Capítulo seis

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Me sentei a mesa ao lado de Enid, a senhora Sinclair estava ao outro lado com os gêmeos ao seu lado respectivamente.

A mesa estava servida com um frango assado com um aroma maravilhoso, ervilhas, cenouras e uma sopa que também aparentava estar divina, de sobremesa teríamos torta de maçã.

- Então me diga querida, Enid me disse que é uma das nossas heroínas na aviação...- Me deu abertura enquanto colocava um pouco de sopa na cambuca e me entregou.

- Uh, er... Eu sou cabo do serviço militar americano, estou em treinamento para seguir para aeronáutica e subir para terceiro sargento.- Experimentei a sopa e ela estava expendida.

- E falta muito?- Neguei com um pequeno sorriso.

- Minha prova final será sexta-feira, se for aprovada eu irei para as Filipinas na segunda.- Enid pareceu se engasgar com as ervilhas mas fez sinais com a mão que ficaria bem.

- Já na- Tossiu.- Já na segunda?

- Eu estou sendo exemplar nos vôos e eles precisam de pilotos prodígio, a coisa está muito feia pra nós, norte americanos por lá.- Terminei a sopa e voltei minha atenção para Enid que tinha um olhar perdido.

- O pretendente de Enid é um mal caráter, mal sabe se portar perto de uma dama.- Senhora Sinclair serviu a minha taça, de Enid e a sua por último.

- Mamãe! Combinamos não falar do Ajax no jantar!- A repreendeu.

- Ele é um baladeiro que não sabe nem abotoar um terno, chegou aqui fedendo a whisky e com marcas de batom na abotoadura, Enid! Eu quero que ele engula todo o dinheiro dele, seu pai quer lhe vender para um psicopata qualquer como se você fosse um saco de batatas!- A mulher tomou a taça na mão e deu um gole generoso.

Enid permaneceu em silêncio analisando as palavras da mãe, os gêmeos permaneciam calados comendo a torta de maçã.

- Senhora Sinclair eu particularmente não imaginava que alguém poderia cozinhar de uma maneira tão divina!- Cortei um pedaço do frango e juntei as ervilhas, quis melhorar a situação.

- Você é tão gentil, querida!- Sorriu verdadeiramente.

- Queria que Caleb elogiasse minha comida assim.- Saiu quase como um sussurro e Enid a olhou de forma triste.

- Papai as vezes bate na mamãe, ele diz que ela deveria saber cozinhar direito.- Um dos gêmeos disse inocentemente e a senhora Sinclair bateu na mesa com autoridade e lágrimas nos olhos.

- Já chega! Wednesday está aqui para ter um jantar normal.- Ela terminou sua taça de vinho e se levantou.- Com licença querida, vou me recolher pois não estou me sentindo muito bem.

Passou a mão pela cabeça da loira e saiu do cômodo deixando todos apreensivos, eu dei um gole no líquido da minha taça e voltei minha atenção para Enid que pediu licença e seguiu para direção oposta da mãe.

- Acha que eu falei demais?- O pequeno que não tinha nenhum machucado pelo corpo perguntou, concluí ser Jake.

Soltei um longo suspiro e dei a volta na mesa e me abaixei olhando nos olhos do pequeno que quase chorava na minha frente.

- Meu pai diz que a boca só fala do que o nosso coraçãozinho tá transbordando.- Apontei pro coração dele e logo depois baguncei os seus cabelos.- E você pequeno homenzinho, só disse o que seu coração não conseguiu guardar.

Sequei uma lágrima que escorreu pelo seu rosto e abri os braços recebendo um abraço caloroso e verdadeiro.

- Porque vocês dois não vão colocar seus pijamas e já já eu peço pra mãe de vocês ir dar um beijo de boa noite em cada um?- Toquei o nariz de Luke, que agora estava em pé ao meu lado.

- Desculpa por ter feito dodói mais cedo.- Falou brincando com os dedos.

- Não se preocupem com isso, agora subam.- Eles assentiram e saíram do local em passos lentos.

Me levantei e virei no corredor em direção a onde Enid tinha ido, prestei atenção em uma pintura em cima da cômoda de madeira envelhecida; nela estava a família toda reunida, Senhora Sinclair ao lado dela o Sr Caleb, ela com um vestido branco longo e seus cabelos castanhos caindo pelos ombros, ele com um terno preto e camisa branca, seus cabelos loiros um pouco longos com alguns cachos e sua barba mal feita cobrindo o rosto; Xavier estava ao lado do pai com uma camisa branca e calça com suspensórios, Enid estava ao lado da mãe com um vestido rosa e com um sorriso lindo no rosto, os gêmeos estavam na frente da moça com ternos iguais.

Ouvi um trovão e voltei minha atenção para o que estava fazendo: procurando Enid.

Um soluço ecoou pela varanda e eu encontrei Enid escorada na cerca, me aproximei e puxei ela para um abraço que foi recebido de imediato; Ela chorava compulsivamente e quando um som de raio foi ouvido ela se agarrou em mim tremendo.

- Ei nid, o que tá acontecendo?- A afastei por um segundo e limpei as lágrimas do seu rosto.

- Eu não quero ser como eles! Eu não quero ter um casamento que nem o dos meus pais!- Respirei fundo procurando palavras.

- Não pensa nisso, tá?- Ela colocou a cabeça na curva do meu pescoço.- Vou te contar um segredo, se você quiser você não se casa com ninguém.

Fiz um leve carinho no seu rosto e ela abriu os olhos me mostrando aquelas lindas orbes azuis.

“Ah Enid, onde eu tô me metendo?”

- Como assim, Wed?- Eu ri.

- Somos livres, Cara mia. Mesmo com tantas leis, perseguições e guerras... Cada um tem uma alma e seu próprio corpo, cada um tem suas próprias leis.- Ela me observava atentamente.

- Tá dizendo pra eu fugir?- Eu olhei para os lábios que agora estavam rosados pela ausência do batom.

- Tô dizendo que você é livre.

- Wed...- Ela levantou a cabeça e me olhou nos olhos.- Você vai voltar das Filipinas?

Aquela pergunta foi um soco no estômago, eu não sabia o que responder pelo simples fato que antes isso não era uma coisa que me assustava, agora passou a ser.

É claro que eu amo muito minha família e me preocupo com eles, mas todos sabiam que eu não temia a morte e isso assustava minha mãe e acredite, poucas coisas assustam a família Addams.

Mas vendo ela me olhando daquele jeito...eu realmente queria voltar, e não em um caixão.

Como uma corrente elétrica meu corpo correu em direção a chuva descendo os pequenos degraus e se molhando por completo em segundos, abri os braços para aproveitar o momento.

- Você enlouqueceu! Vai acabar morrendo com um raio nessa sua cabeça oca!- Ela gritou e eu corri em sua direção.

Ela entrou em casa correndo e eu a segui até a sala de jantar, alcancei a mesma e a peguei nos braços.

- Wed me coloca no chão! Wed você vai nos matar!- Gargalhei.

- Só se vive uma vez, cara mia!- Ficamos sobre a chuva e ela começou a me bater para que eu a soltasse e assim eu fiz.

Ela tocou os pés descalços na grama molhada e por um segundo permitiu o Pânico se dissolver, ela soltou uma breve risada que continuou com uma longa gargalhada e eu a acompanhei.

Comecei a correr atrás dela e a peguei nos braços novamente a rodando na chuva como se aquele fosse o último dia da minha vida.

Como se fossemos as últimas pessoas do mundo.

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Um dos capítulos que escrevi com mais vontade.
Espero que estejam gostando ❤️

Wenclair - Forty-threeOnde histórias criam vida. Descubra agora