Capítulo Quatorze

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Adeline Percy
Londres, Inglaterra - 2022
Tw: Estupro.

Estávamos em silêncio a vários minutos,  tudo porque eu pensava demais e me faltava coragem para te dizer a verdade sobre minha vida.

Não sei porque deveria confiar isso à ela, mas eu sinto uma necessidade enorme de lhe contar sobre mim, de dizer a pessoa que eu verdadeiramente sou, porque eu quero que ela fique comigo apesar de tudo. E só se ela quiser ficar.

E também me preocupa o fato de a querer comigo, querer que ela fique do meu lado.

Isso é errado. Nós duas somos um erro, uma negligência ética, uma imoralidade sem tamanho, mas eu sinto algo avassalador por Cecília, uma paixão que está começando a arder meu peito e isso é tão assustador.

— Não precisa dizer caso não se sinta confortável. — ela disse a mim, tão empatica. Abaixei os olhos, pois naquele instante não conseguia olhá-la.

Ninguém é perfeito, mas o que Cecília pensaria quando soubesse que eu matei uma pessoa? Quando não entendesse que era a minha vida ou a dele? Mesmo que eu a conheça tempo o bastante para saber que seu coração é lindo, não tenho a certeza de que ele aceitaria algo assim.

Eu vou ser sempre torturada pelo meu passado, mas eu esperava que ele se tornasse um pouco menor quando encontrasse alguém por quem meu coração disparasse.

— Tudo bem — respirei fundo e a encarei, ela mantinha os olhos em mim com uma expressão neutra, de quem apenas esperava que eu estivesse pronta ou não. — Eu vou te contar, mas eu quero que saiba que não é obrigada a continuar na minha vida se isso for demais para você.

— Nada do que me conte me fará ir para longe de você. — Cecília se aproxima e se senta ao meu lado no outro sofá que havia na sala.

Eu nunca havia contado isso para alguém, as únicas pessoas que sabiam eram meus pais. Mas eu quero tanto que ela saiba.

Sentia minha boca seca, minhas mãos geladas e meu coração acelerado. Minha ansiedade estava se manifestando, pois esse era o assunto favorito dela.

— Eu tinha dezesseis anos quando meus pais me internaram em um hospital psiquiatrico — comecei, tentando ao máximo me manter calma. — Eles diziam que eu era imprudente e convenceram, ou melhor, subornaram um psiquiatra a falsificar um laudo dizendo que eu era bipolar, esquizofrênica e, consequentemente, um risco para a sociedade. E com isso, eles conseguiram minha internação em Chicago.

Dizer aquelas palavras em voz alta depois de tanto tempo era como tirar um peso gigante dos meus ombros.

— Mas eu não tinha nada disso, eu era só uma menina — continuei. — Quando eu tinha dez anos, um homem começou a me abusar. Ele fazia isso sempre, todas as vezes em que ele estava na minha casa e ficava sozinho comigo, sempre que tinha a chance ele fazia. E isso se estendeu por seis anos. Eu fui a pessoa mais infeliz dessa terra, minha vida era uma merda, eu me sentia a pessoa mais imunda do mundo. E eu não tinha coragem de contar para alguém.

— Porque ele me ameaçava todos os dias, todas as vezes que esteve comigo. Ele tinha meu número e me ligava no meio da noite para me atormentar, me dizer que se eu contasse, quem pagaria seria a minha irmã. E Angelina sempre foi a pessoa mais importante da minha vida e se não fosse por ela, eu estaria morta, porque eu só pensava em morrer. — Cecília ouvia atentamente, seus olhos começaram a marejar. — Eu tinha tanto medo que ele fizesse algo com ela, que quando ele ia em casa, eu a tracava no quarto, não deixava ela sair sozinha quando chegou na adolescência, tudo por culpa do medo que eu sentia.

Senhorita AspenOnde histórias criam vida. Descubra agora