Capítulo Dezessete

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Cecília Aspen
Londres, Inglaterra - 2022

Fiz as malas. Comprei apenas passagens de ida. Pensei milhões de vezes e eu só queria que ela aceitasse.

Alcancei o telefone na bancada da cozinha e encarei a tela vazia, sem chamadas perdidas. Ela não viria atrás e ao menos tentou conversar outra vez, eu sabia que agora essa responsabilidade era minha.

Encarei o cão que estava sentado aos meus pés, me olhando com aqueles olhos de cachorro pidão. Ele sabia que eu iria para longe em breve. Mas ele ficaria em boas mãos. Acariciei seu pelo e sentei no chão, deixando que ele deitasse a cabeça em minhas coxas.

Ainda com o celular na mão, eu hesitei assim que vi sua foto indicando o contato. Uma foto única que eu mesma havia tirado antes mesmo disso virar o que é. Ela sorria, um sorriso tão bonito que vinha junto de uma gargalhada. A vi no refeitório conversando com os amigos e me atraí assim que a olhei de verdade pela primeira vez.

No dia em que cheguei, peguei no pé dela, pois sabia quem era. Vi seu histórico, pesquisei suas redes sociais e passei a observa-lá muito mais do que eu devia. E eu sabia que devia me manter longe, sabia que não precisava entrar em um território tão perigoso que é o típico caso universitário. Porém, desde o princípio, eu sabia que eu e ela, não seríamos um caso. Adeline e eu seríamos a ruína uma da outra.

Isso é ridículo. Eu sou divorciada, com um passado violento que não pode e eu espero que nunca chegue até ela. E ela é só uma garota começando a vida e conhecendo as possibilidades do mundo.

Mas eu queria uma chance para saber se nós duas seríamos de verdade. Se nossos sentimentos seriam tão fortes ao ponto do universo se romper.

Olhei o contato novamente e assim que estava prestes a ligar, minha campainha tocou. Lembrei que havia pedido comida e me levantei para ir até a porta.

Eu tinha total certeza de que ela não viria, que eu teria que ir atrás se a quisesse de volta. Mas aquele perfume era inconfundível.

Quando abri a porta, um par de olhos azuis me encarou perdido. As íris claras acompanhadas por poças de lágrimas intercalavam meus olhos.

— Não esperava me ver? — perguntou, seus olhos carregavam ira. — Eu também não esperava vir aqui.

Não sabia o que dizer. Se a convidava para entrar, se chorava ou a beijava.

— Não vai dizer nada? — perguntou. Podia ver que Adeline estava brava, atordoada e eu não lhe tiraria a razão.

— Entra. — pedi lhe dando espaço para passar e ela entrou depressa.

Adeline parou de frente para o quadro que na primeira vez que esteve aqui, a hipnotizou tanto. Ela ficou de costas vários segundos antes de se virar para mim.

Eu agi muito mal com ela.

— Esse quadro reflete bem a pessoa que você parece ser e o que mostrou para mim nas últimas semanas. — falou se virando. Seus olhos tão bonitos estavam tristes, me olhando com o que parecia ser desespero e muita confusão.

— Ah, é? — pergunto, sabia que estava completamente encolhida perto dela, com os braços cruzados e a cabeça minimamente baixa. Eu estava com muita vergonha de encará-la.

Senhorita AspenOnde histórias criam vida. Descubra agora