Valar Morghulis

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BOM DIA JAKAKAKAKA. Que eu sou uma autora desnaturada, todo mundo sabe, mas ficar 4 meses sem atualizar é novidade até para mim. Espero que ainda tenha alguém por aí. Não desisti da história. Espero que gostem do capítulo.
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As palavras entalhadas no aço da lâmina não se desgastavam, nem oxidavam com o tempo. As letras se sobrepunham, persistiam ao longo dos séculos, vencendo a fricção, colisão e umidade. O Valar Morghulis cravado ali servia para lembrar quem a segurasse que era uma arma portada por mortais, e que mesmo para eles, a morte viria.

Quando eu segurei a Irmã Sombria pela primeira vez, achei que as palavras inscritas eram um prenúncio à morte, um tipo de maldição para quem a carregasse; ter uma arma que anunciava o meu próprio fim não poderia trazer nada em batalha além de má sorte. Mas não era assim que ela se provava; pelo contrário. Anunciar a morte certa era o que dava coragem: se cedo ou tarde eu ia morrer, por que não lutar como se a Morte já estivesse me espreitando? Por que não acenar, por que não sorrir em sua direção e recebê-la de braços abertos quando tentasse me alcançar, ao menos deixando uma trilha de corpos pelo seu caminho? Encarando de frente os dois buracos que Ela tinha no lugar dos olhos, eu me banharia no sangue inimigo, prestaria até tributos em sua homenagem; assim, quando minha hora chegasse, eu também escolheria beijá-la no campo de batalha.

Minha morte seria na guerra. Eu sabia desde pequeno, mesmo antes de começar a andar, mesmo antes de começar a comer sem que me dessem na boca. E naquela manhã, antes do Sol nascer, as palavras brilhavam mais do que de costume. A lâmina sorria para mim e eu sorria de volta para ela, encarando o reflexo dos meus olhos na superfície plana do aço. A Irmã Sombria me cumprimentava como a um amante, e para não deixá-la falando sozinha, eu respondia.

— Valar Dohaeris.

O sorriso da lâmina aumentou, e o meu também. Estávamos em Pedra do Dragão; longe das fofocas insossas da Corte, dos murmúrios assustados dos criados, longe até mesmo do Trono de Ferro. Em Pedra do Dragão, o chão vibrava: a terra era carregada de algo que as palavras não traduziam. O Sol demorava mais a nascer e o céu se tingia de cores antigas durante as longas primeiras horas da manhã. Havia um silêncio duradouro, quebrado apenas pelo som distante das ondas rompendo o mar. Eu também queria romper coisas. E enquanto empunhava a lâmina na altura de meus olhos, eu não me sentia Rei, mas um vassalo a seu serviço; uma sensação de pertencimento abraçava-me pelas costas e os meus dedos corriam nas serras invisíveis aos olhos. Eu oferecia meu sangue a ela em filetes, assim como em breve ofereceria o sangue de meus inimigos.

— Prestando juramentos a essa hora da manhã? — Uma voz escoada falou às minhas costas. Apesar do susto, cedi a um sorriso ao olhar por cima dos ombros: era Rhaenyra. — Agora eu entendo — ela retomou. — Você dá mesmo arrepios quando segura essa espada.

— A espada é nossa aliada, e não inimiga — corrigi.

— E mesmo assim, está te fazendo sangrar nos dedos.

Rhaenyra caminhou um pouco até sair da penumbra e parou a alguns centímetros de mim. Cruzou os braços em frente ao corpo e tombou a cabeça para o lado, analisando-me. Para quebrar o costume, usava um vestido branco cujo colo era cravejado com pequenas turquesas; o cabelo solto pendia até o centro das costas. Portava um sorriso brincalhão no rosto, mesmo que os olhos estivessem sombreados por uma preocupação silenciosa.

— Sabe, eu achei que teria ciúmes de você com outras mulheres. Mas agora estou vendo que a forma como você olha para essa — indicou a espada — é que deveria me preocupar.

Trono de Espinhos - Daemyra (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora