14° capítulo

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- Olha só, nós deveríamos aproveitar que eu vou te levar para casa e eu te passo a segunda aula.

Nós colocamos os cintos de segurança. Eu cruzo os braços e o observo ligar o carro enquanto olha para mim com o rosto totalmente virado em minha direção. Seus grandes olhos castanhos piscam e tentam me passar um ar de inocência, virtude essa que sei que não existe em Joseph.

- Ah, é? - ergo uma sobrancelha. Ele assente com um sorrisinho. - Mas a última foi ontem, preciso de um tempo para assimilar.

Joseph repuxa os lábios e nega com a cabeça. O carro é ligado, então ele começa a retirar do estacionamento - onde praticamente acabou de colocar.

- Não, é até bom porque os conhecimentos ainda estão frescos em sua cabeça - argumenta ele.

Dou risada, zombando.

- Que conhecimentos são esses?

Ele revira os olhos com a minha diminuição de seu trabalho árduo.

Passamos pelos corredores, rodeados de outros carros. Fico olhando para os lados e tentando encontrar alguém que nos pegue no flagra e espalhe que somos um casal. Graças a Deus, não há ninguém.

Mas no shopping eu também achei que não havia. Essas pessoas parecem brotar do chão.

- De que você fica bem de branco - responde ele, apontando para a minha camisa com o queixo. Aperto a abertura do blazer entre as minhas mãos, mas desta vez não o fecho. - E com várias outras cores, não somente de preto.

Dou de ombros, olhando de soslaio. Ainda não sei reagir quando ele me elogia. Acho que o desdém serve. Joseph está focado ao descer pela rampa da saída do estacionamento quando desvio o olhar para a janela.

- Tá bom.

Então nós estamos sob a luz do sol de fim de tarde. O céu está com poucas nuvens, portanto ainda podemos vê-lo mudar ao descer do sol no horizonte, atrás dos prédios do centro de Londres. Algumas janelas dos apartamentos já se fecham e são iluminadas pelas luzes amareladas de dentro das casas. Ficamos um pouco em silêncio, mas é claro que Joseph detesta isso, então ele liga o som. Abaixa o volume, e alguma banda que não conheço soa ao fundo. No geral, ele tem bom gosto para música.

Joseph relaxa a postura no banco e se remexe, colocando o quadril um pouco mais para frente e esticando as pernas e braços. Dirige apenas com uma mão, e seu pescoço está suavizado, com a cabeça encostada no banco. Nunca pensei que fosse capaz de achar tão bonito um homem no simples ato de dirigir.

- Então... - começa ele. Viro o rosto para observá-lo melhor. - Você deveria... - ele pende a cabeça para o lado, balançando. - Você sabe, me chamar para ir para a sua casa.

Franzo o cenho, fazendo uma careta de indignação.

- Não começa, Joseph.

Ele ergue as mãos em rendição, soltando-as do volante rapidamente.

- Eu só tô dizendo.

Balanço a cabeça negativamente e aponto para a porta do meu lado.

- Não duvide da minha capacidade de abrir a porta e pular do carro.

Ele me encara com tédio.

- Assim você ia sujar a camisa branca nova.

Dou uma risadinha nervosa. Eu odeio o fato de ele ser engraçado e eu sempre ficar a um passo de perder o joguinho de quem ri primeiro.

- Ah, mas pular do carro em movimento e quebrar os braços, tudo bem, né? - questiono de modo sarcástico e trágico, exagerando de propósito.

Joseph abre um sorriso lindo, passando a mão pela barba.

fake teaching || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora