11. um anjo do céu que trouxe pra mim

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1995

Heloísa acordou de madrugada com ela chorando. A pegou no berço.

- Calma, amor. Mamãe tá aqui. - Sussurrou acalmando. - Shhh.

Pegou a menina com delicadeza, e deu colo abraçando. Balançou ela um pouquinho. Sentiu a mão de Stenio em seu ombro, pegando a bebê para que ela pudesse se ajeitar na poltrona.

Ela nunca acordava ele. Sempre levantava primeiro, porque o berço ficava do lado dela, mas logo depois ele já se prontificava. Stenio beijou a cabeça da neném e ficou ninando ela, enquanto Heloísa se ajeitava na poltrona de amamentação. Abriu o sutiã, e posicionou a almofada no colo, cansada.
Ele colocou a bebê no colo dela, para amamentar. Desceu as escadas e foi para a cozinha preparar um chá de camomila para a esposa.

Quando subiu, viu Helô cochilando sentada com a neném no colo. Drica mamava olhando para a mãe de olhos arregalados, atenta. Stenio se sentou ao lado delas e ficou fazendo carinho na mão de Drica

- Você é um furacãozinho mesmo, ein amor? Tá derrubando até a delegada! - Ele riu baixo.

Esperou ela terminar de mamar, e deixou Helô descansando. Quando a menina terminou, ele a pegou do colo da esposa e lhe avisou que deveria ir deitar.
Helô foi para a cama depois de ajeitar a roupa, tomou seu chá e relaxou na cama, se ajeitando para dormir de novo.

Ficou assistindo enquanto Stenio balançava Drica no canto do quarto, distraído. Cantarolava para ela, e ficava deslizando a pontinha do indicador pelos traços de seu rosto, seguindo o vão entre sobrancelhas e seu narizinho.

- Um anjo do céu que trouxe pra mim.. É a mais boniiiitaaaa, a joia perfeitaaa.. Que é pra eu cuidar, que é pra eu amar. Gota cristalina, tem toda a inocência.. - Cantava ele num sussurro baixo, ninando a menina. Tinha um tom de voz muito afinado.

Helô sentiu seu coração aquecer. Tinha se imaginado mãe muitas vezes, porque isso era algo que ela queria. Em nenhum de seus sonhos tinha alguém como Stenio, e olha que ela costumava sonhar alto.

Assim que a bebê dormiu, ele lhe deu um beijo na testa. Deixou Drica no berço, e foi cuidar de Helô.

- Tudo bem? - Perguntou, num sussurro, passando a mão em seu ombro direito. Massageou ali, e Helô fechou os olhos relaxando.

- Muito cansativo ter um bebê. - Ela murmurou. - Mas tudo bem.

- Posso te ajudar com alguma coisa? - Ele perguntou, preocupado. - Me sinto mal de não poder fazer muita coisa.. - Ele sussurrava pra não acordar Drica. - Você meio que fica com toda a parte difícil.

- Amor.. Você me ajuda muito. Bota pra dormir, troca fralda, da banho.. Você só não faz o que não consegue fazer. Tipo amamentar. Relaxa. - Helô apoiou as mãos em seu rosto e lhe deu um selinho. - Você é demais, o melhor papai do mundo.

Ele sorriu leve.

- Vou tirar folga amanhã. - Declarou ele. - Assim você pode descansar durante o dia e eu fico com ela.

- Não precisa, Stenio. Está tudo certo, a gente tá ficando bem sem você. Eu juro!

- Eu sei. Mas se o meu trabalho me permite essa flexibilidade, não custa nada. Não duvido nada que você aguente.. Mas eu quero. Não porque você precisa, mas porque você não precisa passar por tudo isso, e ficar dormindo de pé. Eu to aqui. - Ele a puxou para deitar em seu peitoral.

Heloísa só aceitou. A proposta, e a puxada. Fechou os olhos e sentiu o polegar dele em sua bochecha esquerda, acariciando. O cheirinho de neném tomava conta do quarto, e ela podia sentir o perfume dele de pertinho no pijama também. Se sentiu segura, protegida, e completa.

- Você é o melhor marido do mundo. - Ela sussurrou, sonolenta. - Eu tenho tanta sorte por te ter..

- Vai tomar um banho, eu fico com ela. - Ele garantiu. Já havia tomado banho, se arrumado e enrolado a bebê em seu corpo com o wrap de malha preto.

- Tem certeza? - Heloísa ficou preocupada, olhando Drica. Stenio estava fazendo o jantar.

- Juro. Ela tá bem, pode ir. Eu sei fazer duas coisas ao mesmo tempo. - Ele piscou com o olho esquerdo, garantindo.

Ela hesitou por um momento. Beijou a testa da menina, deu um selinho nele, e correu pro quarto apressadamente.
Foi tomar um banho com toda a pressa do mundo. Agora ela entendia que a piada sobre não dormir, comer ou ter tempo pra tomar banho nos primeiros anos de vida do bebê não era brincadeira.

Aos poucos foi relaxando ao ver que tudo estava bem. Aproveitou pra ter um momento para si. Ficou na banheira por mais tempo do que o normal, relaxando.

Secou os cabelos, passou um pouco de maquiagem no rosto. Colocou um vestido confortável, que não fosse os comuns que sempre acabavam com manchas de vômito de bebê. Se olhou no espelho e suspirou aliviada.

- Prontinho - Ela sorriu leve ao se reconhecer no espelho novamente.

Espirrou seu perfume, e foi de encontro com os dois. Já estava morrendo de saudade.

Abraçou Stenio por trás.

- Morreram de saudade da mamãe? - Ela perguntou, cheirando o pescocinho da filha.

- Muito! - Stenio se virou para ela e a olhou de cima a baixo. - Meu Deus, tá lindona, delegada. Ocasião especial?? - Ele arregalou os olhos, apavorado, mesmo que tivesse mais do que certeza que não tinha esquecido nenhuma data importante. Ele tinha tudo anotado.

- Não.. Só aproveitei que você me ajudou muito hoje e que ela fica calminha calminha com você. Tava com saudade de me arrumar.

Stenio fez carinho no rosto de sua mulher com o polegar.

- A gente devia marcar um jantar romântico semana que vem! - Deu a ideia. - Te levo naquele seu restaurante favorito e a gente pode..

- Não! - Heloísa respondeu bem rápido, fazendo Stenio gargalhar. - Não to pronta pra ficar longe dela ainda.

- A gente chama alguém de confiança pra ficar com ela, amor. Minha sogra vai amar! Até mesmo minha mãe! A gente chama as duas. Todos os avós! Os 4, dane-se.

- Não consigo! - Heloísa resmungou, pegando a bebê do colo dele.

Drica estava muito sonolenta, então foi questão de alguns minutos em seu colo pra pegar no sono. Assim que Helô levantou o olhar, acordando do transe de ficar distraída olhando para a filha dormir - o que era agora uma obsessão dela - viu Stenio colocando a mesa de jantar com a louça chique para convidados.

- Alguém tá vindo aqui?

- Não. Mas como você sempre enrola esse nosso jantar.. Eu trouxe o jantar romântico aqui pra casa. - Declarou ele, acendendo velas.

- Você.. - Ela ficou sem palavras.

- Eu sei. Agora coloca ela no berço, liga a babá eletrônica, e vem ficar comigo. A gente merece uma noite só nossa. - Ele pediu, roubando alguns beijos de sua boca.

- Sim, senhor. - Ela sussurrou, completamente rendida, obedecendo os pedidos do marido.

Ele esperou ela voltar, e afastou a cadeira para que ela pudesse sentar. Ajustou a proximidade da cadeira à mesa, e se sentou ao lado dela, propondo um brinde com sua bebida sem álcool.

- Ao primeiro ano de vida! Que seja difícil, mas que a gente sobreviva.

- A gente tá sobrevivendo super! Somos uma dupla imbatível, amor.

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