Capítulo Oito

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Cecília Aspen
Londres, Inglaterra - 2022

Meus dias estão sendo infernais. Exatamente, eu me sinto no inferno, tanto pelo caos que está minha mente, quanto o fogo que erradia do meu corpo sempre que penso em Adeline.

Maldita aluna.
Desgraçada.
Infeliz.
Gostosa...

Há alguns anos, esse tipo de comportamento vindo de mim, me causaria pânico e agora, eu pareço não ligar para nada. Meus pensamentos são incessantes quando se trata dela.

As aulas retornaram e desde então não a vi, não ouvi falar em seu nome e todas as ligações perdidas que costumavam acumular nas minhas notificações, não estavam mais lá. Eu me obriguei a ignora-lá e agora ela havia sumido. Quando sai de casa hoje de manhã, sua moto estava estacionada na garagem, algo que particularmente eu nunca havia visto, já que Adeline não larga dela.

Os corredores estavam agitados, barulhentos, as lonas postas em locais a serem reformados deixavam tudo carregado e distante do que antes fora. As risadas no entanto não cessaram, mas meu peito começava a estranhar a falta que ela estava fazendo, a via inúmeras vezes pelos corredores, sempre envolta das mesmas pessoas e hoje, não a vi. Nem ontem. Nem anteontem. Estava começando a me preocupar.

Adentrei a sala que teria a primeira aula e passeei sorrateiramente com o olhar pelos alunos presentes, na esperança de que meus olhos cruzassem com a loira que tem balançado meus pensamentos. E nada. Não a vi.

Os minutos se passaram e o primeiro tempo da aula parecia ter durado um século, até o segundo estar prestes a iniciar.

Adeline passou pela porta que ficava a esquerda da enorme sala. Parecia perfeitamente bem, ela não estava nada diferente do que costumava ser. Os cabelos estavam soltos, jogados para a direita, os braços livres expondo suas inúmeras tatuagens e a carranca de uma pessoa intocável. Ela não me olhou durante o percurso que fez até seu lugar habitual e também não olhou para mais ninguém.

Meu coração parece ter errado um batida quando de seu lugar, ela me olhou, me analisou e depois desviou o olhar, com uma cara de desprezo que me levou a confusão extrema.

💋

A aula terminou e como se não bastasse as minhas paranoias, Adeline também não colaborou comigo quando decidiu que participaria ativamente dos mínimos debates que aconteciam durante o tempo torturante que ficamos no mesmo ambiente.

— Senhorita Percy — a chamei antes que ela pudesse sair da sala. Ela não iria de maneira alguma desaparecer outra vez sem antes conversarmos. — Pode ficar, por favor? — Adeline parou no instante que me ouviu chamá-la, se virou e me encarou neutra antes de se aproximar.

— Algum problema, professora? — perguntou, assim como no nosso primeiro diálogo. — Posso te ajudar?

— O que tem de errado com você? — perguntei. — Por que sumiu por três dias?

— Não sei, Cecília — ela falou meu nome com tanta entonação que me assustou. — Me diz você, o porquê tem me ignorado a semanas.

Ah, ok.

Não que eu houvesse esquecido que estava ignorando-a a duas semanas e também não pensei que ela fosse esquecer. A verdade é que eu virei uma covarde desde aquele beijo. Eu não consigo pensar na possibilidade de estarmos perto uma da outra e não fazermos nada, sinceramente, se eu não fosse tão profissional e se qualquer ato impensado meu não acabasse com as nossas vidas, eu já teria pedido que ela me fodesse bem ali, em cima daquela mesa.

Senhorita AspenOnde histórias criam vida. Descubra agora