Prelúdio.

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13 DE MAIO

20H15 P.M

CASA DOS SANDERS

PARTE 1— O MONSTRO

Gostava de ficar sozinha em sua própria casa, tendo a si mesma como sua única companhia, no seu próprio silêncio e conforto. Não existia medo quando se estava só, vazia naqueles cômodos quietos e podendo se sentir minimamente livre a andar pelo ambiente sem que tivesse de ser precavida ou cautelosa. Sua solidão era o que lhe dava o ar nos pulmões, a força que necessitava para sobreviver a cada dia, e a coragem de se manter ali. Distante deles, e longe dos olhares predadores que lhe caçavam.

Brooke se sentia viva.

Toda sexta-feira a noite sua mãe não se encontrava em casa. Joyce Sanders tinha se ocupado em um novo emprego que o turno começava ao entardecer e terminava no amanhecer, quando a cidade ainda adormecia e o sol beirava a nascer atrás das colinas. Mas, algo dizia para a garota que aquele emprego não duraria por muito tempo, e logo a mulher voltaria a residir em todos os horários, tirando sua paz e conforto. Era difícil que ela se mantivesse por muito tempo em trabalhos, principalmente quando seu estresse falava mais alto e o pavio curto era nítido em sua face. Contudo, era melhor conviver com ela, do que com seu padrasto, Barry Munson.

Ele aparecia de madrugada, quando já estava dormindo — com a porta trancada e uma cadeira encostada debaixo da maçaneta, por precaução — na maioria das vezes chegava bêbado e rabugento, xingando pelos quatro cantos enquanto tinha dificuldades de subir as escadas e ir para o quarto. Vez ou outra largava poças de vômito no primeiro andar, em provocação de saber que a garota iria limpar. Uma vez chegará até mesmo urinar no carpete, mas isso não se repetiu depois que Brooke usará de uma de suas camisetas para limpar a sujeira, e de propósito colocou a vestimenta de volta em sua gaveta, para que o homem soubesse que isso não se repetiria.

Ele entendeu o recado.

Entretanto, conviver com uma pessoa abusiva e tóxica era sempre temer por uma vingança, um ato de rebeldia maior que sua maldade. E ela sabia que uma hora ou outra ele iria atrás dela, buscar justificativas, confrontá-la para assustá-la, ou no pior dos casos se atrever a tocá-la para intimidá-la. Barry era um desses, ele se aproveitava de seu corpo grande e mãos pesadas, a aparência de briguento, com as tatuagens de serpente nos braços e faces de caveira pelo peito. Era tão assustador conviver com ele, que chegava até ter pesadelos, de que estava presa em algum lugar apertado e ele era seu predador, chamando seu nome de forma faminta, pronto para devorá-la. Brooke sempre acordava no meio da noite, suando frio e agarrando os lençóis.

Sentia medo. Muito medo.

E ninguém sabia disso.

A razão para nunca ter contado a ninguém sobre essa sua convivência conturbada com seu padrasto era pela falta de coragem. Sempre pensava no pior do que aconteceria quando revelasse o que ele fazia ou já fez. Que alguém se atreveria a tomar suas dores e dizer as autoridades, que iriam atrás de Barry, mas não seriam capazes de pegá-lo a tempo e isso consequentemente faria com que o homem fosse atrás da garota e acabasse com ela em suas próprias mãos — uma vez, ele chegará a mencionar isso em seu ouvido, quando ela tentou revidar em se afastar, as palavras ameaçadoras que vieram para seus tímpanos foram tão assustadoras que sentiu vontade de vomitar.

E ter confiança em alguém ainda era algo que Brooke sentia receio de demonstrar. Conseguia contar nos dedos quantas pessoas teve confiança para ter conversas mais profundas ou revelar segredos, e entre elas uma era sua ex-namorada, Harper, seu melhor amigo Cameron, e sua antiga melhor amiga, Maeve. Os três eram seus confidentes, os únicos que a entendiam com mais profundidade, mas nunca o bastante para não terem todo o conhecimento.

Trust No One (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora