Capítulo Cinco

339 34 4
                                    

Adeline Percy
Londres, Inglaterra - 2022

Eu só precisava lembrar de uma maldita coisa, que era, me manter longe dela e procurá-la apenas para fins acadêmicos. Não consegui. Algo em Cecília pavorosamente me interessa mais do que é seguro para nós.

Tento prestar atenção na pista um pouco molhada devido a chuva matinal e é inútil quando minha professora de ética está ao meu lado, exalando um cheiro tão bom que me sinto realmente bêbada. Quando a questionei sobre seu estado, já imaginei que mentiria, afinal, ela não parece o tipo de mulher que externa com facilidade suas dores ou emoções, mas na mesma facilidade que teve em mentir a primeira vez que perguntei, também teve facilidade em me contar a verdade na segunda.

Nunca me preocupei muito com as pessoas além de meus amigos e minha família, e é assustador ver o tanto que eu tenho me importado com ela.

O silêncio no carro é ensurdecedor, gostaria de saber o que ela está pensando, se acha a situação constrangedora ou se sente bem em estar comigo. A desafiei na intensão de provoca-la curiosidade sobre mim, recebi um pedido para que a levasse para casa e fui realmente surpreendida.

Em quatrocentros metros, vire a esquerda. — o GPS era o único barulho dentro do carro, do lado de fora, um engarrafamento estressante e conturbado devido a chuva. Passamos a pouco por um acidente de carro, o que parou consideravelmente o trânsito.

— Pode desligar isso, por favor? — Cecília mandou, parece que até tentou pedir, mas seu tom era pura ordem.

— Se você for me dizer o caminho, eu desligo. — digo, olhando para ela, que mantinha os olhos fixos da janela antes de me olhar com os olhos estreitos.

— Não.

— Então nada feito.

Cecília parece ponderar a ideia de ela mesma desligar o celular falante e assim faz quando vê meu sorriso brincalhão escancarado em meu rosto.

— Ei! — falo e a vejo sorrir. — Você espera que eu chegue na sua casa como se não quer deixar o celular ligado e nem me dizer o caminho? — pergunto a encarando e ligando o limpador de parabrisa assim que a chuva começa a cair bem mais forte do que antes.

— Ficaremos neste trânsito pelo menos uns vinte minutos — informa, sem manter por muito tempo nosso contato visual. — Considerando a chuva que acabou de começar, vai demorar até que eu tenha que te orientar.

— Não saber quanto tempo terei que aguentar o silêncio ao seu lado, é querer me sucumbir a loucura.

— Isso é tão ruim?

— Ficar do seu lado ou sucumbir a loucura?

Cecília umedece e prende o lábio inferior nos dentes antes de responder.

— Primeira opção.

— Levando em consideração que a senhorita disse que eu era clichê e egoísta a alguns minutos — a encaro, Cecília mantinha os olhos presos nos meus lábios. — É um pouco ruim, sim.

— Eu não disse que você era egoísta, Adeline.

— Você disse que eu me importava apenas comigo mesma, isso é ser egoísta para mim. — os carros começam a se movimentar novamente, mas não muito rápido para normalizar o trânsito.

Senhorita AspenOnde histórias criam vida. Descubra agora