Banheira De Pedra

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bem-vindos! a gente se vê nas notas finais

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Aos reis Targaryen, algumas qualidades eram obrigatórias, mas demonstrações de afeto não estavam inclusas na lista. Éramos ensinados a pensar estrategicamente e colocar sentimentos pessoais de lado, porque muitas vezes eram as emoções que compunham a principal fraqueza de qualquer governante. Mesmo assim, certas sensações eram impossíveis de serem evitadas; quando meu olhar se encontrou com o de Rhaenyra frente à minha volta da Cidadela, a felicidade instalou-se no meu peito de tal forma, que os demais presentes provavelmente perceberam. Minha volta foi anunciada em voz alta; eu ainda estava com os trajes da viagem, e provavelmente ainda cheirava às brasas de Caraxes.

— Todos saúdam o Rei Daemon Targaryen, o Primeiro de seu nome, Rei dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, Protetor do Reino Príncipe e Pedra do Dragão, Portador da Irmã Negra e Senhor dos Sete Reinos!

Todos na Sala do Trono se levantaram em meu respeito, e inclusive Rhaenyra, que estava sentada no Trono de Ferro. Durante minha ausência, ela tinha servido não apenas como Rainha, mas também como Regente. Quando minhas vistas cruzaram-se com as dela, esqueci-me de todos os demais presentes que faziam reverências. Entre eles, estavam componentes dos Lannister e o Pequeno Conselho, além de diversos outros membros da Corte que se dispunham em cadeiras como se aquela fosse uma audiência oficial. Eu não sabia do que se tratava a audiência, pois tinha chegado no meio dela; fiz menção para que voltassem a se sentar e deixei que Rhaenyra continuasse conduzindo a reunião. Helaena também entrou na Sala, mas foi imediatamente conduzida para fora por algumas amas que a acolheram; Viserys se sentou em uma das cadeiras, suspirando muito pelo cansaço.

— Meu Rei — minha sobrinha disse em voz alta, respeitando as cordialidades da ocasião. Tentei me concentrar nas palavras, mas as roupas chamavam muita atenção; ela portava um vestido carmesim com correntes em ouro, uma gargantilha cravejada com brilhantes em torno do fino pescoço e presilhas que sustentavam as tranças embutidas. Eu sorri enquanto a observava, e percebi que ela também queria sorrir, mas reprimia a vontade. — Estamos nessa reunião para tratar sobre a distribuição de impostos de Tamisporto. Posso pedir que os presentes se retirem para que eu te explique do se trata-

— Tenho certeza de que você consegue conduzir esse assunto até o fim — respondi, sem nem ter certeza do que se era. Não importava; ao que parecia, Rhaenyra sabia o que estava fazendo.

Agora, ela não conseguia mais reprimir o sorriso.

— Tem certeza? — Sussurrou baixo o suficiente para que ninguém mais ouvisse.

— Finja que nem estou aqui. Depois, você me atualiza — pausei para desviar o olhar dela e me dirigir aos demais, agora em voz alta: — A Rainha Rhaenyra conduzirá essa audiência até o fim. Estarei presente para ficar a par do assunto, mas dirijam-se a ela. E por que ainda não se sentaram? Sente-se, Corlys. Jasper e Jason, vocês também. Ótimo. Continue, Rhaenyra.

Deixei que ela permanecesse no Trono de Ferro, porque nem fazia sentido eu ocupá-lo se não seria eu a conduzir a reunião. Ao invés disso, não me sentei em lugar nenhum, mas fui até uma mesa onde havia um grande banquete já esquecido pelos convidados, e ali fiz minha morada. Eu tinha ficado quase dois dias sem comer, por medo de ser envenenado pelos Hightower. Naquela sala, sentia-me em casa. Desde o Trono até as cadeiras de madeira e as cortinas, tudo me pertencia. Escutei ao assunto que era conduzido de forma muito natural, e foi então que percebi do que se tratava.

Após eu ter acidentalmente ferido Jasper Wylde e Jason Lannister nas chamas de Caraxes, Rhaenyra estava lidrando aquela audiência para recompensá-los pelos danos. Ela oferecia a eles uma papelada que dizia que 5% dos impostos de qualquer mercadoria comercializada em Tamisporto - um pequeno porto localizado ao extremo leste de Porto Real -, durante cinco anos, seria deles. Eu não comentei nada. Aguardei que a reunião terminasse enquanto comia às maçãs e romãs espalhadas pela mesa, reparando com atenção nas feridas nos rostos de Jasper e Jason. Não senti pena deles; honestamente, não senti nada, exceto por um certo asco em pensar que eles aumentariam seus tributos em cima das nossas costas. Para minha própria sorte, o remorso era uma qualidade que me faltava; já a raiva, eu tinha de sobra. Mas Rhaenyra sabia o que fazia.

Trono de Espinhos - Daemyra (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora