Capítulo 9

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Jimin tem problemas de autoestima, é uma história antiga.

Quando ele veio ao mundo, em uma família boa, ele foi aceito em todos os sentidos, e apesar de ser um menino considerado muito especial e o caçula da família, ele nunca teve aquela afinidade com os pais, desde bem novo sentiu que faltava algo, que havia uma coisa bastante errada nele, não é uma questão de gênero e sim de credibilidade própria.

Se existe coisas a serem evitadas quando temos problemas com autoestima, são as comparações, Jimin se comparava tanto com outras pessoas que ele admirava, que pegava-se tentando imita-las de maneira inconsciente, perdendo a si mesmo durante o percurso.

Houve um tempo em que ele não conseguia se encontrar como pessoa, lhe faltava personalidade, opinião e vontades individuais.

Foi uma questão psicológica na maneira que ele se olhava no espelho e não conseguia ver o reflexo dele mesmo, foram várias pessoas em um único ser que refletiam, não Jimin, boa parte era uma sombra alinhada de Jitae, ou qualquer outra coisa menos o verdadeiro Jimin, esse Jimin ainda não existia.

Por muito tempo ele admirou a irmã mais velha, tentava se destacar nas mesmas coisas que ela durante no período da escola, ter as mesmas manias, o estilo de roupas, usava sozinho as roupas que ela havia deixado para atrás quando se mudou, a forma de fazer amigos. Ele fez tantas coisas para ser quem não era, mas quem admirava.

Quando se admirava excessivamente uma personalidade de maneira toxica, essa admiração torna-se inveja.

Você não quer ser você, você quer ser a pessoa admirada, sentir como é ser ela, ao ponto de desejar prejudica-la, mesmo de maneira inconsciente, mesmo não admitindo, mas o desejo ainda estava lá.

Sem contar que ela parecia ter mais afinidade com o pai deles, ela era a garotinha prodígio que ganhava presença do pai em todas as comemorações.

Certo ponto ele gostaria de ser Jitae, seus pais diziam aos vizinhos que ela é uma filha brilhante, já Jimin é uma criança que necessita atenção e cuidados, consultas com psicólogo, psiquiatra, por todo o bullying e a falta de aceitação do próprio corpo quando criança.

Apesar de sentir falta de Jitae quando ela se foi, ela precisou partir e se afastar para que Jimin tivesse o vislumbre do que era ser ele mesmo, estar na própria pele, sentir as próprias entranhas, os próprios batimentos.

Jimin havia superado essa fase de copiador barato, nesse tempo ele descobriu amar vôlei, pintar e ler livros, nada ligado a Jitae, descobriu que sabia ser simpático, e usar dessa imagem frágil que todos davam a ele e o mesmo odiava para benefício próprio, depois de tal descoberta, ele não se sentiu tão incomodado como antes.

Então, a questão era, quem Jimin se descobriu ser?

Oh claro, Jimin é um menino doce.

Inocente, simpático, delicado.

Jimin é charmoso, feminino, masculino, sem barreiras que o pudesse definir ao todo, um universo de pessoa a desvendar.

Jimin é puro, inteligente, bondoso.

O mocinho indefeso da história, com toda certeza, ele é exatamente isso.

Ele tem adoráveis mãos pequenas que se assemelhavam a patinhas fofas de gatinhos felpudos, mas os gatinhos tem garras escondidas nelas, garras afiadas e cortantes, capaz de fazerem um certo estrago se estiverem próximas aos olhos de alguém.

No entanto, ele é um gatinho bastante jovem, nem havia descoberto o dom das patinhas silenciosas, muito menos as garras que tinham nelas.

Jimin trancou-se no quarto assim que Jitae havia ido embora as pressas, ela nem ao menos se despediu dele, mas ele preferiu assim.

Mary On a Cross.Onde histórias criam vida. Descubra agora