- O mãe, cê veio almoçar com a gente, é?
- Não vai dar, filha. Tenho que passar no apartamento pra ver a que passo anda a obra, pra eu voltar pra casa. - Ela passou pela menina dando um beijo na cabeça dela. - Na verdade eu só vim buscar uma pasta com uns documentos da delegacia que eu não sei onde enfiei..
- Ah, Donelo, é uma vermelha é? Acho que tá no quarto do doutor Stenio, eu vi em cima da mesa mas achei que era dele e levei pra lá! - Disse Creusa.
Stenio, que tentava conseguir a atenção de Helô, não conseguiu uma brecha.
- Valeu, Creusita. - Disse ela indo pro quarto do ex, que a seguiu.
Stenio entrou no quarto atrás dela.
- Que papo é esse de voltar pra sua casa?
Heloísa mexia nas gavetas da mesa do quarto dele, procurando a pasta.
- Você acha que eu vou ficar aqui até quando, Stenio? Você sabe que eu só to aqui por causa da merda do cano. - Resmungou ela, irritada.
Stenio estranhou.
- Aconteceu alguma coisa no trabalho, de manhã?
Ele foi se aproximando querendo confortá-la.
- Para. Não se move. Nem um passo. - Ela apontou o dedo para ele, ameaçando.
Stenio franziu o cenho sem entender.
- Eu fiz alguma coisa errada? - Ele perguntou, confuso.
- Todas. Várias. O seu existir já me tira do sério. - Ela desabafou, virando de costas e votando a procurar a pasta.
- Você tá precisando falar sobre alguma coisa, Heloísa? - Ele perguntou, tentando resolver. - Poxa, a gente tava tão bem, eu achei até que..
Heloísa deu uma risada alta e irônica.
- Pensou o que? Que eu ia ficar aqui pra sempre? - Ela falava seria, curta e grossa. - Que eu ia ficar dormindo na sua cama todo dia? Acordando pra tomar café junto? Que a gente ia almoçar todo dia igual uma família feliz de comercial de margarina? Chegar à noite ajudar a Drica com a lição, tomar vinho, ver um filme, conversar sobre o dia agarradinho no sofá comendo comida japonesa? Que eu ia me casar de novo com você? Me poupa, Stenio.
Ela finalmente achou a pasta, e agarrou contra o corpo, satisfeita. Abraçada na pasta com a mão esquerda, passou a organizar a bagunça que tinha feito para achá-la com a direita, fechando os armários e portas, colocando algumas coisas que havia tirado, dentro das gavetas de novo.
- Por que não, Helô?
- Porque um relacionamento a dois tem que ter muita coisa que a gente não tem.
- O que a gente não tem? A gente tem de tudo pra dar certo, Helô. Pelo amor de Deus! - Ele perguntou, se desesperando um pouco. Viu que Heloísa estava irredutível sem ele sequer saber o porquê.
- Deixa eu ver.. - Ela caminhou até ele, olhando para um ponto no teto, pensativa. - Eu não confio em você. Nem como pessoa, nem como marido. Principalmente como marido, o que é uma coisa que eu nunca vou perdoar e eu nunca vou conseguir recuperar, e que eu acho essencial para se ter com a pessoa que for meu futuro marido.
Stenio fechou os olhos sentido pelo que estava ouvindo e balançou a cabeça negativamente.
- Você sabe que eu sou louco por você, Helô. Eu não estaria tentando tanto se fosse pra..
- Pra meter mais chifre na minha cabeça? - Ela riu. - Me enganar mais? Me fazer mais ainda de trouxa? Mentir, enganar? Você também me quis muito da primeira vez e olha só onde acabamos, né.
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memories
Romancepré-endless: flashbacks da vida dos dois desde que se conheceram - leia depois de ler endless