27. eu te odeio

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- Você tem alguma noção de como eu fiquei preocupado? - Disse ele entrando na sala dela.

Heloísa lançou um olhar fatal para Jô e Barros, que saíram rapidinho da sala compartilhada, fechando a porta.

- Você acha que tá aonde, pra chegar assim? Isso aqui é meu trabalho, meu querido.

- Heloísa, onde já se viu não me falar onde você estava? Se tava tudo bem? Dar um sinal de fumaça, que fosse.

- Eu te respondi.

- Porra, não fode. - Ele a encarou. - Aquilo? Você acha que aquilo era mensagem a se mandar?

Heloísa se levantou num impulso, batendo na própria mesa.

- Você NÃO é meu marido, NÃO é nada meu, e você se confundiu muito se achou que eu estar de hóspede na sua casa te dava direito de questionar onde eu estava e com quem eu estava. Você não tem que saber da minha vida.

Stenio ficou olhando para ela.

- É inacreditável. Eu não fiz nada. - Ele murmurou, pensativo. - Porque você sabe, eu sou ansioso. E eu passei as últimas horas.. Digo, o último dia inteiro, repassando na minha cabeça o que eu fiz de errado. E eu cheguei a conclusão de que a resposta é: nada. Eu não fiz nada errado, Heloísa. Por que você tá me tratando assim? - A expressão dele era de dor e chateação. Stenio era muito sensível s era notório quando ele estava mal.

As olheiras ficavam fundas, ele falava num tom ansioso ao invés do calmo de sempre, as mãos e pernas ficavam inquietas.

- Olha só, isso já foi longe demais. Por algum motivo a obra tá atrasada ainda, mas a partir de agora eu fico na casa da Maitê. Já deu isso aqui - Ela fez um sinal com o indicador e o dedo médio, entre ela e ele, para indicar que falava da relação deles. - Já deu o que tinha que dar.

- O que é, ein? O que te assusta? Que a gente tá melhor agora? Que você percebeu que não vai arranjar outro melhor? Tá com medo de ser amada, Heloísa? Tratada bem? De ficar com o amor da sua vida, de uma vez por todas?

Heloísa gargalhou.

- Da licença, eu tenho que trabalhar. - Ela se sentou, puxando alguns papéis que estavam empilhados na frente dela. - Não tenho tempo pros seus devaneios.

Stenio ficou parado olhando para ela, tentando absorver. Sentiu seus olhos lacrimejarem olhando para ela. Era tão linda. E ele realmente havia perdido ela para sempre.

- Me manda o endereço da Maitê que eu deixo suas coisas lá. - Ele declarou, saindo da sala dela e batendo a porta trás de si.

Jô e Barros voltaram depois de alguns minutos, e se depararam com uma Heloísa emotiva, fingindo que estava bem.

- Doutora.. A gente tem aquele interrogatório agora.. - Barros puxou assunto, delicadamente.

- Beleza. - Ela fingiu uma tosse. - Só me dá um minutinho pra eu ir ao banheiro, a gente já vai. - Pediu ela num tom baixo e calmo, completamente oposto ao que ela estava antes de Stenio aparecer.

Ela passou pelos colegas se direcionando ao banheiro, e se trancou ali. Se encarou no espelho, respirando fundo.

- Tu ama ele, que merda Heloísa. Merda! - Ela reclamou consigo mesma, ligando a torneira no mais forte possível. Encheu as mãos de água, e jogou água no rosto, respirando fundo. Tentou se acalmar, porque sentia o coração acelerado. Estava com o choro entalado na garganta, mas precisava trabalhar.

Respirou fundo três vezes, controlando o tempo que inspirava e expirava. Pegou algumas folhas de papel e deu batidinhas no rosto, secando. Se olhou no espelho, e ensaiou um sorriso. Saiu do banheiro assim, torcendo para que fosse convincente.

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