6° capítulo

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Meu cabelo estava mesmo com cheiro de vômito.

Durante o banho, senti como se a minha alma estivesse retornando ao corpo. Quase arranquei minha pele com a esponja ao ensaboar. Nunca sei qual é a pior: a ressaca física ou a moral?

Além de fedido, meu cabelo também estava tão embaraçado quanto um ninho de pássaros. Na verdade, acho que qualquer família de passarinhos moraria aqui tranquilamente. Sentei no chão do banheiro e o hidratei com paciência, ouvindo minha playlist feita especialmente para dias tristes.

Embaixo do chuveiro não somente fui atingida pela correnteza da água, como também pelas lembranças. Não todas, para ser sincera - uma boa parte era só um vulto branco em minha mente, o que, particularmente, me preocupa; porque as coisas que eu não lembro são justamente do momento após a saída da festa com Joseph.

Não demorou para que minhas lágrimas se misturassem à água do banho. As memórias me atingiram com tudo. Segurei a barra ontem e banquei a brava, mas eu consegui sentir meu peito se dilacerar e só agora estava catando os cacos e colocando para fora.

O fato de Sam estar namorando não devia me machucar tanto. Ele nunca foi meu, por mais que gostasse de fingir que sim. Contudo, o que mais me machucou foi ele não me dizer nada e se afastar silenciosamente. Meus traumas com o silêncio são contrariamente gritantes. É a única arma que eu detesto dar a alguém ao apresentar as minhas inseguranças, pois sempre temo que usem contra mim. E o meu melhor amigo usou, conscientemente.

Torço para começar a sentir raiva dele. Eu tento mesmo. Me esforço, lembrando de todas as vezes em que ele me fez chorar como agora. Mas simplesmente não consigo.

Quando acabo o banho, visto uma roupa confortável e vou para a cozinha com a barriga roncando. Tem outro post-it com a letra de Joseph - ele gostou mesmo de escrever neles -, grudado no micro-ondas, escrito "abra". O faço, e lá está o sanduíche.

Retiro o prato e dou uma olhada no recheio, abrindo o pão. É salmão. Me sinto mais exposta sabendo que ele abriu a minha geladeira do que encarando o fato de que ele me viu seminua. Dou um grunhido, sozinha, reclamando para mim mesma sobre como sou burra, como não sei controlar os sentimentos e os descontei na bebida.

Caminho até a geladeira para pegar o suco, e vejo que a pia está limpa. Em cima do armário, os cupcakes estão enfileirados ao lado da louça secando. Joseph lavou os pratos e organizou as coisas antes de ir.

Eu não poderia estar mais morta de vergonha.

Meu chefe me viu bêbada, provavelmente vomitando, seminua, dormindo - e ainda limpou a minha casa. Quero continuar desmaiada fingindo que nada disso aconteceu, mas não posso, então bebo meu suco imaginando a quantidade de piadas que ele vai fazer com esse momento. Estou completamente ferrada.

Procuro o celular antes de começar a comer, e o encontro em cima das minhas roupas de ontem, dobradas na lateral da escrivaninha no quarto. Certamente, tudo isso deixado ali por Joseph. Na mesa, mastigando meu sanduíche, desbloqueio o celular, vejo uma mensagem da Taylor, e respondo.


Taylor: Bom dia. Você tá viva?

Infelizmente, sim. E você? (risos)


Depois, estou livre para ficar encarando o chat de Joseph obsessivamente enquanto mastigo. Penso em diversas coisas para falar, formas de pedir desculpas; penso em prometer que vou lavar o carro dele todas as semanas durante esse ano na empresa, ou simplesmente qualquer coisa para que ele nunca use minha bebedeira contra mim e nem me denuncie para o RH. No final, bloqueio a tela de novo e guardo o celular no bolso.

fake teaching || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora