Capítulo quatro

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Olhei meu relógio de bolso conferindo as horas assim que o camburão deixou os vencedores da aula prática em Bakewell, eram 16 horas.
Tivemos mais duas aulas práticas mas sem chance de recompensa dessa vez, talvez por ter sido o Sargento Ross que tenha aplicado, a capitã não estava em condições mentais para dar aulas desde que voltamos da... missão.
Ofereceram folga para mim e para o Sam como uma forma de nos recuperarmos, mas ficar parado lembrando é mil vezes pior que ocupar a mente; Por isso ele havia ficado na base dando treinamento físico, eu tinha vencido a aula então não abriria mão de ver gente sem farda pra variar.
Os militares foram se espalhando e Bianca me informou que iria até o ateliê encomendar alguns vestidos e perguntou se eu a acompanharia, mas eu neguei prontamente, precisava beber.
Caminhei até o bar Sinclair e entrei no mesmo ouvindo o sino me entregar, para o meu azar ao procurar a loira de sorriso hipnotizante não a encontrei, apenas vi um rapaz limpando as janelas.

-Procurando alguém?-Perguntei sem tirar os olhos do que fazia.

-Uma moça chamada Enid.-Respondi caminhando até o balcão e ele assentiu.

-Sinto decepcionar mas ela só chega daqui a duas horas.-Desceu das escadas e deu a volta no balcão.-No que posso ajudar?

-A bebida mais forte que tiver e o endereço da moça, se possível.-Falei o encarando e ele riu negando com a cabeça.

-Porque eu te daria o endereço da minha casa, senhorita Addams?-Falou olhando para os meus peitos e depois o meu uniforme, respirei fundo.

-Pra você é cabo Addams, Sinclair.-Falei virando a bebida que ele mal havia colocado no recipiente.

-Bom então não vejo motivos para lhe responder, cabo Addams.-Encheu o recipiente mais uma vez e me lançou um olhar desafiador.-O que uma dama bonita como você iria querer com a minha irmã?

-Não é da sua conta.-Peguei cinco libras do casaco e coloquei sobre o balcão depois de virar mais uma vez o líquido que desceu queimando minha garganta.

-Volte sempre!-Ele gritou ao me ver passando pela porta novamente.

Coloquei as mãos no casaco e caminhei pelas ruas ladrilhadas Bakewell, observando cada detalhe desde o sorveteiro sorridente até o mal amado do Sinclair.
Avistei uma floricultura de longe e por pura curiosidade me dirigi até o local; Vi uma senhora de mechas brancas e avental amarelo que podava um pé de roseiras, parei em frente a ela.

-Boa tarde! A que devo a visita ilustre de uma heroína como você?-Perguntou sorrindo e minhas bochechas ganharam um leve rubor.
-As flores me lembraram o jardim da minha mãe.-Comentei e seu sorriso aumentou.

-Fico tão alegre em saber disso, minha jovem! Flores são como espelhos da alma, quando nossas flores estão mal cuidadas, sinto que nossos sentimentos também.-Falou delicadamente tirando um dos enormes espinhos da árvore.

-Bom então acho que sei o porquê das flores do dormitório terem secado.-Disse como em um sussurro mas ela parece ter ouvido.

-Não fale uma coisa dessas, jovem. As palavras tem poder!-Ela me repreendeu.

-Não há flor que resista a guerra.-Falei friamente e ela parou o que fazia e me olhou tristemente.

-Isso não é verdade.-Ela caminhou para dentro da loja.-Venha minha jovem.

Eu a segui para dentro do estabelecimento vendo um monte de flores de diferentes tipos e cores ordenadas em diversos arranjos, ela parou em frente a uma das plantas que estavam na mesa do centro da sala e tocou em suas pétalas a comprimentando.

-Essa é uma Petúnia lilás, me diga minha jovem, conseguiria se desenvolver no sol, na chuva, ou sem adubo ou água?-Ele ergueu as sobrancelhas e eu ponderei.

-Acredito que não.-Fui sincera e ela assentiu caminhando até a rosa do deserto.-Essa eu conheço.

-Conhece biologicamente, mas as flores precisam de um olhar sentimental.-Se abaixou pegando um pouco de adubo do saco de terra e foi colocando aos poucos.-Ela sobrevive a temperaturas altíssimas, fora sua grande capacidade de desenvolvimento...Se levá-la como exemplo, verá o quão difícil é superar as dificuldades que para uma singela flor seria impossível se torna extremamente fácil pela sua resiliência.

-E se a flor não for igual as outras? E se ela for terrível na visão das outras?-Ela me olhou por alguns segundos e veio na minha direção para me abraçar, eu recuei no primeiro momento mas sedi logo depois.

-Querida nenhuma flor é igual, ser diferente é a maior qualidade delas.-Me soltou e segurou meu rosto por um momento.

-Senhora Macalister?-Escutei uma voz conhecida.-Preciso de novos fertilizantes para minha bromélia!-Ela parou em frente a mulher.

-A senhorita por aqui, Sinclair?-Perguntei com um sorriso de canto e ela me olhou surpresa.

-Senhorita Addams! Achei que não a veria tão cedo.

-Enid vou pedir que espere um pouco, tenho que ir lá nos fundos e volto já já meu pequeno girassol.-Beijou a testa da garota e seguiu até a onde tinha prometido.
-Gosta de Girassóis?-Olhei mais atentamente para ela.

A parte de cima do seu cabelo estava presa e o restante solta, ela usava um vestido rosa com algumas flores estampadas que deixavam ela incrivelmente bonita; Seus olhos estavam focados no girassol do outro lado da mesa.

-Eu os amo, são tão lindos e brilhantes!-Ela falou empolgada e eu dei uma risada.

-Pegue um, vou lhe dar de presente.-Falei me debruçando sobre a mesa e ela arregalou os olhos e negou freneticamente.

-Primeiro bate em homens por mim e agora quer me dar flores? Isso me faz parecer uma folgada sem tamanho e-

-Ora Enid! Não se rejeita um presente! Ainda mais com tamanha boa intenção. Onde foi parar sua educação?-A senhora Macalister voltou com um pequeno saco de fertilizante em mãos.

-Mas-

-Não se discute com os mais velhos.-A provoquei e ela suspirou derrotada.

-Eu só aceito se me disser seu nome.-Pontuou e eu ri.

-Um preço barato a se pagar, Wednesday Addams.-Estiquei minha mão e ela apertou.-É um prazer.

-O prazer é todo meu, Wed.-Ergui as sobrancelhas e ela riu.

-Que mocinhas adoráveis!-Ela apertou nossas bochechas.

Eu entreguei uma nota de dez libras a gentil mulher que se recusou a aceitar a gorjeta, mas eu insisti e ela acabou cedendo.

-Já que tem sido tão gentil comigo, me sinto na obrigação de lhe chamar para o jantar.-Parou bruscamente no meio do caminho e eu a olhei de forma curiosa.

-Não acredito que seu irmão irá gostar de me ver por lá.-Ela abriu a boca algumas vezes.

-Vejo que conheceu Xavier, uma pena.-A mais alta negou com a cabeça.

-Não se preocupe, ele não me intimida. Não assim como sua beleza.-Enid me olhou cuidadosamente e eu senti meu coração parar.-Estou apenas brincando.

Ela não pronunciou nem uma palavra se quer por alguns torturantes segundos e voltou a caminhar.

-Meu pai e Xavier estão responsável pelo bar hoje, então sou eu, a mamãe e meus dois irmãos pequenos.

-Engraçado, Xavier me disse que estaria no bar as 18 horas.-Ela me olhou com...Raiva?

-Isso daria mais tempo para ele lhe cortejar, aquele desmiolado dos infernos.-Dei uma risada que a fez me lançar um olhar mortal.-Gostou da ideia senhorita Addams?

Me engasguei.-Claro que não.

-Então virá ao jantar?-Questionou e eu ponderei.

-Que horas e em que local?-Parei a sua frente e ela deu um lindo sorriso.

-Ás 19 horas, a casa amarela no final da rua do engraxate.-Me deu um beijo na bochecha e apertou os passos se embolando com o fertilizante e tomou o girassol dos meus braços.-Te vejo mais tarde.

Dei um sorriso satisfeito, que garota maluca.

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E aí pessoas, continuo?

Wenclair - Forty-threeOnde histórias criam vida. Descubra agora