Há muito tempo eu não vinha ao Sul da cidade. Tenho alguns tios distantes morando por aqui, a maior parte deles são maternais, e isso explica o motivo pelo qual não os visito. Não temos qualquer tipo de contato ou conexão.
Mesmo assim, antes de chegar à casa dos Quinn, passamos por alguns parques que me fizeram lembrar da minha infância. Da época em que minha mãe me trazia para cá a fim de me ensinar a andar de bicicleta. Mamãe empurrava as minhas costas e eu soltava os pés, deixando as rodas me guiarem até bater em alguma montanha de folhas de outono no chão das praças. Então papai me pegava na linha de chegada.
Lembro de passear com um desses carrinhos que funcionam à pedal com a Sally quando ela era mais pequenina do que é hoje. Mamãe sempre ficava atrás, nos dando apoio moral e fazendo Sally dar gargalhadas até chorar. Sempre que eu dava uma olhada para o papai, ele estava com aquele sorriso bobo no rosto. Mas mamãe nunca retribuía.
Ela era uma mãe incrível e uma mulher extrovertida, quando não estava em silêncio.
Como sempre, me flagro pensando se ela está revivendo esse tipo de situação em algum lugar com outra pessoa. Outra família, talvez. Quem sabe eu só me lembre tanto dessas ocasiões porque minhas memórias não foram substituídas, e as dela certamente foram.
Assim que chegamos a casa de seus pais e pulamos no carro, Joseph segurou a minha mão ao lado da garagem e aqueceu meus dedos que já estavam quentes, mas sentiam frio por conta da febre. Ele passou as costas das mãos pálidas em minhas bochechas coradas e, preocupado, disse em um sussurro:
- Ainda podemos voltar.
Balancei a cabeça negativamente.
- Eu quero ficar.
Joe suspirou profundamente como se não soubesse como lidar comigo. Aposto que estava me chamando de teimosa em todas as linguagens possíveis, em pensamento. Então segurou meus olhos e comprimiu os lábios antes de dizer:
- Parece que você precisa de um abraço.
Eu repuxo os lábios.
- Acho que é só uma desculpa sua para me abraçar.
Ele olha para cima e torce o nariz.
- Talvez... - ele sorri, e eu também. Seu polegar roça em minha clavícula. - Os abraços têm poder curativo.
Eu assinto e ele me puxa pelos ombros. Meu corpo encaixa perfeitamente no seu, como sempre fez. É como se, quando nossos corpos foram formados nos ventres de nossas respectivas mães, fomos feitos nos moldes um do outro. Mesmo que ele seja cerca de quinze centímetros mais alto, tenha ombros robustos - contrariamente aos meus -, cintura larga, e seja, talvez, o meu exato oposto; ainda é como se fôssemos a mesma pessoa.
Eu encosto a cabeça entre seu peito e sinto a lateral do meu rosto toda superaquecida por seu calor corporal. Joe encosta o queixo no topo da minha cabeça e começa a fazer carinho em minhas costas, subindo e descendo, às vezes girando a palma da mão em círculos, como se me acalentasse. O meu couro cabelo esquenta com sua respiração muito melhor do que com uma touca de frio.
Respiro fundo, sentindo meus pulmões sendo preenchidos com uma sensação diferente de prazer, algo realmente sedativo. Enquanto inspiro seu perfume e sinto seu toque, me sinto em casa.
- Se sente melhor? - Sussurra.
Dou um sorriso que ele não pode ver, mas pode sentir.
- Uhum - murmuro. - Enquanto estiver aqui, estarei bem.
Ele também dá um sorriso que eu não posso ver, mas posso sentir.
- Vamos lá, Pimentinha, não seja tão possessivo! - Ouço uma voz feminina soar a alguns metros de distância, acertando no adjetivo. Mas...

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fake teaching || joseph quinn
Fiksi PenggemarEdição corrigida e revisada disponível no Kindle Unlimited ou para compra na Amazon como "Assunto Delicado - Lições de Amor e Ódio". Eu me chamo Aly, tenho vinte e três anos e sou formada em turismo. Tive a chance de trabalhar como agente de eventos...