Capítulo 5. I

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Ela continuou sentada em seu sofá, com a cabeça baixa, escondendo as lágrimas que escorriam pelas laterais de seus olhos. Permanecia naquele silêncio inquietante a mais de cinco minutos, imóvel na mesma posição, com os cotovelos apoiados nas coxas das pernas dobrados, enquanto fitava o chão cinzento da garagem. Nenhuma palavra tinha sido pronunciada, nem mesmo um suspiro, apenas lágrimas. Tudo que ela colocava para fora era isso.

Ao contrário dela, Sammi continuava de pé, andando de um lado para o outro, com os braços cruzados e aguardando ansiosa para que qualquer coisa fosse dita e rompesse o silêncio que dominava a garagem. Não conseguia parar de pensar no que tinha acabado de fazer, revelar tudo para Maeve Griffin a respeito do seu caso secreto com Trevor. Teria evitado isso a todo custo se pudesse, não tinha intenções de contar a ninguém sobre o que acontecerá, poderia conviver com esse segredo sujo e se esforçaria a fazer com que ele desaparecesse de sua mente em alguns anos. Mas, não foi isso o que aconteceu naquela noite, quando a ex-namorada do garoto apareceu em sua garagem e disse que já sabia de tudo e agora queria ouvir o lado dela.

Sammi estremeceu. Largou seus instrumentos para trás e a convidou a se sentar no sofá velho da garagem, na qual ela ainda permanecia. Tentou negar a dizer, afirmando que esse assunto tinha sido encerrado para si e que optaria de não mencioná-lo mais, entretanto Maeve insistiu. Persistiu para que ela dissesse, pois precisava daquilo, dos detalhes, de como tudo tinha se desenvolvido entre os dois amantes, e como as coisas haviam acabado. Sem escapatória e com receio de que a garota pudesse causar um escândalo, a vocalista decidiu se render e contar — pulando grandes detalhes que achava que não seriam necessários. Quando finalmente terminou de contar, ela ficou estática em seu assento, paralisada enquanto absorvia tudo que escutará.

Pensou que pudesse ter dado um tiro em seu próprio pé. Se estavam atrás do assassino de Trevor, agora Sammi pudera ter criado duas suspeitas para si, como a detetive e Maeve. No entanto algo em seu interno fez com que não se sentisse tão paranóica de pensar nisso, quando a reação da garota não foi de querer acusá-la, e pelo contrário, ela se encolheu e permitiu chorar o que estava guardado.

E quando as últimas lágrimas caíram, Maeve secou as bochechas, erguendo o rosto e finalmente voltando a olhar para a garota que tinha algumas mechas vermelhas no cabelo ondulado, lhe dando uma aparência de gótica moderna que não exagerava em seu lado punk. No fundo, desejava sentir um pouco de raiva dela, o mínimo que fosse, para que conseguisse xingá-la ou até mesmo ser mais agressiva em suas palavras que lhe diriam em como ela teria sido mau caráter em se envolver com ele. Teria coragem de falar coisas horríveis só para ofendê-la e fazer com que sentisse que tivesse cometido um crime em ter ficado com ele. Mas, não o fez e nem faria. Afinal, Maeve era a última pessoa naquela garagem com o poder de julgar alguém por uma traição.

Ela e Trevor eram semelhantes, e pensando por esse lado, chegava ser assustador. Eles ficaram juntos por tanto tempo, mentindo um para o outro, e pareciam conviver com isso tranquilamente, como se não existisse uma camada de mentira que os separava. Ela escondia as coisas, e ele fazia o mesmo. Ela se deitava com seu melhor amigo, ele com uma garota de uma banda sem sucesso. Tinham desejos secretos e internos que deviam ser banidos e renegados, no entanto nunca se puseram a abandoná-los, pois gostavam da adrenalina de estarem cometendo um erro. Excitante e prazeroso, como um pecado que gostavam de insistir.

— Quer uma água? Alguma coisa? — Sammi a ofereceu, engolindo em seco.

— Não. Estou bem — disse.

— Não é o que parece.

Maeve a olhou com seriedade.

— E como queria que eu parecesse, hein? Ótima? — questionou retoricamente. — Estar na frente da garota que estava transando com meu namorado.

Trust No One (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora