15. pode me poupar da sua gentileza

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2002

Heloísa olhava ao redor encarando a pequena sala em que estavam. O clima naquele dia estava terrível, o tempo fechado, chuvoso. Ela acordou com a sensação de não querer acordar. Sabia que não era por conta do tempo, e sim do que aquele dia reservava a ela.

Já fazia um mês que Stenio não morava mais com elas. Quando ele entrou na mesma sala, ela não se deu ao trabalho de olhar para ele. Manteve o olhar em seu advogado e na documentação.

- Bom, então nessa versão atualizada estamos deixando o apartamento com a Helô e o carro também. Stenio, alguma coisa que você queira..? Última chance.

- Já falei, não quero nada material. Ela pode ficar com tudo. - Ele murmurou, cabisbaixo.

O advogado dele entregou o papel para ela. Heloísa assinou, e logo deixou tudo em cima da mesa. Encostou as costas na cadeira, finalmente relaxando.

O advogado dela empurrou os papéis do divórcio para ele. Stenio pegou a caneta, e a olhou.

- É isso mesmo que você quer?

Heloísa fechou os olhos ouvindo a voz dele se direcionar a ela. Abriu os olhos, decidida. Continuou olhando para frente, para não ter que olhar para ele.

Assentiu.

- Sim. - Heloísa falou baixo. - E bom, quanto a Drica, eu.. - Ela achou que tudo estava resolvido.

- Eu quero a guarda da minha filha. - Stenio finalmente falou o que não estava tendo coragem de dizer, falando com o advogado de Heloísa diretamente.

Helô virou o rosto para ele automaticamente.

- Você não vai fazer isso comigo.

Stenio a olhou.

- Você trabalha demais, Helô.. - O tom de voz dele era calmo. Ele não estava ali para brigar, ele realmente acreditava que isso era o melhor para Drica. - Eu tenho mais tempo, mais flexibilidade..

- Vamos lá, pessoal.. A gente pode fazer uma guarda compartilhada, algo que seja menos traumático para os dois.

- Nada de guarda compartilhada. - Heloísa vociferou. - Tá maluco? A minha filha vai ficar comigo. Guarda unilateral. Comigo. Com a mãe dela.

Stenio balançou a cabeça negativamente.

- Isso não vai acontecer. Vamos entrar na justiça a respeito disso, então. - Ele avisou Marcelo, seu advogado.

- Vamos sair pra beber. - Maitê pediu.

- Eu acabei de perder a guarda da minha filha pro meu ex marido depois de uma briga horrível na justiça. Você acha mesmo que eu tenho ânimo pra mais alguma coisa? - Heloísa a encarou.

- Por isso mesmo! Quem bebe, seus males espanta. Vamos. Você não vai ficar em casa como tem ficado todo dia, se matando de chorar e em posição fetal. Já deu, Helô! Você tem que viver sua vida agora.

Heloísa respirou fundo.

- Um drink. Só isso. - Ela cedeu.

- É assim que se fala! - Maitê enlaçou o braço no da amiga e a puxou.

- Eu não acredito que ele fez isso comigo, sabe? - Heloísa riu baixo, esfregando o rosto com as mãos. Tinha acabado de beber o copo inteiro de whisky em poucos goles. - Eu sabia que ele era baixo, eu só não sabia que era tanto assim.

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