Prólogo

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Adeline Percy
Londres, Inglaterra - 2022

— Você é uma inconsequente, Adeline — o zumbido da minha cabeça era insuportável a cada frase que eu ouvia. — Não pensa nas consequências de seus atos e só me traz problemas, porra!

Eu já perdi as contas de quantas vezes escutei estas mesmas palavras ao longo da minha adolescência. Não que eu seja uma pessoa fácil, realmente sou difícil de lidar, mas não é exatamente com isso que meu pai se importa, ele se importa com a dificuldade em me moldar. Senhor Percy espera que eu seja igual minha mãe e minha irmã, que estude o que ele escolher, faça o esporte que ele escolher, frequente o lugares que ele quiser e tudo que eu faço é o contrário.

Bem que ele gostaria que fossemos todos uma família de porta-retrato e missa aos domingos. Invés disso, ele tem Angelina e minha mãe, que o fazem manter uma boa visão aos desconhecidos.

— Está de castigo. — foi a última coisa que disse antes de sair batendo os pés pelo corredor.

Pelo pouco de seu sermão que prestei atenção, tinha a ver com a multa que levei por pilotar sem capacete. Eu tinha uma ótima justificativa: fui roubada.

Isso não é uma mentira e eu bem gostaria que fosse, era o meu capacete favorito, mas independente de tudo, meu pai não iria ligar, apenas gritar e brigar pela meu descuido. "Você tem tantos outros, por que sair sem?!". Talvez porque eu estava voltando da faculdade e não tivesse um capacete reserva no armário, pai, que tal? Porra.

Peguei minha jaqueta que estava pendurada na cadeira e sai do quarto. No momento do sermão, estava me arrumando para ir a faculdade, devo ter perdido pelo menos uns dez minutos de aula, contando com o fato de que eu só saio de casa encima do horário. Desci as escadas a passos rápidos e deixei um beijo em minha irmã, que estava na cozinha.

O que meu pai quis dizer com castigo foi que eu estava proibida de pilotar, mas ele sabe que nunca funciona. A primeira coisa que fiz foi pegar o capacete preto que estava repousado em cima dela, subir na moto e ouvir o escapamento roncar assim que pisei no pedal de partida.

Estacionei onde a algum tempo decidi que seria minha vaga e de mais ninguém. As pessoas tem uma mania estranha de temer pessoas das quais elas nem conhecem, nesse caso, eu. Desde que cheguei aqui, tive dificuldade em saber quem tinha decência para andar comigo, pois a cada passo que eu dava, era uma tensão diferente que eu criava nas pessoas.

Ser temida faz bem para o ego, não vou reclamar. Ter uma vaga só para mim é ótimo, receber olhares de medo também e ver mulheres das quais você poderia jurar serem heteros te olharem como se você fosse uma predadora é ainda melhor. As pessoas temem o que não conhecem e se a ignorância as deixam confortáveis, não é problema meu.

Atravessei o patio do campus e adentrei a sala onde teria minha primeira aula do dia.

— Está atrasada — uma voz alcançou meus ouvidos antes mesmo que eu desse dois passos para dentro, uma voz que era desconhecida por mim. Virei o rosto para encontrar a pessoa que me repreendeu pela segunda vez no dia e me assustei quando no lugar do meu professor grisalho encontrei uma mulher de cabelos escuros e óculos de grau parada em frente a turma. — Senhorita...?

— Percy... — respondi cerrando os olhos, estranhando a presença dela. — Adeline Percy. — acrescentei.

— Adeline Percy, está atrasada. — ela repetiu.

Senhorita AspenOnde histórias criam vida. Descubra agora