Quando você aceita um emprego que provavelmente vai detestar, mas precisa daquele dinheiro - e por isso está ali -, você vê toda a sua vida passar em frente aos seus olhos como um filme.
Bem, na verdade eu não sei se é uma regra e se acontece isso com todo mundo. Mas está sendo assim comigo.
Lembro de quando fui aprovada na minha faculdade de turismo. A comemoração foi intensa com os meus amigos da época, regada a bebidas (e um pouquinho de drogas ilícitas, não posso mentir). Foi épico, como eu poderia esquecer? E também teve aquele brilho impagável nos olhos do meu pai, orgulhoso pelo grande passo que sua filha mais velha estava dando. Lembro de olhar para o rosto angelical de Sally, minha irmã, e ela ainda tinha sete anos, mas eu já queria mais do que tudo dá-la orgulho e ser alguém em quem ela pudesse se espelhar.
Quebrei a cabeça até terminar a pós graduação em administração, sonhando com o dia em que eu fundaria a minha própria empresa de viagens e turismo e seguiria rica e independente ao redor do mundo com o meu negócio.
Enquanto penso em tudo isso, estou sentada em uma cadeira acolchoada azul em um corredor estreito e iluminado demais - provavelmente terei dor de cabeça -, esperando para conhecer o meu chefe - que, à propósito, está atrasado.
Tudo bem, eu sou grata a essa oportunidade de emprego. Não é todo dia que você consegue um cargo bom em uma das mais antigas e importantes agências literárias e de talentos do Reino Unido. Para falar a verdade, é bem difícil; mas cá estou eu. E obrigada ao Sr. Davies por isso.
Ele é o pai do meu melhor amigo, Samuel Davies. Pode ser que eu esteja sendo eufemista ao me referir a ele como "melhor amigo", porque, sinceramente, é muito mais do que isso. Nos conhecemos na universidade, pois ambos cursamos a mesma faculdade - e, coincidentemente, a mesma pós -; e eu sou apaixonada por ele desde então. Sam esteve comigo em todas as ocasiões mais importantes da minha vida após os dezessete anos, e muitas vezes achei que eu estivesse confundindo gratidão com amor.
Até a gente transar.
Foi quando percebi que eu estava completamente ferrada, apaixonada pelo cara que havia, definitivamente, me estacionado na friendzone. Ele também entrou para a Curtis Brown como agente de eventos, mas sua entrevista foi há dois dias, quando eu ainda roía as unhas de ansiedade pelo resultado da minha. Hoje, não serei entrevistada, apenas conhecerei o meu chefe.
E não estou nem um pouco ansiosa para isso.
Venhamos e convenhamos, não é um bom motivo para perder o controle dos batimentos cardíacos conhecer um simples homem branco de terno que vai tentar mandar em mim pelos próximos doze meses. Minha autoestima é terrível, mas eu posso enxergar que sou bem melhor que isso.
Meus pensamentos altamente negativos são interrompidos quando uma cabeleira longa e loira se empertiga em minha frente, tomando conta da minha visão. É uma garota branca, bem vestida, que usa óculos de grau de armação preta muito maiores que a amplitude de seu rosto e um batom vermelho vivo nos lábios.
Ela sorri fraco para mim, apenas educadamente, arqueando as sobrancelhas como quem diz "ah, oi".
E é exatamente o que ela fala.
- Ah, oi.
- Oi.
A loira apoia as costas na outra cadeira azul ao meu lado e estica as pernas, balançando os pés escondidos em sapatilhas marrons e olhando naquela direção. Os calçados são a única peça de roupa escura em seu corpo, que está coberto por um cardigã branco, uma camiseta rosa e uma calça branca. Pareço estar de luto ao seu lado, pois estou toda de preto.
Ela suspira, aparentemente cansada.
- Você deve ser uma das novatas.
Não há animação em seu tom de voz, mas também não há antipatia. Rio de lado, ironicamente.
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fake teaching || joseph quinn
FanfictionEdição corrigida e revisada disponível no Kindle Unlimited ou para compra na Amazon como "Assunto Delicado - Lições de Amor e Ódio". Eu me chamo Aly, tenho vinte e três anos e sou formada em turismo. Tive a chance de trabalhar como agente de eventos...