Capítulo Quinze

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Cecília Aspen
Londres, Inglaterra - 2022

A cada palavra que Adeline dizia, era um pedaço do meu coração que recebia uma nova ferida. Ela havia passado pelo inferno, chegando próximo ao sentido literal e é como se tudo que ela transparece para as pessoas, é apenas um retrato dos seis anos miseráveis que ela viveu.

É degradante pensar que por fora e a vista dos desconhecidos ela seja uma garota tão estereotipada, porque ela é tudo que não parece. Adeline não é fria, não é egoísta e muito menos amedrontadora. Ela é só uma garota, que foi atormentada e ainda assim, conseguia ter o coração lindo.

— Eu tive medo de me tornar uma pessoa horrível depois que aquele tormento todo acabou. — ela disse, estava deitada em meu colo, enquanto eu acariciava seus cabelos loiros.

— E você se tornou? — perguntei, eu tinha quase certeza de que não, que ela nunca poderia ser alguém ruim depois de ter aguentado mais do que deveria.

— Eu não sei — respondeu, suspirando pesado. — Tive medo de que a dor que eu sentia ao longo dos anos não fosse embora e me consumisse para sempre.

É explícito que ela temeu que a dor a dominasse. Passar pelo que ela passou é traumático ao ponto de você esquecer a pessoa que é.

— Acho que você não iria conseguir ser uma pessoa ruim, nem se quisesse. — digo à ela.

— Você é a primeira pessoa à saber disso. — ela revela.

Sinto algo estranho no peito quando Adeline diz isso. Ela confiou seu passado dolorido apenas à mim? Por quê?

— Como? — pergunto, ainda confusa.

— É isso mesmo — deixa meu colo para me olhar nos olhos. — Eu nunca tive coragem o suficiente para contar isso à outra pessoa.

— E porque confiou isso à mim?

— E-eu não faço ideia — sibila, seu rosto estava com as expressões distinguidas, ela transparecia tudo que sentia. — Não sei o motivo, mas eu me sinto tão bem do seu lado, Cecília.

E eu mais ainda.

Eu queria tanto ouvir algo assim vindo dela, porque eu não queria sentir que estava sentindo tudo sozinha, queria ter a certeza de que com ela as coisas eram recíprocas.

— O que isso quer dizer? — pergunto, querendo ouvi-lá dizer o que eu queria ouvir. Que ela gostava de mim e queria que eu ficasse ali.

Mas ela estava calada, apenas me encarando. Talvez não tivesse certeza de seus sentimentos e eu não esperava que tivesse, pois, nem eu mesma tinha dos meus. Eu só sabia que sentia algo por ela, um sentimento bom de felicidade, por apenas estar ao seu lado, na sua companhia e que à tanto tempo eu não me sentia assim.

Ela me olhava, os olhos perdidos nos meus, a boca meio seca e entre aberta tentando encontrar as palavras.

— Você sente também? — perguntou sem parar de me olhar.

— O quê?

— O coração acelerado, as mãos suadas e a vontade de não ir embora — diz. — Porque eu sinto tanto quando você está comigo, sinto meu peito aquecer quando você segura minha mão, quando me olha e me beija. Você não sente?

Intercalei seus olhos, procurando algo que dissesse o contrário. Acho que ouvi-lá realmente dizer, era assustador para mim e eu queria que fosse mentira. Porque, se ela também sentia, tínhamos uma chance de construir um sentimento mais sólido, o que significaria que ficaríamos juntas. E eu não posso ficar com ela.

Senhorita AspenOnde histórias criam vida. Descubra agora