Capítulo 7. I

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— Meu celular foi clonado! Não é óbvio?

Era com essa justificativa que April Mckenzie tentava se mostrar inocente.

Fora convocada logo durante a manhã a comparecer a delegacia para uma visita aos detetives que queriam trocar algumas palavras com ela sobre o caso ainda em aberto de Sierra Morgan, sua até então melhor amiga e também falecida. E sem saber ao certo o que eles queriam, a garota foi sem receios, mesmo que o leve desespero se tornasse presente e o semblante de preocupada fosse à única face que conseguia manter perto deles.

De acordo com Agatha Rogers, uma ligação havia se iniciado entre as duas amigas momentos antes da capitã das líderes de torcida ser assassinada, e após confiscarem o celular de Morgan, acabaram descobrindo que a ligação teria durado vinte e dois minutos, um tempo a mais do que April havia relatado em seu primeiro interrogatório, um dia após o assassinato, na qual ela afirmará — e ainda mostrou para eles — que a ligação em seu aparelho marcava os exatos dez minutos e vinte e nove segundos, depois disso não existiu mais conversa entre elas, porque a linha ficou muda. Ao menos, era desse jeito que a adolescente tentava se livrar do possível crime.

— Então você me confirma de que — pegando o celular dela e mostrando a tela onde a ligação e sua duração podia ser vistas, Agatha apontou para a garota sentada na cadeira. — A chamada só durou esse tempo? E que você não fez retorno para ela depois disso?

— Eu tentei — explicou. — Depois que ela me disse que a foto tinha sido deixada em seu quarto, criei a suspeita de que o invasor... O assassino estivesse na casa dela e tentei alertá-la.

— E Sierra? — Gabe ouvia, quase sem muitas opiniões para aquele interrogatório.

Não foi de sua insistência terem levado aquela garota para a delegacia naquela manhã, nem mesmo estava de acordo para prestarem uma nova interrogação. Na tarde passada outra jovem tinha sido encontrada morta, em um vestígio semelhante aos outros quatro corpos já deixados espalhados por Ambrose, então sua preocupação não se voltava a uma líder de torcida que visivelmente se mostrava mais uma provável vítima do que uma assassina.

— Ela disse que não iria ficar por lá. E viria para cá.

— Aqui? Na delegacia? — Agatha estranhou. — Por quê?

April se sentiu incerta sobre contar. Na primeira vez que foi chamada por eles, em uma conversa a sós, só relatou sobre o motivo de Sierra ter lhe ligado na mesma noite em que foi assassinada, que se dava pela fotografia deixada em seu quarto e em como estava furiosa pela traição que receberá de seu namorado e sua amiga. Eles também não chegaram a perguntar tanto quanto vinham fazendo agora, então não era como se tivesse surgido uma oportunidade para dar detalhes sobre tudo que acontecerá durante aqueles dez minutos em que ficou na chamada.

— Ela descobriu sobre Margo. Que era obcecada pelo Trevor, e tinha um santuário dele no próprio armário — balançando a cabeça, achando a ideia um absurdo, a morena fez uma careta. — Pensou que talvez tivesse sido ela, quem o matou e vinha matando os outros. E por conta disso, queria vir até a delegacia para incriminá-la.

Agatha virou o pescoço, mirando Gabe, que deu de ombros.

Depois das informações que receberá ontem vindas de Maeve, a respeito da relação intima e incestuosa dos irmãos Morgan, a detetive já não conseguia mais esconder a exaustão de estar tendo que carregar aquele fardo. Toda hora uma nova informação secreta era exposta, pessoas que achavam serem inocentes na verdade eram grandes mentirosos manipuladores, ninguém era confiável, e sempre alguém tinha de morrer para causar ainda mais bagunça naquele jogo invisível.

— Margo e Sierra mortas, e tudo o que já sabemos sobre elas foi dito por outros — a mulher respirou fundo. — Margo era uma stalker. E Sierra amava o irmão mais do que deveria. Alguém sabia disso, e planejou esse esquema para eliminá-las.

Trust No One (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora