04. TU NE LE CONNAIS PAS?

2.3K 230 142
                                    

maya povs.

Outra vez estou vivendo o fatídico desespero por não saber inglês.

Liguei para a farmácia local, tentando arrumar uma forma de pedir por pílula do dia seguinte sem fazer alarde para Marie; acredito que o farmacêutico entendeu as palavras "anti" e "pregnant" pois vinte minutos mais tarde estou sentada no quarto com uma caixinha em mãos.

É um saco não saber ler o modo de usar mas não acho que deva ser diferente do óbvio para qualquer remédio; então busco um copo de água e a tomo junto à ele.

Não podia me dar ao luxo de ter filhos à esta altura do campeonato, ainda mais solteira e prestes a entrar para a universidade.
Pior ainda sendo de um futebolista; respeito muito (ou nem tanto) a decisão de Marie de ter largado sua vida para viver em função de Christian Eriksen mas, não, eu não queria aquilo para mim.

Ele a amava, eu obviamente podia enxergar isso há quilômetros de distância mas será que o amor é suficiente para desistir de tudo que você sonhou?





  No almoço, algumas horas mais tarde, minha prima ostenta um largo sorriso no rosto, sussurrando em outro idioma intencionalmente, fazendo com que Eriksen também me encare aos risos.

Aposto que o rubor já tomou meu rosto.

— Vocês me pagam!

— Pelo quê? — morde o pedaço de frango, o garfo rodopiando frente à seu rosto maquiado — Nós não fizemos nada.

— Sabe quanto tempo levei para conseguir pedir uma bebida naquele bar?

— Aprender é questão de tempo, Maya.

Christian não entende nosso idioma mas pela golada que dá em sua bebida, percebeu que o tiro saiu pela culatra.

— Antes de seu amigo chegar, fui assediada. — a comoção está em seu rosto, então espero que entenda a gravidade — Por mais forte que Tia Ane tenha nos criado, me deixar sozinha num lugar que não sei me comunicar ou pedir ajuda, poderia ter sido perigoso.

— Droga, May — apoia o talher na mesa e esfrega o rosto, agoniada — Sinto muito!

— Está tudo bem agora, só não faça mais.

Ela não fez por mal. E eu não poderia não ser grata por eles estarem tentando de tudo para me agradar e convencer mas, não dava para repensar. Eu iria embora.

Ainda que houvessem semelhanças da gélida Londres com a nublada Marselha, eu não gostava de mudanças; tampouco deixaria Tia Ane — mãe de Marie —, que além de meu alicerce, fora quem me criou desde pequena quando meus pais me venderam para comprarem drogas.

Ane e Marie se tornaram a única coisa que tenho, desde então. E não poderia ficar com raiva dela por pensar o mesmo.

Nós não tínhamos muitas amizades além uma da outra e a separação também foi difícil para mim mas acostumei.

Deixo o celular na mesa e vou para o outro lado, sentando-me na cadeira à seu lado enquanto busco por suas mãos.
Os olhos verde musgo se enchem de lágrimas antes mesmo das palavras.

— Eu sei que você acha que precisa de alguém por perto mas não precisa, Marie. Você é forte e é capaz — meus polegares deslizam por suas mãos, acariciando-as fraternalmente — Você sempre foi a mais forte de nós três, nunca ligou para ter companhias à seu lado, pelo contrário..

— Você era só uma pirralha — sorri, lembrando do mesmo que eu. De quando eu a implorava para me levar aos lugares e ela negava, me mandando dormir.

TURISTA | HEUNGMIN SON Onde histórias criam vida. Descubra agora