Capítulo Seis

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Cecília Aspen
Londres, Inglaterra - 2022

Às duas horas, eu esperava Adeline, foi o horário que combinamos por mensagem.

Gostaria de entender o que me fez aceitar tal pedido, o que me levou, em um ato tão impulsivo, aceitar recebê-la em minha casa para aulas particulares. Eu vi e revi o boletim daquela garota milhares de vezes, algumas semanas não fariam diferença alguma para ela e, para mim, seriam apenas uns dias de folga.

Minha capacidade de racionalidade foi completamente comprometida desde que conheci aquela loira.

Tenho os pensamentos interrompidos quando batidas precisas sooam na porta, levanto em euforia do sofá onde estava e caminho a passos rápidos até a entrada.

Encontro Adeline encostada no batente após abrir a porta, perco longos segundos, ou talvez minutos, analizando a centímetros o quanto ela está e é escandalosamente linda.

— Oi, professora — cumprimenta, seus olhos percorrem meu corpo, analisando-me, ainda estava usando o robe azul no qual ela me viu mais cedo pela janela. — Onde estão suas saias lápis e seus saltos altos? — pergunta.

— No armário, gostaria de ver? — provoco, não intencionalmente sexual, mas é o que parece e o que ela entende, quando um sorriso sem vergonha surge em seus lábios. — Entre.

A ouço murmurar um "Com licença" após lhe dar espaço para entrar, me virei para fechar a porta e quando voltei para olhá-la Adeline encarava uma pintura minha, que ficava a metros do chão na parede norte da casa. Foi pintada a anos, quando eu devia ter no máximo vinte e quatro anos e me encontrava sentada numa cadeira, vestindo um vestido longo quase bege, em uma pose desleixada, olhando para o chão.

— Gostou? — pergunto quando a vejo perder tempo demais no quadro.

— É incrível — diz, os olhos não deixando a pintura. — Parece uma pintura renascentista, quando foi feita?

— Há alguns anos.

Ela nada diz, apenas me olha e quando não sustento seu olhar, me segue até que entremos na sala de jantar, onde aconteceriam nossas aulas particulares inadequadas, em um ponto de vista extenso.

— Aqui é bem diferente do que eu costumava imaginar. — Adeline balbucia, sentando-se na cadeira em minha frente.

— Como pensava que fosse? — pergunto, enquanto abria qualquer coisa no laptop que me impedisse de manter contato visual com ela.

— Escura — diz. — Rústica, quente e triste.

— Nossa — indago, vendo-a, mais uma vez, admirada pelo cômodo. — Você realmente tinha uma péssima imagem daquele senhor.

— Ele era um asqueroso, não é surpresa que eu tinha uma péssima imaginação sobre o interior desta casa — explica. — Mas aqui é muito bonito, muito mais aconchegante que a minha. — tento visualizar o interior da mansão Percy e consigo enxergar perfeitamente cômodos brancos e quase vazios.

— Ao menos o seu quarto deva ser interessante, não?

— Quer ir descobrir? — pergunta, sinto minhas bochechas ruborizarem e Adeline sorri, percebendo que conseguiu claramente o que queria, me deixar sem jeito. — Mas sim, o meu quarto e de minha irmã são os únicos lugares que prestam por lá.

Senhorita AspenOnde histórias criam vida. Descubra agora