Falar com garotos, sempre deixou Margo Wiley um pouco nervosa, principalmente quando se tratava dos bonitos.
Ela geralmente ensaiava em frente ao espelho de seu quarto, preparava frases e falas prontas, como se acreditasse que isso fosse surpreendê-los. Era assim que agia com os garotos de sua escola, mas tinha a quase certeza de que não precisava agir assim com os de sua igreja, eles não pareciam serem tão brutos.
A reunião de jovens acabou cedo naquele domingo à noite, faltando ainda meia-hora para as nove. E quando todos foram liberados, os passos corridos se apressaram pelo salão principal da igreja, com eles ansiosos para irem embora — não que a reunião fosse realmente chata, porém terem que se comprometer a passarem o restante de um domingo a tarde presos naquelas salas abafadas, ouvindo testamentos e citações dos mais velhos de como deveriam seguir com a vida adulta, chegava ser um pouco desgastante e tedioso. Ela não acreditava que a maioria seguiria o que fora ditado, sabia que alguns iam forçadamente para os encontros, apenas pelo agrado de seus próprios pais, e na primeira oportunidade que tivessem, cairiam fora e seguiriam com suas vidas mundanas e recheadas de promiscuidade.
Com esses pensamentos avulsos, a garota parada ao topo da escadaria do lado de fora, esperava até que seu pai chegasse para buscá-la, enquanto disfarçava em olhar os dois garotos a alguns degraus abaixo, que também deveriam estar esperando suas caronas que o levariam de volta para casa. E um deles, se destacava diante dos olhos castanhos de Margo. Era Johnny Hardy, um dos jovens exemplares das reuniões, sempre usado como exemplo pelos tutores quando queriam usar alguma referência de alma que seria salva em um possível arrebatamento. Era isso o que todos acreditavam sobre Johnny, que não sabia da verdade que ele escondia, como fumar maconha atrás da quadra de futebol do colégio ou ter relações íntimas com algumas garotas dentro dos vestiários. E no fundo, Margo entendia o porquê dele fazer isso.
Johnny era bonito. De cabelos castanhos jogados pela testa, com um sorriso correto, de dentes esbranquiçados. Ombros largos e braços fortes, por conta dos treinos que fazia, permitindo com que a camisa social de todos os domingos ficasse um pouco apertada demais contra seu tórax, que aos poucos iam ganhando forma, roubando olhares de garotas que nem escondiam o forte desejo de tocá-lo. E Margo era uma delas, mesmo que no fundo presumisse que jamais teria chances de sequer poder lhe dar um abraço.
Não que fosse feia. Nunca se sentiu feia. Mas, sabia que as outras pessoas a achavam. Seu excesso de peso, braços pesado, pernas grossas e o rosto rechonchudo não era exatamente o que garotos como Johnny procuravam em uma namorada. Eles queriam um padrão específico, uma líder de torcida com um corpo de curvas, sorriso charmoso, e olhar atraente. De preferência, que fosse loira. O que no caso, estava longe de representá-la, visto que era ruiva, de cabelos encaracolados, sorriso pequeno e olhar miúdo.
Ainda assim, preferia acreditar que nem todos os garotos do mundo eram verdadeiros vilões. Nunca se deixou acreditar pelos bilhetes maldosos que eram deixados em seu armário, com as ofensas veladas para fazê-la desistir de encontrar alguém. Ser chamada de gorda, obesa e vaca já nem a atingiam, por mais que no fundo ainda causasse uma pequena dor, ela não queria deixar que essas pessoas entrassem em sua mente. Havia assistido muitos documentários sobre isso quando começou a sofrer bullying, e na maioria dos relatos, pessoas que eram os alvos tipo ela, optavam pela maneira mais fácil de safar daquilo — o suicídio. E por ser uma pessoa religiosa, sabia que jamais poderia cometer tamanha atrocidade, caso contrário sua alma iria para um lugar pior da qual já se encontrava.
Quase que sem perceber, ela foi descendo os degraus que levava até Johnny e seu amigo, Elton, que davam risadas altas, parecendo conversar sobre algo divertido. Não teria porque ter medo deles. Nunca a destrataram durante as reuniões, pelo contrário, eles até mesmo chegavam a olhá-la quando era escolhida para recitar um versículo da bíblia, fazendo as honras até de aplaudi-la. Então, ela fechou as mãos ao lado do corpo, que era coberto pelo vestido azul. Em sorriso gentil, se apresentou ao lado deles.
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Trust No One (Finalizada)
Misterio / SuspensoQuando o presidente do Corpo Estudantil é encontrado morto em praça pública, os moradores de Ambrose se veem presos em uma grande armadilha feita por um serial-killer que se esconde entre os jovens próximos a vítima. A detetive Agatha chega a cidade...