Aquela cara de bunda

184 44 71
                                    

Mitsuya

- Não posso fazer isso, pai. - Reclamo, descendo as escadas, após ler todo o roteiro.

- Claro que pode. - Vejo-o fechando uma mala.

- O que está fazendo?

- As malas.

- Estou vendo. Para onde vai? - Me aproximo dele e jogo a papelada em cima da mesa.

- Embora. Talvez, comprar um cigarro. - Ele ri da própria piada.

Mas eu não.

E então ele percebe que quero uma explicação.

- Filho, você leu o roteiro, seu pai lhe deixou enquanto era muito novo. Não posso ficar aqui. Vou viajar para Massachusetts e preparar sua papelada que, só será finalizada, com o sucesso do seu teste.

- Pai, quer mesmo envolver uma garota nisso? Quer dizer, ela pode se apaixonar de verdade por mim... - Me jogo no sofá, implorando mentalmente para ele mudar de ideia.

- Pode acreditar, filho. Ela não vai. Por que acha que escolhi a garota? Aquela adolescente é impossível. - Ele se senta ao meu lado.

- Não acredito que vou fazer isso. - Murmuro olhando para ele.

- Foi para isso que eu te criei. Você viveu fazendo isso. E, agora que vai pegar outro papel romântico, qual é a regra número 1?

- Não se apegar. Foco no objetivo.

- E qual é o seu objetivo, Mitsuya?

- Entrar em Harvard e seguir seus passos.

- Ótimo, filho. - Ele beija minha testa. - Mandei seu currículo para o mesmo bar que a garota trabalha. Conheça ela e me diga se vai realmente ser fácil.

Ele levanta e empurra suas malas até a porta.

- Seu trabalho inicia hoje, não vou te sustentar. É bom aprender a administrar seu dinheiro, garotão.

Ele sai por aquela porta e o que resta é o silêncio e minha enorme vontade de não fazer isso.

Mas algo em mim não consegue rejeitar sua ordem.

Até porque, meu real objetivo não é entrar em Harvard e seguir seus passos, papai.

...

Abro o guarda-roupa que ele preparou com minhas novas roupas. Acabo de sair do banho e tudo ali dentro é tão repetitivo.

Jaquetas de couro preta. Calças pretas. Regatas brancas ou camisas pretas.

Vou me vestir como um badboy ou vou para um velório?

Acabo rindo sozinho.

Não porque acho engraçado. E sim porque acho tudo isso surreal.

Mas, já está na hora de sair da fase de negação.

Qual é, Mitsuya? Você já transou com sua professora no primeiro ano do ensino médio. Ela não é a primeira garota que tem que conquistar.

Respiro fundo e me visto. Pego o capacete, as chaves da moto e saio de casa.

...

Antes de ir ao bar, decidi encorporar o personagem.

Passei num studio e fiz algumas tatuagens, nada que vá me fazer sentir arrependimento. Nada exagerado também.

Estaciono a moto e adentro bar.

Pista de dança. Pessoas bebendo. Casais bebendo. Adolescente se beijando pelos cantos. Um balcão de bebidas e ela.

Assim que a avisto, meu coração bate forte. Ela é tão linda quanto nas fotos.

Como devo chegar nela? "Oi, docinho. Trabalha aqui?"

Eu sou idiota? Está óbvio que ela trabalha aqui.

Ok.

Improvise, Mitsuya.

Me movo até o balcão e então jogo um papel para ela que diz que sou o novo funcionário.

Ela o pega e lê.

- Então você vai substituir o Bob? Ok, troque-se no vestiário ali atrás. - Ela me entrega o uniforme.

Sinto que deveria falar algo para ela, mas ela sequer me olhou. Está focada no coquetel quase pronto em suas mãos e ouvindo algo tão alto em seu headphones quanto a música do bar.

Só pego o uniforme e vou até o vestiário.

Qual é... Tenho a noite toda. Ela, com certeza, não tem sempre essa cara de bunda.

...

BADBOY?Onde histórias criam vida. Descubra agora