JOÃO VITOR point of view
São Paulo - Brasil.Eu estava fisicamente e mentalmente cansado.
Sabe quando nada do que você faz parece ser bom o suficiente nem para agradar a si mesmo? Eu estou me sentindo assim.
Fazia algumas semanas desde que as férias de verão começaram, e então eu decidi estagiar. Eu estava mais estressado do que o normal, pois naquela porcaria de lugar só existem pessoas escrotas e ignorantes.
Estava tudo tão corrido que nem cantar eu queria, até porque sei que é um sonho distante, e sinceramente, eu não tenho tempo para pensar nessa besteira. Os meus amigos me impulsionavam para fazer as coisas, tentavam de todos os jeitos para que eu levasse pra frente e me ajudavam. Parece que eles acreditam mais em mim do que eu mesmo, mas... eu estou cansado disso.
Jogo a bolsa de qualquer jeito no sofá e vejo Vicente vindo em minha direção. Sinto ele se aninhar nas minhas pernas, me fazendo sorrir pela primeira vez no dia.
- Oi, nenê - pego-o no colo. - Cadê a sua irmã, hm? Cadê a Chicória? - brinco com ele por alguns segundos, e volto a pôr no chão.
Eram 18h25, o dia estava cinza e feio, eu nunca me vi estar tão deprimido em uma sexta-feira. Tento pensar em algo para me animar, mas eu realmente não consigo.
Penso por alguns segundos observando a sala, e então decido ir para uma área comum ali. Passei a ir lá direto, pois Pedro estava ajudando seu tio em uma loja famosa na tal praça.
(...)
Chego na praça por volta das 18h40. Eu via muitas pessoas voltando de seus trabalhos e observava como elas pareciam infelizes com a vida que levava.
Eu não quero ser como elas.
Penso em como cantar é o meu refúgio, como compor é o meu diário e, como deve ser satisfatório viver da minha própria arte. Eu quero viver dela, quero mostrar para o mundo o que eu nasci pra fazer, o que eu amo fazer mas... isso parece estar tão distante; Por que isso não está dando certo? O que eu estou fazendo de errado?
Eu estava diante de centenas de pessoas, eu não queria chorar
Mas foi impossível.
Cubro o meu rosto com as mãos, pensei em ir para casa mas, estava envergonhado demais. Eu odeio isso, odeio chorar na frente das pessoas, sinto que me enxergam como um completo fraco.
Ouço passos se aproximando e um perfume extremamente familiar perto. Retiro minhas mãos do rosto e o vejo ali: Pedro. Eu nunca saberia, mas era realmente daquilo que eu precisava naquele momento, então eu apenas o abracei.
Não sei quanto tempo ficamos abraçados, mas foi o suficiente para que ele conseguisse me acalmar. Ele tem esse dom.
- Ei, calma. Eu 'tô aqui, está tudo bem... - ele diz com a voz mansa, fazendo um carinho gostoso no meu cabelo. - Quer me contar o que aconteceu? - Pedro diz.
- Eu... eu estou desistindo de cantar. - pressiono meus olhos com força, preparado para o choque. Pedro rapidamente desvencilha o abraço e me olha.
- O quê?!
- Eu estou cansado, sabe? Parece que quanto mais eu tento, menos as coisas andam. Isso está difícil demais. - dou uma pequena pausa, tentando controlar o choro que teimava em subir.
- João, quem te disse que seria fácil? As coisas não vão acontecer do dia pra noite, entende? Mas, independentemente disso, você não vai desistir. - Pedro enxuga uma lágrima solitária que descia em minha bochecha. - Olha, esse é o sonho da sua vida, e você tem uma sorte imensa de não estar sozinho; seus amigos estão aqui por você, sua família está aqui por você, eu estou aqui por você... então só vai! Arrisque o que for preciso, e caso alguma coisa dê errado, caso alguma coisa saia do controle, estaremos aqui para te ajudar. Você é foda, você é inteligente, você é tão talentoso... seria um crime não mostrar essa obra de arte para o mundo. - solto uma risada fraca. - Você sabe fazer as coisas! Não deixe a sua insegurança te sabotar, não deixe que sua vida pare por esses pensamentos negativos. Se você sabe o que quer, você tem que correr atrás disso, e eu irei te apoiar como ninguém nisso.
Ficamos algumas horas conversando. Eu nunca vou me cansar de dizer a maneira intensa que Pedro me acalmava.
(...)
Decidimos ir embora perto das 20h30. Caminhamos em silêncio até o prédio, mas era um silêncio confortável, sabia que Pedro estava me dando um tempo para pensar.
- Muito obrigado por isso, eu realmente precisava. - agradeço assim que chegamos na porta de seu apartamento. Pedro para em minha frente.
- Imagina! Quero que você saiba que pode contar comigo para o que quiser. - ele me dá um sorriso e eu retribuo. Nos encaramos sem ter o que dizer e ele coça sua nuca. - Tem certeza que não quer entrar? - Pedro questiona e eu apenas nego com a cabeça. - Tudo bem então! Até amanhã, Joãozinho. - ele diz por fim, selando minha bochecha e entrando em seu apartamento, logo trancando a porta. Saio dali, indo para o meu andar.
Entro em meu apartamento e vejo Chicória e Vicente dormindo, então me esforço para fazer o menos barulho possível.
As palavras de Pedro não saem da minha mente, ecoam alto como se me obrigasse a pensar;
Eu sou um cantor, e eu corro atrás.
Pego o meu celular e mando uma mensagem para o meu supervisor, dizendo que estava me despedindo daquele projeto de trabalho.
Foi extremamente reconfortante abraçar esse sonho novamente. Passei a noite em claro pensando em diferentes formas de como conseguir chegar onde eu quero.
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𝐃𝐎𝐂𝐄, au pejão
Fiksi Penggemaronde joão vitor não se controla nas bebidas e acaba falando mais do que deveria em sua rede social. dec. 12th / jan. 16th © writeepejao, 2022