16. que eles se amavam

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2003

Stenio havia ligado para ela um milhão de vezes. Heloísa só conseguiu atender quando chegou em casa, tarde da noite.

- Oi, o que foi?

- Oi. Nossa, não tava conseguindo falar com você, que desespero. - Stenio suspirou aliviado.

- Aconteceu alguma coisa?

- A Drica voltou muito mal do acampamento, acho que pegou chuva e tudo mais. Ta com uma tosse terrível, tendo febres muito altas. Aí levei pro hospital, já ta medicada, tudo certo, mas ela queria você.

Heloísa respirou fundo e fechou os olhos com força. Nessas horas ela ficava aliviada de Stenio ter a guarda da menina, e poder cuidar enquanto ela estava muito ocupada com trabalho. Imaginou como seria a Creusa tendo que pegar um táxi pra levar a filha ao médico, sem conseguir entrar em contato com a delegada. Respirou fundo, tranquila, porque sabia que Stenio era o melhor pai que Drica poderia ter.

- Eu to indo aí agora.

- Você não chegou agora do trabalho? Tá tudo bem se quiser só vir amanhã.. Ela tá bem, de verdade. De qualquer forma, já tá dormindo e..

- Estou indo aí agora. - Repetiu ela novamente.

Helô tratou de tomar um banho correndo, pra tirar todo o cansaço daquele dia infernal. Jogou um vestido longo e solto no corpo, e secou o cabelo rápido. Avisou Creusa que estava indo pra casa de Stenio e não achava que ia voltar nem tão cedo porque a filha estava doente.

Pegou o carro e dirigiu no limite da velocidade, querendo muito ultrapassá-lo para chegar mais rápido lá.
Assim que chegou, o porteiro já foi liberando a entrada dela. Ele a conhecia como a esposa do doutor Stenio Alencar, do bloco 3.

Stenio abriu a porta para ela assim que ouviu a batidinha.

- Oh, Helô. Como você chegou rápido. - Ele a beijou na bochecha, e ela foi logo entrando no apartamento. - Ela tá lá no meu quarto, dormindo. Pode ir. - Ele fez um gesto para ela ir ficando a vontade, como sempre, sem precisar de cerimônias para transitar ali.

Heloísa suspirou aliviada e tirou os saltos, subindo as escadas do apartamento com cuidado, sem fazer barulho. Se enfiou na cama junto com Drica, e a pegou nos braços envolvendo a criança.
A menina, que tinha o sono pesado, continuou dormindo capotada. Ainda estava quente, meio febril.

Aninhou a menina em seus braços e ficou ali debaixo dos cobertores com ela, deitou a cabeça na dela e permaneceu, agora muito mais tranquila.

Stenio entrou no quarto um tempo depois, com uma bandeja em mãos. Heloísa levantou o rosto para ver o que ele estava fazendo. Ele deixou a bandeja na beira da cama, com um prato de carbonara, uma flor e um copo de suco para ela. Heloísa o encarou enquanto ele ia até o guarda-roupa dele. Pegou a maior camisa que ele tinha, uma que ficava bem folgada no corpo dela, parecendo um pequeno vestido.
Deixou ao lado da bandeja.

Helô se desvencilhou de Drica e foi até ele.

- Que isso? - Sussurrou.

- Você estava trabalhando, aposto que não comeu nada desde o almoço. Se quiser mais, tem lá na cozinha.. Ou me avisa que eu pego pra você, vou dormir no quarto dela.

Heloísa pegou a camisa e mostrou pra ele.

- E isso aqui?

- Pra você dormir confortável. - Ele continuou sussurrando. - Se precisar de mim, eu to na sala.

- Pera aí. - Heloísa segurou o braço dele.

Sentiu uma corrente elétrica passar pelo corpo assim que o tocou. Engoliu a seco. Era a primeira vez que ficavam tão próximos desde o divórcio, que já havia acontecido há praticamente um ano.

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