Talvez, de fato, o problema fosse ele, não porque o mundo girasse em torno dele, mesmo que às vezes ele sentia que passava essa energia, mas sim por só saber que tinha alguma coisa errada.
Às vezes ele se sentava no banco do campus da faculdade e repensava sua trajetória de vida, tentando encontrar um motivo para ter os transtornos que tem - ou que um dia teve, porque, na cabeça dele, não se passavam de nada além de estágios e hoje em dia ele se curou, era só drama, ele se manipulou a pensar dessa forma. E sinceramente ele não achava nenhum. Foram bullyings e LGBTfobia que ele sabia que não era o único que havia sofrido aquilo, foram falas chatas de sua mãe também ao longo dos anos, foi o distanciamento de sua outra mãe também, mas, cá entre nós, ele queria que acontecesse coisa pior a ele para ter motivo pelas coisas que ele já até foi obrigado a se medicar.
"Não é tão profundo." Ele se dizia com frequência. E isso o fazia se sentir um imbecil por ter sido mentalmente instável por alguns anos por absolutamente nada, foi o que se convenceu.
Ele também, de forma egoísta e até nacircista e infantil, queria que pelo menos alguém chegasse nele e dissesse que ele tinha motivo de ser da maneira que era, de ter recebido diagnósticos que recebeu. Era idiota, mas pelo menos seria um motivo.
Ele só queria um amigo. Por que era tão difícil fazer amizades além do uso próprio das pessoas?
"Ei."
Albedo piscou. Viu uma mão grande balançar a frente de seus olhos azuis.
"Ei, branquelo." Agora a voz recebeu um rosto e era bonito. "Isqueiro?" Os olhos azuis dos dois se encontraram por fração de segundos e demorou exatos dois segundos para Albedo raciocinar.
Começou a vasculhar sua bolsa, xingando-se mentalmente por não ter bolsos e tudo estar jogado ali dentro. Quando pegou o isqueiro em mãos, esticou-o para o outro. O de cabelo azul pegou e acendeu o que tinha entre os dedos; pelo cheiro, definitivamente não era cigarro.
"Valeu."
Albedo não era muito interessado em aprender rostos alheios, eram passageiros de qualquer forma, então não examinou como foi a resposta facial do homem, apenas pegou de volta o que deu e voltou a encostar no banco de madeira enquanto via o cabelo azul se afastar.
Ele também não se interessava por nomes e fofocas, então ele não fazia ideia de quem era aquela pessoa, muito menos quem eram os outros homens que ela se encontrou.
Depois de tanto desinteresse, no entanto, Albedo ainda se pergunta o porquê tem ninguém ao seu lado.
×××
Era sábado e isso significava fazer absolutamente nada. Ele não era aquele tipo de aluno universitário que começava a estudar excessivamente logo no início do semestre, atropelando o professor; ele era do tipo que via as aulas, fazia anotações, mas só se preocupava em pegar para ler quando era semana de prova, isso no final do semestre.
Quando ele era adolescente, ele também tinha dificuldade em fazer amigos. Na verdade, desde que se entende por gente, todas as suas amizades surgiram de próprio interesse seu (para não ficar sozinho e evitar bullying de novo) e por ajuda de terceiros. Mas parece que a vida adulta não lhe traz mais essa segurança.
Ele não chega nem perto de ser vítima de bullying de novo - dessa vez só se for vítima de crime mesmo -, ele não é mais o calouro que tem a oportunidade de se juntar a outros calouros, ele não vê nem mesmo um grupo similar a ti no campus. Mas depois de quatro anos sozinho ele também não se interessa mais por isso. Ele diz isso a ele mesmo. Todos os dias.
"Como foi seu dia?" A voz de seu amigo virtual atravessou o seu fone de ouvido enquanto Albedo pintava as suas unhas com toda a concentração do mundo, porque odiava borrar a tinta; não tinha coordenação motora suficiente para apenas tirar o borrado, teria que começar tudo de novo!
"Bem, eu acordei tarde. Desci para comer..." Tentou se lembrar mais um pouco. "Pintei também."
"Oh!" Isso pareceu alegrar Heizou. "E o que pintou?" perguntou animado.
"Uma caneca." Sorriu quando escutou seu amigo bufar, imaginava perfeitamente ele revirando os olhos. "Foi bem interessante na hora, treinei bastante sombra e luz..."
E por cinco minutos, Albedo passou a falar termos técnicos da arte. Sua obsessão no momento.
"Terminei." De repente, o loiro falou. Seu amigo na chamada não podia ver, mas tinha um sorriso satisfeito no rosto de Albedo.
"Terminou o quê?"
"Minhas unhas."
"Qual cor?"
"Azul escuro."
"Fica bem em ti, porque suas unhas são longas em uma mão de artista." Houve mais um silêncio. "Bedo, vou ter que desligar. Vou sair para um bar com alguns amigos meus e meu namorado... E o namorado dele." Riu baixinho.
"Oh... Tudo bem. Toma cuidado quando for sair de lá, sei que vai beber até quase desmaiar."
"Terei Kazuha para cuidar de mim e ele vai obrigar o namorado dele a cuidar de mim também." Kazuha era seu namorado.
"Não parece muito a cara de Gorou concordar com isso." Os dois riram. "Mas acho que é para isso que serve o poliamor."
"Eu concordo. Beijos, até hoje mais tarde ou amanhã."
"Até."
Então o quarto caiu em silêncio, mas não o mesmo de quando era o silêncio da ligação.
Albedo queria sair para bares também. Queria ter amigos e um namorado.
×××
Na segunda-feira, Albedo estava trabalhando meio período na cafeteria perto do campus da sua universidade. Não era o pior trabalho do mundo, só precisava prestar atenção para não errar um único ingrediente, se não, foderia todo o pedido.
Ele não desgostava de lá, mas também não o amava. Lidar com público era estressante pra caralho às vezes.
"Bem vindo." Ergueu os olhos azuis e encontrou outros azuis mais escuros em sua direção. Não era o mesmo homem que pediu seu isqueiro? "O que posso fazer por você?" Seu rosto era sem expressão como sempre. Ele tentava sorrir de vez em quando, mas ele realmente não queria e não via necessidade para isso; às vezes sem querer se pegava sorrindo porque um cliente sorriu, era automático.
"Olá. Quero um café."
Silêncio.
Bem, era uma cafeteria.
Eles tinham café.
"Qual café?"
"Ah." Riu. Parecia envergonhado ou nervoso, Albedo não sabia diferenciar. "Caffè Latte, por favor." Suas bochechas pardas estavam vermelhas.
"Ok." Mostrou ao homem de cabelo azul o valor do café, perguntou forma de pagamento e, pronto, passou o pedido para os funcionários que lidariam com a produção do café. O problema foi que o homem continuou parado no seu caixa, atrapalhando a fila andar. "Posso ajudar?"
"Oh. Não." Desviou o olhar. "Obrigado." Caminhou para o outro lado do balcão.
"De nada", respondeu baixinho.
Dessa vez, olhou o homem de cima a baixo. Cabelo ondulado e longo, batia quase na altura da sua bunda. Alto, devia ter um metro e oitenta. E magro. Ombros largos, mas quadril pequeno. Uma cintura fina. Ele não estava interessado, mas já era a segunda vez que se encontravam, talvez valesse a pena memorizar um pouco dele, não é? Desviou as iris para o cliente que chamou sua atenção e seguiu com o pedido normalmente.
agora o wtt deu de dar dois espaços entre os parágrafos meu deus q raiva desse aplicativo
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uma colina em chamas ⨾ kaebedo
Fanfiction+18 | A vida de Albedo era a universidade. Acordava todos os dias nos mesmos horários, fazia o mesmo trabalho, ia para a mesma aula e fumava o mesmo cigarro durante quatro anos da sua vida. Felizmente tudo muda quando um rapaz alto e de cabelo azul...