Capítulo 16. A tempestade de verão é a chuva ou você?

258 26 72
                                    

Era sábado à tarde e o calor no Rio de Janeiro estava beirando o caldeirão do inferno, o ar seco insuportável queimava meu nariz e era difícil até para respirar. Ameacei sair da floricultura quando vi um raio atravessando o céu e explodindo em algum lugar logo em seguida. Apertei as flores contra o peito e fechei os olhos. Eu tinha pavor de temporal. Em poucos segundos uma ventania tomou conta da cidade, barulho de coisas voando e trovões explodindo. Respirei fundo e saí correndo em direção ao carro estacionado do outro lado da rua.

A chuva começou a cair com força assim que entrei no carro. Suspirei aliviada colocando as flores que comprei no banco do carona. Olhei ao redor chocada com a quantidade de chuva caindo em poucos segundos, era uma tempestade de verão. Isso quer dizer que, ia chover bem mais do que isso. Liguei o carro e fui embora, chegar em casa ia ser uma missão quase impossível.

A visibilidade era horrível e o trânsito estava praticamente parado, as ruas estavam alagadas, as pessoas impacientes desesperadas para chegar em casa, buzinas, carros, motos, ônibus, pessoas ilhadas passando pela água quase no joelho. Um verdadeiro caos se formou em poucos minutos. O barulho da chuva era tão forte que por um segundo pensei que fosse afundar o vidro do carro. O sinal estava aberto, mas ninguém andava, nada se movia. Recostei a cabeça no banco enquanto me distraia ouvindo música, não tinha o que fazer. O jeito era esperar. Bati os dedos no volante conforme as batidas da música e olhei pela janela através do vidro reparando nas pessoas que estavam na rua, no meio da chuva. Um casal de mão dada tentava se proteger do vento e da chuva embaixo do ponto de ônibus, uma senhora lutava contra seu guarda-chuva tentando mantê-lo no lugar, outra mulher mais atras andava pela calçada. Ela usava uma jaqueta jeans e estava de braços cruzados. Suas roupas e seu cabelo longo estavam ensopados. Acompanhei atentamente seus movimentos e senti meu estômago revirar. Limpei o vidro embaçado e levantei a cabeça, olhando mais de perto. Senti uma lufada de ar gelado tomar conta do meu corpo quando percebi que era Mackenzie. Seu cabelo loiro estava quase irreconhecível molhado daquele jeito. Mas eu reconheceria aquela covinha tímida em qualquer lugar, mesmo longe, mesmo na chuva.

Em qualquer lugar.

Olhei pelo retrovisor para ver se passava carro e avancei para o outro lado da pista, joguei o carro na calçada a fazendo dar um pulo de susto. Me inclinei para o lado abrindo a porta do passageiro e a empurrando com força para trás. Olhei para ela que permanecia imóvel me olhando de volta.

- Entra! – Disse, por fim.

Mackenzie pegou as flores em cima do banco e entrou, sentando em seguida. Ela estava realmente toda molhada.

- Nossa! Isso tudo é para sua namorada?

Manobrei o carro voltando para a pista.

- Não, e eu não tenho namorada. – Olhei para ela de rabo de olho. – São para minha casa.

Mackenzie se inclinou colocando as flores no banco de trás. Estiquei o braço e abri o porta-luvas, pegando um pacote de lenço de papel e jogando em seu colo.

- Parece que eu tenho uma sina de sempre te encontrar molhada. - Disse baixo.

Ok, isso não era exatamente o que eu queria ter dito. 

- Obrigada. – Disse secando o rosto.

- Então... As ruas estão cheias e eu não faço ideia de como sair daqui.

- Dá a volta no mercado e tenta pegar a próxima à esquerda. – Ela disse tirando a jaqueta e abrindo o vidro.

Olhei para ela sem entender.

- Lá não enche tanto e talvez a gente consiga pegar a principal. – Mackenzie torceu com força a jaqueta pela janela enquanto me olhava, seu sorriso sútil fez sua covinha apontar.

Em busca de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora