Capítulo 1. O divórcio

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Oi oi gente!
Essa é a minha primeira história e espero muito que vocês curtam, qualquer coisa só deixar um comentário e a gente bate um papo! E claro, se gostou não esquece de compartilhar pra ajudar essa escritora insegura. 

Obs: Pra quem está chegando agora, postei no capítulo 30 sobre os personagens, fotos, características e descrições. Deveria ter feito isso antes mas relevem kkkry. bjs

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O caminhão já estava parado em frente a nossa casa há horas. Corrigindo, nossa ex-casa que agora voltava a ser minha. Desde quando nos separamos definitivamente ela vinha levando suas coisas aos poucos, deixando a maior parte para o final. Esse final.

Eu acompanhava silenciosamente a movimentação no canto da sala, com os braços cruzados e o ombro escorado na parede. Apesar do entra e sai de homens grandes carregando coisas enormes nos ombros, nada chamava mais minha atenção do que a figura dela parada no meio da sala, olhando ao redor afim de absorver aquele último momento, aquele lar que também foi seu durante tantos anos.

Percebi quando ela balançou a cabeça e puxou o ar, se movendo em minha direção até nossos olhos se encontrarem. Prendi a respiração e apertei os lábios. Eu estava fugindo desse momento.

- Acho que já terminamos. - Sua voz saiu tão fraca quanto minha respiração.

Olhei ao redor afim de evitar seus olhos. A sala estava parcialmente vazia, sem sofá, sem aparador, sem mesa de centro, sem os nossos quadros que eram os meus favoritos. Apenas um quadro se destacava na parede do corredor, o único solitário, todos os outros ela tinha levado.

- Você não vai levar o Romano? - Disse finalmente a encarando novamente.
- Não, ele sempre foi mais seu do que meu. E na verdade, é o seu favorito.
- Nossa, quanta gentileza. - Disse ironicamente.

Permanecemos em silêncio por alguns segundos. Eu conseguia ouvir meu coração batendo dentro do peito. Encarar seus olhos dentro daquela casa pela última vez estava me sufocando. Um misto de sensações tomava conta do meu corpo, lembranças passavam em minha mente como um trem desgovernado, tantos flashs em meio ao seu rosto, vozes, risadas, cheiros, gostos.

Abaixei a cabeça e senti minha respiração pesar. Um bolo se formava em minha garganta, quente, incômodo, pesado. Levantei novamente a cabeça para dizer algo, mas fui interrompida por seus braços puxando minha cabeça para o seu peito. Não pude conter, me deixei explodir em um choro agressivo e molhado. Meu corpo tremia encostado ao dela que me prendia cada vez mais forte. Suas mãos apertavam meu cabelo. Nunca, em toda minha vida, pude imaginar o momento que me divorciaria da mulher que me casei no começo da minha fase adulta. Nosso casamento nunca foi surpresa para ninguém, foi consequência. Passamos por mais momentos felizes do que difíceis, por isso jurei que envelheceria ao lado dessa mulher. Pra sempre. No entanto, não fomos capazes.

Levantei a cabeça do seu peito ainda abraçada ao seu corpo, meu rosto molhado denunciava meu estado deprimente. Ela passou seus dedos embaixo dos meus olhos, limpando minhas lágrimas. Pousou suas mãos em meu rosto enquanto me olhava nos olhos. Eu queria parar esse momento pra sempre e morrer. Seria minha última lembrança.

- Aqui nos despedimos. - Ela disse num sussurro, soltando meu rosto.

Segurei sua mão quando ela abaixou o braço, enrosquei nossos dedos e pude sentir a ausência da sua aliança. Olhamos juntas para baixo, meu movimento chamou sua atenção.

- Você acha que nós podemos... - Quebrei o silêncio. Senti seus dedos apertando os meus antes dela soltar de vez.

- Lavine. - Sua voz era rouca e firme. - Nossa incompatibilidade não tem conserto. Não podemos consertar isso.

Apertei os lábios. Eu sabia. Sabia que nossa incompatibilidade não tinha conserto, que queríamos coisas diferentes e esse era o caminho mais perigoso por qual os casais passavam. Quando seus caminhos começavam a seguir outro rumo e deixavam de ser "nosso" para ser "meu" e "seu". Quando suas incompatibilidades não conseguiam achar um dominador comum e tudo começava a ruir. O castelo começaria a ter paredes rachadas. Meu castelo já tinha desmoronado fazia tempo. Apesar de ainda ser inacreditável aceitar que estávamos nos separando por causa disso. Que estávamos jogando oito anos das nossas vidas no lixo.

- Eu preciso ir. Ainda tenho que arrumar essas coisas. - Ela disse enquanto se afastava de mim e procurava sua bolsa.

Soltei o ar com força me virando de costas pra sua presença. Eu não tinha capacidade emocional pra vê-la saindo por aquela porta tão inabalável. Ela sequer derramou uma lágrima. Me aproximei do balcão da cozinha que dava para o outro lado da sala, o ambiente fazia parte da cozinha americana. Espalmei as mãos no granito gelado e abaixei a cabeça entre os braços. Sentia meus braços tremerem. Eu estava gelada. Ouvi a maçaneta girar e me virei rapidamente para ela prestes a sair.

- Paola, espera. - Disse finalmente.

Ela parou entre a porta meio aberta e me olhou, seus olhos estavam vermelhos e ela me olhava com aquela cara que iria chorar a qualquer momento.

A fitei por alguns segundos antes de dizer. - Você não se arrepende? Você não se arrepende de estar fazendo isso com a gente?

Paola parecia surpresa com a minha pergunta.

- Eu não vou deixar você jogar a culpa desse divórcio todo nas minhas costas, Lavine. Se tem uma coisa que eu entendi é que não foi culpa nossa. Eu não devia estar tendo que escolher entre uma coisa e outra. Você não entende. Eu nasci pra ser mãe. - Paola parecia cuspir as palavras na minha cara. - Eu não devia estar tendo que escolher entre o amor da minha vida e realizar um sonho no qual nasci pra realizar, mas estou. E infelizmente não há nada que eu possa a fazer a não ser ir embora.

Ela saiu num rompante batendo a porta me fazendo tremer com o barulho. Encostei o corpo na bancada as minhas costas e permaneci em silêncio olhando a porta. De repente fui invadida por uma fúria incontrolável que me fez soltar um grito de dor, ódio e desespero.

Girei nos calcanhares e fui até a adega embaixo da pia, peguei um vinho o colocando em cima da bancada e o abri rapidamente. Enchi minha taça e dei o primeiro gole.

- A Paola realmente não tá pra brincadeira. - A voz da minha amiga me fez levar um susto.
- Jesus Cristo, Ana Beatriz. - Disse levando a mão no peito. - Você parece uma assombração.
- Eu estava só esperando ela sair pra poder entrar. - Ela disse passeando pela sala olhando ao redor. - Mas ela levou tudo mesmo, hum?! - Seus olhos arregalaram de repente. - Até o sofá?

- Era dela, Bia. - Ergui novamente a taça e tomei outro gole.

Beatriz se aproximou de mim na bancada e pegou outra taça, entendi o recado e a enchi. Ela ergueu sua taça afim de fazer um brinde. Revirei os olhos e bati levemente minha taça na sua.

- A sua solteirice, minha amiga. - E bebemos.

Em busca de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora