DAYANE
O sol batia fraco em meu rosto, ainda era cedo e eu estava apenas aproveitando a brisa suave que minha janela oferecia. Olhei rapidamente por cima dos ombros vendo minha esposa, Andrea, dormindo espalhada em nossa cama. Suspirei, havíamos acabado de nos mudar para o sul da Itália com nosso pequeno, já não tão pequeno assim, filho.
Fechei a cortina, mas deixei a janela aberta e me afastei para tomar um banho. Logo teria que acorda-la e acordar Angelo junto. A mudança tinha sido cansativa, mas eu estava animada por nós. Andrea cresceu e viveu boa parte de sua vida em Sicília, no interior, e quando houve uma oportunidade de voltar por conta de seu trabalho não pensamos muito antes de nos mudarmos. Claro que não era no interior e sim em Palermo, a capital.
- Day?! - Ouvi sua voz me chamar alto do quarto.
- Estou saindo! - Avisei com um pequeno sorriso no rosto. - Eu ia te deixar dormir mais um pouco. - Me aproximei a puxando pela cintura.
- A última romântica. - Brincou antes de me dar um selinho. - Mas, eu preciso chegar mais cedo e a senhorita tem uma criança para deixar na escola.
- E uma entrevista de emprego. - A lembrei.
- Viu? Temos que correr. - Se soltou de mim. - Vai acordando o Angelo, vou me vestir e deixar o café pronto para vocês.
- Te vejo mais tarde? - Ela sorriu antes de se virar para mim.
- Você sabe que sim. Agora, vai! - Me deu um tapinha no ombro.
Andrea e eu sempre nos demos bem, a conheci no meu último ano em arquitetura e urbanismo. Estudávamos na mesma faculdade e ela era amiga de Victor, que nos apresentou. Começamos a namorar no fim daquele ano e três anos depois estávamos nos casando. Ficamos em São Paulo por mais um ano, até nos mudarmos para o Rio por conta do meu trabalho e lá adotamos Angelo que na época tinha 10 anos. Esse ano, meu pequeno já faria 11 anos.
- Angelo. - Chamei o balançando. - Tá na hora.
Ele não me respondeu, mas concordou com a cabeça empurrando minha mão para longe de si.
- Não me faça ir buscar um balde. - Ameacei com um sorriso.
- Estou em pé! - Ele respondeu prontamente abrindo os olhos e se sentando na cama.
- Ótimo, vá trocar de roupa. - Lhe dei um beijo na testa. - Vou ajudar sua mãe.
O vi fazer um joinha com a mão e se levantar de vez indo até seu banheiro. Nossa casa não era muito grande, mas fizemos questão de que cada um tivesse seu próprio banheiro. Desci as escadas encontrando Andrea já na porta com sua bolsa e chave em mãos.
- Estou indo, ok? - Ela me deu um beijo na bochecha. - Me ligue quando sair da entrevista.
Mal tive tempo de responde-la antes que ela saísse. Respirei fundo e fui para cozinha ver o que Andrea havia feito. Como eu disse, sempre nos demos bem, mas nos últimos parecia que éramos mais amigas do que de fato esposas. Estava tentando achar formas de falar sobre isso com ela, mas Andrea era muito focada em seu trabalho. Foi um dos motivos pelo qual aceitei que mudássemos para Palermo, sua carga horaria seria bem menor e quem sabe dessa forma não pudéssemos retomar como éramos antes. Angelo não demorou a descer e logo eu o deixei em sua nova escola, lhe avisei que o buscaria mais tarde e finalmente segui para onde seria minha entrevista de emprego.
CAROLINE
O dia havia começado cedo para mim, mesmo depois de anos morando em Sicília, eu de vez em quando ainda me perdia no fuso. Como eu conseguia me confundir realmente era um mistério, já que estava em Palermo a mais de 8 anos!
- Caiu da cama, Carol? - Bruno perguntou rindo e se servindo café.
O conheci logo que me mudei para a cidade, ele também era novo aqui e ambos estávamos procurando apartamentos. Em um pequeno surto de loucura, decidimos morar juntos e desde então estávamos assim.
- O fuso. - Dei de ombros me jogando no sofá, nossa cozinha era aberta então ele ainda podia me ver da onde estava.
- Você é a única pessoa que eu conheço que tem esse poder, tem 8 anos que nós moramos aqui ruiva. Como ainda pode se confundir?
- Em minha defesa isso só acontece quando eu ligo de madrugada para os meus pais.
- Ou seja, dia sim e dia não. - Ele riu. - Como estão os meus amores?
Bruno era apaixonado em meus pais, diria que gostava mais deles do que de mim até.
- Bem, disseram que estão com saudades de nós e que deveríamos ir visita-los no fim do ano.
- Você sabe que eu sempre digo sim. - Quando nos conhecemos os pais de Bruno ainda eram vivos, mas logo após suas mortes, meu amigo passou a ficar conosco nas festas do fim de ano.
- Eu acho que deveríamos mesmo, faz dois anos desde que fomos lá pela última vez.
Ele iria dizer algo, mas foi interrompido pelo som estridente do meu celular, me levantei com preguiça para ir atende-lo.
- Se for seu chefe, eu juro que vou atrás dos direitos trabalhistas! - Ele gritou da cozinha e eu ri pegando o aparelho.
- Não é meu chefe, era só telemarketing.
Eu amava meu trabalho, era chefe de cozinha em um restaurante famoso e renomado em Palermo, mas precisava concordar com Bruno que de vez em quando meu chefe abusava da minha boa vontade.
- Ainda bem, esse homem se aproveita de você as vezes. - Ele revirou os olhos. - Seu horário ainda é daqui quatro horas.
- Relaxa. - Eu ri. - Meu horário é daqui quatro horas, mas seu não me engano você vai se atrasar se não sair em 20 minutos. - Apontei para o relógio.
- Puta que pariu! Eu tenho que fazer uma entrevista de emprego hoje. - Correu para fora da cozinha ainda com a xícara em mãos.
- Estão contratando gente nova?
- Não muitas, mas essa pessoa parece que tem um grande nome. É do Brasil também, acredita? - Observei ele vestir sua calça e calçar seus sapatos. - Não me disseram o nome, mas te conto tudo quando voltar!
Concordei com a cabeça e o abracei rapidamente, iria voltar para dormir mais um pouco. Bruno gritou um tchau da porta e em seguida eu a ouvi bater. Suspirei me jogando em minha cama novamente e antes de me permitir tirar mais aquele cochilo, coloquei um alarme e então fechei os olhos me entregando ao sono.
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Desiderium - Dayrol
Teen FictionDayane e Caroline namoravam no ensino médio, tiveram tudo para serem o famoso "high school sweethearts". Mas após confusões e mal entendidos, se separaram e seguiram caminhos diferentes. Agora, 10 anos depois, Day e Carol se veem de cara a cara com...