Capítulo 14. III

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Foi naqueles tropeços por meio das poças d'água que Lucas acabou caindo por cima do gramado, com seu corpo sendo impulsionado para frente e o arremessando no jardim, obrigando com que engolisse terra e lama que voaram contra seu rosto pelo impacto que cometerá ao despencar.

Tinha feito toda aquela correria frenética depois que encontrou o corpo de Harold, e o medo finalmente veio se instalar a respeito do perigo próximo que vinha sofrendo, e ao se dar conta que suas amigas passavam pelo mesmo, de possivelmente terem seu final daquela mesma maneira cruel, o garoto se disparou pelo parque tempestuoso, correndo o mais rápido que podia para chegar até seu trailer e alertá-las de que era melhor saírem dali antes que fosse tarde. Contudo, o tropeço inesperado dificultou com que chegasse a tempo até a casa, e acabasse caindo por cima de algo que fez seu quadril se incomodar pela leve dor que sentira do objeto pesado, que não se identificava como uma pedra ou rocha.

Ele rolou na grama, olhando para o estado de suas roupas completamente gastas e sujas, fora o excesso de água que as deixavam ensopadas, e passou com os olhos para baixo, procurando ver no que tinha caído por cima.

Surpreendentemente até para si mesmo, Lucas se admirou com uma arma.

Pegando-a com uma das mãos, sentindo o peso do calibre nos dedos, o garoto olhou ao redor, buscando ver se achava alguma pista de onde aquilo teria vindo. Uma das garotas teria usado? Deixaram ali após um confronto com o assassino? Ou tinha sido o próprio que trouxera? As perguntas rondaram sua cabeça, e Wilcox começou a ficar ansioso. Por via das dúvidas, guardou a arma no cinto da calça, escondida pela camiseta molhada. Ele ficou de joelhos na grama, respirando fundo para seguir até o trailer que já podia ser visto quase a sua frente depois dos arbustos, e foi nessa tentativa de recuperar o fôlego que conseguiu ver com mais clareza o gramado que lhe cercava. Apertou os olhos para enxergar com clareza, precisando se certificar de que não estava enlouquecendo ou vendo coisa onde não existia. Havia algo caído em cima da grama, uma cadeira, caída de lado e de costas para ele.

Um corpo aparentava estar preso a mesma, visto que seus braços continuavam imóveis e amarrados.

Erguendo um pouco do pescoço para enxergar, Lucas decidiu se aproximar para identificar de quem seria aquele cadáver.


Elas continuaram a correr, até que seus joelhos cedessem e implorassem para que parassem antes que se atrofiassem com seus ossos começando a arder em suportar tanta dor nas juntas do corpo. Quando finalmente deram uma pausa, Maeve olhou ao redor, percebendo que haviam entrado em um tipo de playground, com escorregadores, balanços e túneis instalados no chão, mas o cenário que deveria aparentar ser divertido para as crianças que moraram em Riverside, agora se mostrava macabro e assustador, domado pela noite e pela tempestade. Passou a mirar os cantos, procurando ver se podiam seguir para outro caminho, mas se esforçasse mais um pouco dos calcanhares era capaz de ter cãibra e morrer com falta de ar pelo peito carregado, na qual era engolida por um frio absurdo da chuva. Ela recuou, voltando até a amiga que caíra de joelhos no gramado, com o corpo dobrado na grama, mantendo o rosto entre os braços estirados, se curvando de tanto chorar em lamentares pela perca da ex-namorada que acabará de assistir morrer.

— Brooke... — se consolidando em dar seu suporte, em um momento frágil e delicado como aquele, Maeve se agachou.

— Ela morreu, Maeve — disse, debruçada. — Harper. Ela morreu.

Até mesmo aquilo lhe afetava, de uma maneira ou de outra. Mesmo que tivesse ficado próxima da presidenta do Corpo Estudantil nos últimos dias e deixado as diferenças de lado, ainda assim era muito sobrecarregado lidar com alguém que morreu, e bem diante de seus olhos — mesma coisa com a garota Wilcox, baleada na cabeça — e todo aquele peso e fardo de saber que mais uma morte estava pra ser jogada em suas costas, tornava tudo ainda mais bruto de se lidar. Harper morrerá sem ter uma chance de escapar, presa em uma armadilha, pelas mãos doentias de um assassino que tirava daquilo sua diversão.

Trust No One (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora