Capítulo 2. A festa. Parte I

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Três meses depois.

Tudo estava confuso e corrido, era surreal a virada que minha vida havia dado em um curto período. Além de redecorar minha casa praticamente inteira, cortar o cabelo três vezes seguidas porque ele nunca ficava curto o suficiente no meu pescoço, superar um coração partido pelo bendito pedido de divórcio da minha queridíssima ex-esposa, ainda tinha que me preocupar com o evento beneficente que minha família promovia todo ano, apesar dos meus pais terem falecido da forma mais brutal e misteriosa num acidente de carro nunca resolvido. Era tradição da nossa família, e desde então, promovíamos mesmo sem suas presenças que tanto faziam falta. Nossa família era responsável por quinze ONGS, ajudávamos animais em situação de rua, crianças em situação de vulnerabilidade, orfanatos, e idosos que eram abandonados por suas famílias. Meu pai criou esse projeto cinquenta anos atras junto com seus irmãos, nunca soube muito bem o motivo que o levou a fazer esse ato tão grandioso, mas ele era um ser humano incrível então isso já era o suficiente. Seu legado estava a salvo.

Ainda estava na expectativa do meu irmão aparecer apesar de ter ignorado todas as minhas ligações e mensagens. Saí para o jardim pela primeira vez nessa noite calorosa, queria ver com meus próprios olhos a coisa toda tomando forma antes dos convidados chegarem. Muitos funcionários passavam apressadamente executando suas tarefas. Um pequeno palanque foi posto antes da piscina, tendo sua extensão toda iluminada por um amarelo âmbar. Mesas redondas com panos brancos completavam o espaço inteiro do jardim, cadeiras roses acolchoadas complementavam a decoração num encaixe perfeito. Tudo estava incrivelmente iluminado, todas as árvores e arbustos de cada canto daquele jardim sinuoso possuíam uma iluminação amarelo quente. Garçons passavam apressadamente entre as mesas acertando os últimos detalhes. A recepcionista já se encontrava parada em frente ao portão de entrada aguardando os convidados e checando os últimos papéis. Meu cabelo ainda estava um pouco úmido me deixando levemente arrepiada no pescoço. Esse também seria o primeiro evento que eu apresentaria sozinha, sem minha esposa. Quer dizer, ex-esposa. Bom, Paola. Meu celular tocou alto afastando meus pensamentos.

- Me diz que você não vai se atrasar. – Disse.
- Eu vou me atrasar. – Era a Bia.
- Bia!!!
- E eu também liguei para avisar que estou levando uma amiga, ela acabou de chegar na cidade e está desesperada por bebida boa de graça, gente bonita, elegante e rica. É a oportunidade perfeita! Me diz que posso levá-la?! – Ela falava rápido demais para que eu conseguisse acompanhar.

Neguei com a cabeça, era muita informação em tão poucos segundos.

- Claro. Só não se atrase muito.

Terminei a ligação e fui até a recepcionista. Informei que Ana Beatriz traria uma acompanhante e autorizei sua entrada. Revisei com ela os últimos detalhes da recepção, confirmei alguns nomes antes de ir novamente para casa. Em silêncio, em pé no meio da sala, pude repassar mentalmente o discurso que faria mais tarde. Os convidados estavam começando a chegar. Passei rapidamente a mão entre os cabelos, me olhei a última vez no espelho e saí.

Cheguei do outro lado do jardim, em frente ao portão de madeira que cobria parcialmente a frente da minha casa. Os primeiros convidados começaram a entrar. Era minha família, como sempre.

- Alberto! – Abri um sorriso ao ver meu tio entrando de braços dados com sua esposa.
- Minha querida sobrinha favorita. – Ele se desvencilhou da mulher e veio em minha direção, me dando um abraço apertado.
- Você diz isso porque sou a única. - Cumprimentei sua esposa com um sorriso nos lábios.
- Lavine, como sempre muito elegante. Esse tom realmente fica muito bem em você.

Eu estava usando uma saia branca apertada até acima dos joelhos e uma blusa de alça fina em tom pastel. Meu decote discreto queimou com seu olhar. Agradeci sua gentileza e os vi seguindo Vanessa, a recepcionista, até a mesa.

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