. Diariamente, eu era tomado por momentos de uma raiva repentina que me fazia refém, e usei criativamente essa raiva para instaurar ordem àquela cidade, coisa que Viserys devia ter feito há muito tempo.

As punições para todos os crimes tinham sido devidamente ajustadas. Os condenados tinham agora penitências muito mais dignas, perdendo as mãos ao menor tipo de roubo, e a vida ao menor sinal de vandalismo. Os comerciantes que vinham à Sala do Trono evitavam olhar-me nos olhos e davam suas mensagens rapidamente, poupando muito do meu tempo e paciência. Mas as palavras que proferiam eram quase sussurradas, dando-me a certeza de que ali começava a imperar um novo tipo de medo.

Eu estava no poder. Havia um certo deleite em sentir como todos me evitavam, e ao mesmo tempo, sentiam-se mais seguros para transitar nos becos e ruas da cidade. Instaurei, além de tudo isso, uma nova modalidade de jogos abertos ao público, no qual os inimigos da Coroa enfrentavam diretamente, à luz do dia, os novos dragões que nós estávamos criando. Os civis amavam um bom espetáculo sangrento, e ainda que fosse difícil controlar os dragões jovens – o que até havia rendido alguns acidentes com certos inocentes – os Sete Reinos estavam sob meu controle. E eu nunca, em toda a minha vida, tinha sentido uma solidão como aquela.

Eu me conectava mais facilmente às taças de vinho do que às mulheres que se deitavam comigo. Mesmo que naquela noite já tivesse uma me esperando nos meus aposentos, ainda era na Sala do Trono que eu estava, encarando o líquido vermelho contido no vidro que repousava em minhas mãos. Um Meistre – do qual eu não tinha prestado atenção ao nome – tinha vindo dos confins da Cidadela para dar seu parecer à situação de Viserys.

Prestei atenção em poucas das suas palavras, especialmente depois que pesquei no ar os termos "incurável", "medidas paliativas" e "pouco tempo de vida". Perguntei-me que diabos um velho como aquele estava fazendo à minha frente àquela hora da noite e como tinha coragem de pedir uma audiência para supostamente dar as notícias que uma criança de seis anos teria concluído sozinha.

— ... e, honestamente, nós tentamos de tudo. — Ele finalizou depois de um longo tempo falando, e então fez uma reverência. Àquela altura, lancei um olhar de lado ao Lorde Westerling, meu atual Lorde Comandante da Guarda Real, que até então estava parado como estátua ao lado da escadaria do Trono de Ferro. Ele me mostrou uma palma aberta, como se me pedisse calma para lidar com o Meistre. Soltei um suspiro entediado.

— Então, o que você está me dizendo, Meistre...? — Deixei em aberto para que ele repetisse seu nome.

— Meistre Luwin, Vossa Graça.

— Luwin. — Repeti. — O que você está dizendo é que o caso de Viserys não tem cura e que vocês fizeram tudo que podiam.

— É um bom resumo para o que acabei de dizer, Vossa Graça. — Murmurou em um fio de voz.

— E como vou saber se o caso é que é grave demais, ou se os Meistres é que são incompententes demais para resolver uma coisa simples?

O homem já não tinha muita cor no rosto, mas o que tinha sumiu naquele instante. Ele olhou para Westerling como se pedisse um apoio qualquer, e então para mim de novo – logo antes de começar a gaguejar. Disse que tinha estudado com os maiores Arquimeistres de toda Westeros, que tinha aplicado todos os tratamentos dos quais já tinha ouvido falar e que sentia muito, sentia muitíssimo, mas que o caso de Viserys estava para além de sua competência. Imaginei que a competência não fosse muita. Ele parou imediatamente de falar quando tombei minha taça de vinho para o lado de forma a derramar o líquido no piso de pedra.

Trono de Espinhos - Daemyra (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora