PEDRO TÓFANI point of view
São Paulo - BrasilOuço o interfone soar pela sala de meu novo apartamento. Eu estava assistindo um documentário aleatório e eram quase duas da manhã, então, quem seria à esse horário?
Levanto-me do sofá e vou em direção ao telefone, logo o tirando do gancho e colocando na orelha.
— Senhor Pedro, um rapaz de cabelos castanhos está pedindo para subir, posso libera-lo? – o porteiro diz. Provavelmente deve ser o Renan, pois ele vem aqui direto. Aliás eu deveria colocar o nome dele na lista, enfim...
— Claro! Pode mandar subir por favor, obrigado. – digo. Ouço o porteiro murmurar algo antes de colocar o interfone no lugar e ir para cozinha pegar uma água.
Esperei uns 15 minutos e nada de Renan aparecer, deve ter acontecido algum problema no elevador ou ele decidiu conversar com alguém, sei lá. Antes que eu pudesse sentar no sofá, ouço fortes batidas na porta ininterruptamente. Vou em direção a porta pronto para xingar Renan, mas quando abro a porta, senti uma pontada no coração.
— O que você está fazendo aqui, João? – pergunto alisando a testa. O garoto estava sentado no chão, apoiando todo seu peso nos braços que estavam na frente de seu corpo. Seu cheiro era de bebida alcoólica pura! Eram tantos cheiros fortes misturados que eu não conseguia distinguir o que ele havia tomado. Tinham algumas marcas vermelhas e roxas em seu pescoço, provavelmente eram chupões.
— P-pedro, por favor... me desculpa... – ele soluçava entre as palavras e me olhava com os olhos marejados, parecia que ele chorou o dia todo, tinha algumas lágrimas meio que impregnadas na sua bochecha esquerda.
— Porra, por que eu deixei liberarem você? Que merda... – sussurro para mim mesmo. — Vem, João. – pego o garoto pelos braços e o levo para o sofá, logo trancando minha porta. — Fica aqui, ouviu? – ele assente. Vou em direção ao banheiro, encho a banheira com uma água morna e quando vou buscá-lo na sala, vejo João andando meio torto tentando entrar no banheiro. — O que você está fazendo?
— E-eu quero fic-ar perto de v-ocê – João diz. — Ai, essa porra tá me ap-pertando. – ele soluça puxando a gola da sua camisa pra frente.
Puxo sua jaqueta jeans, sua blusa do Taz meio desbotada, e então rapidamente termino de “despi-lo” deixando-o apenas de cueca. Coloquei o garoto na banheira, sentei na borda e passei a esponja pelo seu corpo.
Ver aquelas marcas no pescoço todo de João doía, não era a primeira vez que isso acontecia depois do nosso término. Tentei segurar o nó na minha garganta, era deprimente vê-lo daquele jeito. Eu queria poder ajudá-lo, querer voltar e tudo mais, mas e sabia que não podia só fazer. Ele precisava amadurecer para termos algo, éramos muito novos e acabamos nos perdemos no meio do caminho.
Talvez ele tenha muito o que me explicar, caso contrário não me visitaria tanto assim...
Balanço minha cabeça para sair daqueles pensamentos. Pego uma toalha e ajudo João a se levantar, o enrolo na toalha e o coloco sentado na minha cama. Vou em direção ao closet, pego um moletom e um short para emprestá-lo.
Enquanto o visto, tento não ceder ao olhar de João, ele me olhava como um cachorrinho que foi abandonado em meio uma tempestade. Tiro sua cueca que estava encharcada e o deixo apenas com o short, o visto com meu moletom rosa. Pego uma caixinha de remédios e pego um pouco d'água, dou-o um comprimido para que ele não fique com ressaca.
— Dorme aí, amanhã você vai ficar melhor, eu acho. – o deito cuidadosamente na minha cama. Pego uma coberta e um travesseiro para eu dormir na sala, mas sinto uma mão segurando meu braço.
— F-fica aqui comi-go, amor-zinho... – ele diz ainda soluçando.
Que caralho, esse cara é uma tentação até bêbado.
Eu não posso fazer isso com ele, não posso fazer isso comigo. João é uma pessoa incrível, mas já me machucou o suficiente e eu não consigo fazer isso de novo, não tão cedo. Coloco meu cobertor e travesseiro num canto da cama, sento ao seu lado e ele aninha sua cabeça no meu colo. Começo a passar meus dedos entre cada cacho seu, confesso que senti saudades disso.
— Sabe, eu nunca gostei que você bebesse tanto assim... – sussurro.
— Me des-culpa... – ele responde.
— Pelo o que? – pergunto.
— Se e-u lembrasse, eu não fari-a isso. Eu n-ão quero t-e machucar de n-ovo...
(...)
Acordei no sofá e vi um post-it amarelo sobre minha mesinha de centro.
Me desculpa por isso :(
- jãoPor que eu ainda me submeto a ser o seu amor de fim de festa? Que droga.
— — —
Passaram-se dois meses desde a visita de João no meu apartamento, aquela foi a ultima vez e eu agradeço á Deus por isso. Ele postava alguns storys em festas e coisas do tipo, então pelo bem da minha saúde mental, eu bloqueei-o de tudo, exceto do whatsapp. Nós continuamos nos encontrando no estúdio para seu novo álbum e eu sei que cada verso ali é pra mim, isso dói, mas não tanto como antes.
Eu não sei se ele está bem sem mim, mas eu estou no processo de ficar bem sem ele. Eu me respeito o suficiente para não me humilhar daquela forma. Se João quiser resolver alguma coisa comigo, eu vou acolhê-lo, como sempre, e talvez eu seja um idiota por isso. Talvez eu seja um idiota por ainda amá-lo, mas eu não o amo como antes.
Mesmo vendo aquele seu maldito sorriso, meu peito não bate mais como antes. Eu fiquei muito tempo nisso e eu estou finalmente desapegando.
Então que se foda você, meu grande amor.
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𝐃𝐎𝐂𝐄, au pejão
Fanficonde joão vitor não se controla nas bebidas e acaba falando mais do que deveria em sua rede social. dec. 12th / jan. 16th © writeepejao, 2022